- O parto Natural e humanizado de verdade - A maneira segura e emocionante de ajudar mulheres trazer crianças ao mundo

sexta-feira, 10 de julho de 2009

“Parto” Cesáreo

O que se esconde por trás da expressão “Parto cesáreo”?

Para compreender isto, primeiro temos que esmiuçar ambas as palavras, isoladamente.

Há 50 anos, se fosse perguntado a uma mulher o que a parteira faria se o parto não saísse como o planejado, certamente ela não diria que faria uma cesariana. Ela simplesmente confiaria que tudo sairia bem e teria fé que Deus guiariria as mãos de sua parteira.
Simples assim.

Claro que não podemos exigir que uma sociedade cega dessas, descrente de tudo que não se possa ver, leve isto em consideração. Mas é necessário refletir sobre o porquê a história das parteiras ser de tanto sucesso e porquê a mortalidade materno-infantil não caiu com o advento da dita “tecnologia”. Que, por sinal, veio para "salvar" as poucas que a natureza não conseguia e, ao invés disso, foi utilizada indiscriminadamente, o que acarretou sérios problemas que todos já conhecemos. Então que segurança é essa que não dá resultados? A segurança não deveria advir dos próprios resultados?

Isto porque a conversa até entao é somente bem estar físico, porque se houver uma avaliação integral, incluindo a humanização,a comparação é descrepante.

Então para curar a ferida de uma cesárea e de tudo que ela implica, junto com a cicatriz dão também o rótulo “Parto cesáreo” para que todos sem sintam mais confortáveis dentro da frustração. A mulher porque desejou, o médico porque não correspondeu.

Parto é processo. Parto é como se chamava há milênios e cirurgia é outra coisa. As pessoas não são mais nem menos por terem nascido ou se submetido a uma cesariana, mas não é um nome errado para o procedimento que vai curar a ferida.
Cesariana é uma classificação para uma operação, um procedimento médico, uma medida extrema para uma situação extrema. Parto em hip´´otese alguma é isso.

Digo e repito: as cesáreas são importantes não sô para salvarem vidas fisicamente. Reconhecemos a importância de cesariana até quando não existe um risco de vida claro. Quem vive no campo de batalha sabe disso.

A questão é que as feridas não são curadas com palavras amenizadoras, mas com reflexões e atitudes. Colocar panos quentes jamais resolverão as questões pessoais que uma ferida dolorida implica.

Não existe “parto cesáreo” tanto quanto não existe o cultuado jargão “menos mãe”. Existem, sim, pessoas que passaram por cirurgias - por desejo, necessidade, equívoco ou enganação - para terem seus filhos. Mas isso foi o que a vida ofereceu naquele momento, por alguma razão. Razão individual e intransferível. Ficar triste com quem aponta um problema não é suloção.

Não fiquem magoadas. São só palavras que precisam ser bem colocadas...
Não recuse informação, oportunidade nem a mudança.
Evite preconceitos, panos quentes e autocomiseração. É o espelho nu que nos mostra a verdade, não a pintura de uma bela paisagem.
O conto de fadas acabou, mas a culpa não é de ninguém.
A cura de uma cesárea não é só física, mas nós mulheres podemos lidar com isso e superar. Ainda mais depois que nos tornamos mães!

domingo, 5 de julho de 2009

De Cócoras

Para quem está acostumado, isso pode não ter o valor que tem para uma romântica, quase “novata”, como eu... Mas levando em consideração que 99% dos profissionais que assistem partos jamais fez algo parecido, até que estamos indo bem...

Há poucas horas ajudei uma jovem mulher a ter seu primeiro filho... Na cama da maternidade, acocorada, ela abriu passagem para ele finalmente nascer...

Poderia ter sido mais natural, mas como a internação foi um pouco prematura, pelo menos teve poucas intervenções: ocitocina e ruptura de bolsa já com o bebê descendo bem, mas, foi como foi e, mesmo assim, foi lindo...

Já estava com uns 8 de dilatação, quando “Renata” tomou seu último banho para aliviar as contrações, mas não parava de conversar. Me pediu para falar com ela e até a contar piada, porque assim a “dor não vinha forte”. Sua mãe, apenas 16 anos mais velha e com 3 partos traumáticos, ajudava como poucas vezes vi um acompanhante ajudar. Tão calma quanto a filha, ansiosa e paradoxalmente paciente pela chegada de seu primeiro neto.

Apaguei as luzes e enquanto ajudava, resolvi contemplar a cena. Renata se deitava apoiada em sua mãe, hora no chão, hora na cama e nos apertava forte.
Aqueles dois rostos coladinhos formavam uma bela silhueta. Renata levantava a cabeça e a deitava pra trás em cada contração. Queria gritar, mas eu pedia apenas que respirasse fundo e longo, lembrando que a contração já estava passando e a dor parecia assim diminuir. Era muito claro que se entrasse na onda das contrações, a dor amenizaria.

Entre silêncios e palavras de conforto, ela se deitou para avaliarmos. O bebê tinha descido mais. As luzes continuavam apagadas.

Pedi a Renata, há muito entorpecida de ocitocina, que viesse para os pés da cama e ficasse de cócoras, apoiada nos ferros. Ela temia o aumento da dor, mas lhe assegurei que o bebê viria, assim, mais fácil.

Ela respirava profundamente, quando começou a fazer força para baixo. Sua mãe, a doula perfeita permanecia calma. Renata dizia que havia algo saindo e toquei a cabeça do Bebê já se anunciando.

Renata ficou praticamente em quatro apoios e eu fui para trás para assistir o bebê. Com apenas uma luva em minhas mãos, vi sair a cabecinha. Puxei levemente e a senti presa. Dedilhei todo o pescoço e encontrei uma circular frouxa e a desfiz. Enquanto a mãe tirava fotos e chamava a equipe.

Mais uma contração e... Uma mãozinha junto a cabeça. Menino danado... Saiu lenta e facilmente. Chorou antes que suas pernas estivessem do lado de cá. Puxei mais um pouquinho e veio completamente... Todos então chegaram e que bela cena encontraram...

Eu bem-recebia o bebê com palavras que costumo entoar a todos que vêm pelas minhas mãos.

A mãe, agora avó, chorava contemplando “Que lindo!...” e eu dizia à Renata para deitar para levarmos o bebê até seu colo pela primeira vez. Só então o cordão foi cortado, uns 5 minutos após o nascimento...

A obstetra ria porque sabia que eu sempre quis conseguir fazer um parto assim e nunca dava. A pediatra é que não sei se gostou muito, mas prestou rapidamente os primeiros cuidados deixou o namoro mãe-filho começar a acontecer.

A placenta veio quase espontaneamente, depois de uma leve massagem, o que nem precisaria.

Pouquíssima laceração superior, inferior zero. Numa sutura rápida, durante a primeira mamada, selou-se aquela união.

As coisas demoraram muito mais do que pude descrever aqui. Partejar é antes de tudo ter paciência. Mas acredito que se deixarmos o milagre da vida acontecer, sempre atentos, ele acontece.

As fotos ficaram lindas e a Renata jurou que vai me dar!
Fiquei muito feliz por ter podido ajudar aquela, agora, mulher e aquele bebê a nascerem.
Dei-lhe um abraço, os parabéns e ela agradeceu. Sua mãe me disse “Você é uma escolhida de Deus”...

Ok, todos nós somos. Mas é preciso decisão e fé para fazermos um destino diferente.

Eles já me visitaram