- O parto Natural e humanizado de verdade - A maneira segura e emocionante de ajudar mulheres trazer crianças ao mundo

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Um Insulto Sob Medida...


Eu e muitas outras ativistas, chegamos a um patamar "obstétrico", onde não é mais possivel nos expor a obstetrícia tradicional. Ninguem vai me tocar, me cortar, nem me violar nas partes mais intimas e sagradas do meu corpo... A menos que eu esteja sedada ou morta.
Minha luta nao é mais por mim. Nem mesmo é pelas mulheres da minha familia, pois todas sabem como as coisas são e elas que decidam por si. Nao estou aqui para salvar ninguem. No máximo, estou para ajudar quem quer mudar seu destino. Mas o caminho a percorrer é árduo e intransferível.
Minha luta particular é pela humanidade como um todo. Em vários sentidos. E no nível micro, me policiar para cada vez mais deixar o parto acontecer sem meter meu mãozão no meio.
Hoje ja nao me ofendo pessoalmente quando uma mulher diz que quer parir e termina numa cesarea salvadora. Como Francisco de Assis, peço para compreender mais do que ser compreendida....
Mas no último mês, a obstetrícia me feriu como NUNCA antes.
Um fato em especial, machucou meu coração, como eu nao imaginava que poderia...
Um amigo de infância aguardava seu primeiro filho feliz e ansioso, após ja ter perdido um bebê 2 anos antes, já quase a termo. Encontrei com ele na praia onde crescemos, quando a esposa estava em trabalho de parto, já no hospital. Ele mora numa ilha, então veio antes por lá nao ter "recursos". Desejei-lhes uma boa hora, mesmo sabendo que ele é homem, e parti.
Na semana seguinte, quando o encontrei, ele estava empolgado, mostrando a foto pouco nítida de seu menino tirada do celular. Linda criança, de fato. Nao pude deixar de perguntar... Maldita intimidade.
- Foi normal?
- Foi.......................................................
Pra que fui perguntar...
- Estragaram minha mulher, Di...
Ai...
- Ela ta morrendo de dor, se perguntando se a vai voltar ao normal... Ficou muito feio, tadinha... Cortaram ela toda por baixo... Pra todo lado.... Precisa mesmo disso?....
Enquanto eu via os olhos daquele brutamontes com quem cresci - e que sabe de verdade quem sou - se inundarem de lágrimas, me envergonhei por fazer parte dessa mesma obstetricia nojenta... Que não apenas machuca, mas fere profundamente, estupra e tira a dignidade das nossas mulheres... E eu nada posso fazer.
-Não... Não precisa cortar pra todo lado, nao, meu amigo.
O que mais eu poderia dizer, se eu senti toda sua dor?
Ali eu não precisava ser ética. Estava em família. Comecei a dizer que ele poderia processar e que aquilo não podia ficar assim... E apesar dele concordar, vi que tinha que tomar muito cuidado para não feri-lo ainda mais.
De um parto, esse casal terá que RECONSTRUIR sua vida sexual, provavelmente com muita dor, estranheza e até vergonha. Não pude deixar de me colocar no lugar dela, porque parecia que a violentada era eu.
Ao enxugar as lagrimas, ele dizia "Levo mais fé numa parteira do que nesses caras"... Mesmo com todo o preconceito enraizado, ele sabia que devia existir alguma alternativa menos humilhante do que a que sua esposa, seu amor, fora submetida.
Logo nos recuperamos do peso dessa realidade, falando sobre a amamentação, o orgulho do filho e meu assunto igualmente preferido: trilhas. Na verdade, eu fiz um esforço pessoal pra sair daquele assunto, porque naquele momento eu vi o quão importente eu sou. O quanto nossas palavras e dedicação sao limitadas.
Quase todas as minhas amigas fizeram cesareas com maquinha fina ou "sofreram" partos vaginais excruciantes.
Não pude deixar de pensar o quão refem nós somos desses dois modelos mediocres... Ou uma cesarea limpinha ou um parto Anormal. Claro que tem que existir algo por detras do arco íris...
Quando falo de parto gostoso, sem dor, libertador e ate orgásmico, essas mulheres me olham como uma louca que fumou maconha demais, ainda que eu seja contra qualquer droga. Nunca deixarei de esbravejar sobre as diferenças, mas, cara, eu nao vou mudar o mundo. Nem a obstetrícia.
Mas juro que não quero jamais ter que escutar alguem descrever aquelas violações de direitos humanos com tanta riqueza de detalhes nem olhar aqueles olhos - que conheço tão bem - se avermelharem até transbordar.
Não... Se existe um Deus, peço que não me faça mais passar por isto.
Ele estava ansioso pra ir embora o quanto antes pro seu paraíso pessoal e esquecer a dilaceração física e a humilhação pessoal que destruiu um bom pedaço do seu coração.
E eu....
Eu fiquei aqui... Tentando entender... Tentando contabilizar quantos anos e quantas mulheres terão que ser machucadas até que nossa realidade se transforme.


Um comentário:

Vivi disse...

Olá!
Eu fiquei muito horrorizada com essa história. Eu admiro suas opiniões e coragem. Achei seu blog por acaso a quase um ano atrás e me encantei com seu esforço e com o esforço de outras mulheres para difundirem a ideia do parto humanizado e de como as mulheres são mal informadas sobre o parto, no geral, hoje em dia. Não tenho filhos mas penso em tê-los daqui há uns anos e, com certeza, quero o mínimo de interferência externa quando a hora do parto chegar.

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