- O parto Natural e humanizado de verdade - A maneira segura e emocionante de ajudar mulheres trazer crianças ao mundo

terça-feira, 30 de novembro de 2010

A Parteira


Sempre no meio da humanização, conheci todo tipo de parteiro urbano, mas muito poucos encontros com parteiras tradicionais e todo o glamour e misticismo que as acompanha.

Desta vez, fui sabendo que ela estaria lá. A parteira que não gosta de ser chamada de índia, tinha 81 anos e uma saúde tratada à chá de mato e muito movimento.

Ela era jovem, bonita e tinha uma coisa muito feminina e maternal que vi em duas ou três mulheres em toda minha vida. O tipo de mulher que me faz querer deitar no colo pra me sentir segura como nem posso descrever.

Fantante, me contava de como sua mãe morreu, fugindo dos homens que a queria prender numa casa, tendo sido encontrada mais tarde abraçada a flores, totalmente conectada à terra e à Terra.

Sobre os partos, me deu todos os detalhes. Nossa dificuldade de compreensão da linguagem da outra foi superada. Enquanto alisava a toalha de mesa, me contava suas historias, suas fomentações, suas rezas, sua fé inabalável, seus segredos e sua incompreensão inocente sobre o modo como vivemos.

Levei vídeo de um parto hospitalar e de uma cesariana para saber in natura a impressão que esses dois eventos causam a alguém tão ligado a natureza, como parte dela. E supreendeu minhas expectativas.

Seu rosto marcado mostrava a dor em ver aquelas cenas genuinamente agressivas, mas já tão naturais para nós. E neste momento fez todo sentido que as mulheres morressem de medo de parto, as cenas eram de fato assustadoras. Gritos, movimentos bruscos, posições anti-naturais, ordens, cortes, injeções... Assim tem que doer.

Ela murmurava chocada “Coitadinha da mulher... Olha o neném, não pode fazer isso... Que dor que ela ta sentindo... Não é desse jeito que pega o menino”...
E depois assistiu meus partos na água e na cama tranqüilamente....

Ela dizia que meu trabalho em divulgar isto era muito importante, pois as mulheres não imaginavam um parto assim ou como seria uma cesariana. Ela tomou um susto quando eu disse que muitas sabiam como era e mesmo assim escolhiam a cirurgia. Quem, alem delas, pode realmente entender?...

Quando perguntei o que ela fazia quando um parto demorava eu tive a mais simples das respostas...:

- Capaz que parto demora!
- A senhora nunca passou uma noite inteira ao lado de uma mulher em trabalho de parto?
- Capaz uma noite inteira! Depois do parto é que demora que a gente vai cuidar do bebê, fazer uma canja, ajeitar a casa...”
Que tapa de luva na minha cara orgulhosa pelos longos partos assistidos!...
- E como a senhora faz com a dor?
- Teve uma vez que uma sentiu dor e disse que ia morrer. Aí eu contei uma piada, ela riu e o neném saiu!”

Em, sei lá, 40 anos aparando bebes, ela não conheceu a morte de nenhuma criança ou mãe, não conheceu a dor do parto, não conheceu um parto demorado, muito menos ocitocina, episiotomia, misoprostol, gestação prolongada, aminiorrexe prematura, ruptura uterina, maformação, mecônio espesso, UTI neonatal nem cesariana. Que currículo!

E há alguns anos para azar de todos, foi quase oficialmente proibida de partejar, porque a tecnologia hospitalar chegou à cidade e com poucos partos por mês, não justificaria uma maternidade se ela continuasse. Sem comentários.

Anotei as receitas de como fazer uma mulher parir sem demora e sem dor. Voltei de lá apaixonada e com a promessa de retornar e com um trato (quase ameaça) fechado: se eu engravidar de novo, vou para lá e se ela não “fizer” meu parto, eu ganho sozinha. Seduzida ela respondeu com olhos brilhantes que sim...

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A Gestação e o Parto de um Homem

Foi neta pedra em Itatiaia que escolhemos saber que a Gaia já estava morava em mim

Por Sandro Domingues. O meu segundo parto contado pelo meu marido.

Ela disse: “Está atrasada”.
E eu, deitado de costas para ela, coloquei levemente a mão sobre seu ventre, senti claramente e pensei: “Caramba! Está aqui!”.

A confirmação (nem precisava) foi lida alguns dias depois naqueles dois risquinhos vermelhos do teste mergulhado no potinho de xixi. Estávamos nós três (Eu, DyDy e Klaus) e mais ninguém, acompanhados pela natureza exuberante da Mata Atlântica. Sentados à nossa “Pedra Sagrada”, colocada pela divindade às margens daquele rio transparente como o ventre daquela mãe, pois aquele bebê estava tão visível para mim quanto o fundo daquele curso d´água.

Ninguém mais sabia, ninguém mais soube, por algum tempo. Guardamos nosso segredinho para ser curtido sem interferências, relembrado a cada minuto daqueles deliciosos dias. Imprimindo em nossos rostos o enigmático sorriso bobo que ninguém conseguia decifrar.

O tempo passando, a barriga crescendo e eu conversando com aquela criaturinha por aquele microfone em formato de umbigo. Assistíamos o constante deslizar de seus membros elevando graciosas ondulações abdominais. A barriga daquela mamãe transformava-se em um imenso relevo Braille que não cansávamos de ler com as mãos.

Saber o sexo? Na, ne, ni, na, Não! Só quando nascer. A família morrendo de curiosidade, mas a certeza só na hora do parto. Sentíamos claramente a energia feminina daquele bebezinho, mas jamais estragaríamos a surpresa conhecendo o presente antes de abrir o embrulho. Na escolha do nome nem pensamos em masculinos e foi por Aglaia que decidimos. Ela seria tão bela e gloriosa quanto o significado de sua graça.

Certo dia, eu, deitado sem peso por cima daquele barrigão, percebendo o momento, disse para a mulher que estava por baixo do barrigão: “Do jeito que eu fiz, eu vou tirar”. E começamos a “namorar” (entre aspas mesmo), calma e tranqüilamente. Se usei a energia sexual para colocar aquele bebê lá dentro, então a usaria para tirá-lo de lá. Eu jamais deixaria outra pessoa terminar na maca o que eu comecei na cama. Se eu soube colocar o bebê lá entro, eu tenho que saber tirar. Não poderia permitir que ela saísse do ninho para ser cortada em um hospital, cercada de homens vestidos de astronauta, munidos com seus instrumentos cortantes, inoculando suas químicas industriais. Como poderia expor a um refletor aqueles olhinhos que nunca viram a luz? Tais artifícios podem ajudar, mas o abuso tornou-se rotina e trouxe danos.

Absurdos à parte (daria um livro), retomo o assunto. Ao terminarmos, iniciaram-se leves contrações. Era de tardinha, tiramos um cochilo e depois fomos caminhar. Voltamos para a casa e mais à noite fomos passear na pracinha da cidade. Contando os intervalos das contrações, a bolsa rompeu-se (21h50) e corremos para a casa. Às 23h30 a enfermeira (obstetra) chegou, pois eu não estava preparado para dar pontos caso houvesse laceração (risos), mas não foi preciso.

Em meio a gemidos e contorções Dielly exclama: “Não agüento mais, tem que nascer até meia noite”. Ao que respondi: “Agora deixe comigo”. Esfreguei as mãos e imaginando uma luz dourada entre as mesmas, aproximei-as das costas daquela mãe ansiosa, fazendo aquele foco brilhante de energia penetrar-lhe o corpo. Imediatamente ela exclamou assustada: “Entrou uma coisa aqui, tem uma coisa aqui dentro”. Algo que ela em seguida definiu com a frase: “É uma Vontade de Nascer”.

A partir de então, eu tinha muito mais certeza de tudo o que ocorria no corpo dela e do momento certo em que as coisas aconteceriam. Logo coloquei as mãos sobre sua barriga e sem tocá-la trouxe a cabeça do bebê até a portinha de saída. Ela coroou. Não adiantava insistir, eu sabia que era hora de descansar. Paramos para relaxar e, alguns minutos depois, coloquei novamente as mãos enviando-lhe mais daquilo que eu sabia fazer de melhor naquele momento. Novamente, sem tocar, comecei a trazer o bebezinho para o lado de fora. 23h57m. Três circulares de cordão, sem problemas. Uma no pescoço, uma na cintura e outra na perna.

Do ventre para minhas mãos e delas para o seio. Prontamente a enfermeira ligou o aquecedor para deixar tudo mais agradável ao bebê. Olhávamos pela primeira vez seu rostinho, piscando vagarosamente os olhinhos, deitada sobre o seio, estabilizando sua respiração, quando delicadamente a enfermeira deu-me a tesoura para cortar o cordão. Segurei-o pedindo permissão às duas para separá-las e o fiz.

Na madrugada, a chuva pela janela, imagem inesquecível. Recordo-me claramente de cada detalhe. Pela manhã, todos – menos eu – dormiam no chão da sala, palco do espetáculo ocorrido na véspera. Tudo acontecera de forma perfeitamente natural, sem nenhuma intervenção sequer. Fomos agraciados com a generosidade da natureza e a perfeição do parto natural que qualquer animal, mamífero ou não, merece.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Parto Domiciliar – 10 perguntas para Dydy

Dielly Miranda de Souza, mais conhecida como Dydy, é Enfermeira obstetra, uma pessoa que admiro profundamente e convidei-a para falar sobre sua experiência com seus dois partos domiciliares que motivaram seu caminho dentro da obstetrícia, ajudando outras mulheres a viverem seus partos de maneira intensa, romântica e segura. (Ana Cláudia bessa)


-Como foi a decisão por seu primeiro parto domiciliar?

Tinha 21 anos e havia acabado de me formar na faculdade de enfermagem, quando engravidei. Não tinha pensando em ter um parto domiciliar, mas queria muito parir com uma colega enfermeira. Quando encontrei a Helô, ela pediu que eu pensasse sobre esta possibilidade e eu sequer hesitei “Em casa? Tá bom.”

-Mas qual seria a grande diferença entre um parto domiciliar e um parto hospitalar humanizado?

Por mais humanizado que seja um parto hospitalar, não podemos esquecer que ele acontece dentro de uma instituição e que tem rotinas a serem seguidas. Muitas maternidades que se dizem humanizadas, não são.
Existem alguns detalhes básicos para serem considerados minimamente humanizados: liberar a dieta durante o trabalho de parto; oferecer analgesia natural como bola, banho, posiçoes alternativas; abandonar a episiotomia de rotina; indução de parto, incentivar alojamento conjunto e mamada logo após o parto…
Isso tudo parece muito simples, mas poucas maternidade tem todas estas atitudes.
E mesmo nestas, há normalmente varias pessoas na sala, os partos acontecem numa mesa ginecologica, fazem aspiração de rotina no bebê, vacinam logo que nascem…
Eu queria ser dona do meu parto. Poder gritar se desse vontade (e não deu), ter pessoas da familia perto ou até mesmo ninguém, trocar carícias com meu marido e viver um evento familiar, não médico.

-Como eram as histórias de parto que voce escutava?

Eu carregava um estigma muito forte familiar, em especial de minha mãe, que sofreu demais em seus partos institucionais altamente medicalizados, cheios de intervenção, com privacidade, segurança e conforto zero.
Praticaram todas as intervençoes possiveis e imaginaveis só para ensinar aos estudantes “como fazer partos”. Soro, kristeller (empurrar a barriga), deitada, episiotomia (corte na vagina), forceps, dieta zero (incluindo sede), varios academicos na sala de parto, afastamento dos bebês por dias e quando tudo terminou, não davam nada para comer porque já era tarde. Sozinha, exausta, com fome e sem bebê. Seus dois partos foram tristes assim.
Fora isso, minha avó tinha uma historia muito legal em seus 5 partos, alguns domiciliares, e o último, uma cesárea, ficou 4 meses internada em coma por reação a anestesia.
Quando eu era adolescente, imaginava que cesárea fosse uma libertação para todo o sofrimento do parto.
Tive que descobrir por mim mesma que parto, mesmo quando dói, pode ser bom, porque traz como nada mais na vida, uma vivência que jamais tive a oportunidade de ter de outra forma.
Mas falta aos profissionais, de maneira geral, esta percepção de que o parto não é legal só fisicamente. Aliás esta a menor das vantagens. O parto aproxima mãe e filho, por causa dos hormônios liberados, e amadurece espiritualmente de uma maneira rápida e forte.

-Como foram seus partos?

O primeiro foi difícil por vários motivos. Estava num momento complicado da minha vida. Além das histórias de parto de minha mãe, vieram à tona muitas questões pessoais que prejudicaram a evolução do parto, tornando-o o mais longo da história de minha parteira.
Acredito piamente que meu emocional contribuiu de maneira negativa para meu parto, mas o parto contribuiu de maneira incisivamente positiva para minha vida.Dormi menina e acordei mulher, como costumo dizer.
Tive rachaduras muito dolorosas no seio, mas aguentei firme, porque via que, se tinha passado pelo parto, poderia aguentar qualquer coisa. E o amamentei por quase 5 anos. Isto me uniu muito ao meu filho, Klauss, hoje com quase 7 anos. Ele nasceu na água, após quase um dia de trabalho de parto e com uma circular de cordão, na presença do pai dele e de minha mãe, Helo e Marilanda, no apartamento onde morava em Macaé. O segundo aconteceu há 14 meses, após uma gravidez planejada, extremamente saudável, quando eu já cursava especializaçao em obstetricia. Hoje brinco que ela fazia partos comigo desde antes de nascer. Eu não sabia o sexo, mas acreditavamos que fosse menina e só conseguiamos escolher nomes femininos e ele veio rapido, Aglaia, uma deusa grega, bela e gloriosa. Perfeito.
Só me dei conta que estava em Trabalho de parto menos de 2 horas antes dela nascer. Liguei pra Helô e achei um exagero quando ela disse que viria. Logo a bolsa rompeu e fomos pra casa. Queria que o klauss assistisse, mas ele dormiu. Tomei banho, vomitei, bebi muita agua. A enfermeira chegou quando faltavam uns 40 minutos para o nascimento, eu estava com menos de 5 de dilatação. Meu marido dizia que iria tira-la do mesmo jeito que a havia colocado dentro de mim. Em meia hora dilatei completamente, ela me deu um copo de vinho pra relaxar e logo minha princesa veio. Meu marido a trouxe para meus braços e, como estava escuro, coloquei a mão na vagina dela “É uma menina!”
Acordamos o irmão para conhecer a ” Bochechinha”, como ele a chamava. Foi muito importante ver minhas duas, alias, três jóias ali, juntas. Sem regras, sem ninguém para criticar nada.
Fiquei muito mais ligada ao meu marido depois disso.

-Voce vai continuar fazendo partos?
Não, eu só fiz meus dois partos, os outros eu só ajudo as mulheres a fazerem o que já sabem fazer.
Me sinto cada vez mais realizada toda vez que posso ajudar uma mulher a parir sem sofrimento, sem cortes, sem imposições.
Ás vezes eu gostaria de simplesmente parar com isso, largar tudo, porque é uma carga emocional e uma pressão muito grandes. Há varias pessoas torcendo para esses partos darem errado para criticarem minha profissão e esta autonomia feminina.
Falam em escolhas na obstetricia, mas elas so valem quando é para escolher cesárea ou escolher o hospital onde parir. Acho que o direito de escolha vai muito além.

-Mas dentro desta lógica, para que servem os hospitais?

Até o inicio do último século, praticamente não existiam partos institucionais. Eram parteiras e médicos de familia. Há menos de 40 anos, o modelo atual conseguiu espaço. Em muitos lugares do mundo, inclusive do Brasil, os partos são conduzidos por parteiras, com muito sucesso. Tanto que há varias iniciativas até internacionais para valorização do trabalho e profissionalização destas mulheres, verdadeiras guerreiras, que acabam dando jeito em varias situações que, por aqui, resolvemos com cortes simples e arriscados na barriga, as vezes sem qualquer critério.
O fato é que temos hospitais e tecnologia e eles são muito bem vindos, quando necessários.
Mas o que vemos hoje é uma inversão de valores: usamos tenologias para tudo e pecamos pelo excesso e o excesso também tem consequencias. Alias, infelizmente as cesáreas, criadas para salvar cerca de 10% das parturientes com dificuldades, tem prejudicado mais do que ajudado e não sou eu que estou dizendo, mas qualquer estatística de órgaos confiáveis nacionais e internacionais, inclusive OMS.
As maternidades são necessárias para estes casos em que o parto é complicado ou mesmo impossível. Estes casos são raros, ao contrário de tantas desculpas para operar como bebê passando do tempo, cordão enrolado, “não tenho passagem”, etc.
Se as instituições fossem procuradas nos casos em que há necessidade real, evitaríamos muitas intervençoes e complicações de parto.

-A mulher pode escolher seu parto?

Esta é uma pergunta muito difícil para mim. A principio sim, desde que a mulher fosse realmente informada e bucasse por si mesma saber dos riscos de uma cesárea desnecessária.
Algumas optam por medo da dor, mas cesárea dói infinitamente mais, tanto que a anestesia é obrigatoria, fora o pós-operatorio; Quanto ás complicações, ela traz muito mais internações, infecções, necessidades de UTIs, aumento do período e gastos hospitalares e intervenções em cascata; Quanto a novas gravidezes, limita o numero de filhos, pode complicar novos partos e trazer outras morbidades; para o bebê, normalmente o distância da mãe nos primeiros instantes, pois os cuidados são maiores e mais demorados, a mãe fica sem uma posição confortável para amamentar, então o bico pode rachar mais facilmente e a criança não pode receber os primeiros cuidados por sua mãe…
Sinceramente, não vejo porquê escolher a opção que traz mais transtornos e riscos. Não compreendo como os profissionais podem aceitar esta “opção” tão facilmente, já que conhecem ainda mais de perto os perigos.
Ninguém vai ao cirurgião e diz “Quero tirar o apendice, porque já venho sentido umas dorezinhas na barriga e todo mundo na minha família tem apendicite, e como não quero sentir dor, vamos marcar a operação?”
E se alguem fizer isto, o cirurgião não aceitará. Ele fará recomendações para evitar apendicite e só operará se tiver indicação devido aos riscos de qualquer cirurgia> Por que na obstetricia deveria ser diferente?
Então vendo de uma maneira superficial, é facil ser a favor da escolha feminina, mas como escolher por um procedimento mais arriscado e que é exclusivamente médico?

-Onde as mulheres e os casais pode buscar mais informações e auxílio sobre o assunto?

Faço parte de duas ONGs que apóiam e acreditam no parto natural, constituída de mulheres de todo o país, dispostas a ajudar,de alguma forma, outras mulheres a terem direito de parirem. Da parte dos profissionais, existem eventos anualmente para o público afim e tem vários profissionais que têm esta pratica em várias partes do Brasil.
Além disso, há muitas informações na internet, inclusive científicas, como a biblioteca Cocrhaine e outros.

-Você pretender ter mais filhos?

Ser mãe foi uma experiencia tão importante em minha vida que quero ter pelo menos mais dois, além das centenas que quero ajudar a nascer como os meus: seguros e em paz.

-Para terminar, que mensagem você daria ás mulheres que desejam profundamente ter um parto natural?

Eu diria, aliás, digo: confiem em si mesmas. Não esperem milagres, façam seus partos acontecerem. Profissionais oferecem serviços e não adianta entrar numa churrascaria sendo vegetariano. Busque, se informe, não perca esta oportunidade de crecimento que é o parto. Isto não é besteira, não é um desejo pequeno. Se seu coração está pedindo, procure quem possa realmente ajudar e faça sua vida valer a pena. Não só no parto, mas onde quer que vá.

E boa hora pra você!

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A Verdade

Aproveitando este meu momento nu e cru obstétrico, peço que você que chegou até aqui entenda que não chegou aqui por acaso e este assunto merece muito de sua atenção e reflexão.

Os riscos reais – mas principalmente – as falácias do parto normal, todos sabem de cor, mas os da cesárea, muito maiores, matem-se em segredo, pois atende aos que a praticam, sem interrupções de férias e desorganização da agenda. Esta maneira simplista de colocar a cesárea e o parto como mera questão de escolha, faz parte de um sistema capitalista que desrespeita a natureza e os que não tem voz, no caso, as crianças.

Além disso, é feita uma verdadeira sacanagem com o parto na cabeça das mulheres: de um lado, um parto longo, suado, cheio de intervenções dolorosas, sofrido, solitário, com fome, sede e grosserias. De outro, uma cesárea limpa, monitorada, rodeada de profissionais que falam manso, indolor (sob uma pancada cruel de medicamentos pesados e potencialmente alergênicos) e mais: se for particular, pode até filmar!

Ou seja, cesárea é coisa do século XXl. Coincidentemente o mesmo século das grandes guerras, da medicalização e do auge do capitalismo despretensioso e inofensivo.

E o mais triste de tudo é conversar com uma mulher, é vê-la justificando sua cirurgia com um argumento caído por terra (como cordão enrolado) e desassociando completamente a cesárea da internação na UTI Neo e do insucesso da amamentação.

Constatando, desta forma, a manipulação bem sucedida na descrença em seu corpo. Como se seu útero, pudesse ser, em alguma esfera, um lugar perigoso para seu filho.

Conseqüentemente seu leite, um alimento dispensável e ineficaz, seu carinho igualmente imperfeito. “Me dê cá seu filho que eu resolvo e você fica me devendo essa... Eternamente” diz segura a deusa Tecné.

Carregadas de propagandas negativas e preconceitos, as mulheres realmente crêem que estão preferindo uma cirurgia sem qualquer influência. E esta escolha nunca foi legitima. A cesárea e também outras intervenções desnecessárias não deveriam ser vistas como escolhas, mas como procedimentos médicos. Deveriam ser exceções.

Os países com menores índices de agravos e óbitos materno-infantis são onde mais acontecem partos naturais. Em muitos deles, a regra é o parto domiciliar com parteira. Então da onde vem esse medo brasileiro do parto? Por que sabemos tão pouco sobre nosso corpo? Por que a nossa obstetrícia intervencionista virou piada lá fora?

O bom disso tudo é que está ocorrendo uma mudança. Tivemos que chegar ao caos para fazer a revolução. E a prova dela é que você está aqui lendo esse texto enorme agora. Raciocinando e refletindo sobre algo que logo será obvio. Isso significa que quem vai fazer a mudança é você, mulher!

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Parto no Ninho - Dydy na Pais & Filhos


Depois de ter os dois filhos em casa, Dielly ficou apaixonada pelo momento do parto. Tanto que se especializou em obstetrícia, para ajudar outras mulheres a sentirem o que ela sentiu

Não foi difícil escolher o parto domiciliar. Sendo enfermeira, conheço bem o ambiente hospitalar e eu queria mais do que um parto normal convencional.

Em 2002, engravidei de meu primeiro filho. Não se falava ainda em parto domiciliar. Procurei uma enfermeira obstetra e comecei a estudar e a me apaixonar por esta possibilidade. Queria minha mãe e meu marido por perto.

Não queria cobranças, ordens ou rotinas, mas sim respeito, segurança e, principalmente, paz. Precisava da certeza de que tudo seria como desejei, a menos que fosse absolutamente necessário. E foi o que tive.

Meu primeiro filho nasceu de um trabalho de parto de quase 24h. Doeu, pensei em anestesia, cesárea, mas tinha comigo as pessoas mais importantes de minha vida por perto. O parto foi na água, e assim que meu filho saiu do meu útero, ele veio para meus braços. Nenhum cuidado rotineiro como aspiração, vacina ou mesmo banho eram mais importantes do que aquele meu momento, o primeiro instante que vi meu filho tão esperado.

Sempre tive vontade de reviver aquele sentimento e ser mãe de novo, até que...Em 2007, engravidei novamente. Foi uma gravidez saudável e não quis saber o sexo até o parto, apesar de sentir claramente que seria uma menina.

Era um domingo de dezembro, e depois de uma soneca da tarde com meu marido, acordei com cólicas. Tomei um banho morno e quis caminhar, mas as contrações não passavam. Avisei a enfermeira que faria meu parto, a Helô, só porque prometi, mas não acreditava que estivesse em trabalho de parto. Como eu não sentia dor alguma, diferente do primeiro, não quis acreditar...

A parteira pediu pra eu ficar em casa e logo senti um estalo e alguma coisa escorrer. Quando vi, estava toda molhada: a bolsa havia rompido. Foi quando comecei a sentir um pouco de dor. Colocamos as músicas do Marcus Viana que planejei para o parto e fui relaxar. A Helô chegou em casa umas 23h, minutos antes do nascimento.

Este parto foi muito intenso. Senti dor, mas foi muito rápido. Em meia hora nasceu minha menina, toda envolta em cordão umbilical e cheia de saúde. Meu marido foi a primeira pessoa a tocar nela, ele a trouxe para meus braços. Nós a beijamos e a abençoamos. Foi muito especial.

Sou apaixonada pelo momento do parto. Eu sempre digo que o parto me transformou. No primeiro, dormi menina e acordei mulher. No segundo, dormi mulher e acordei deusa. Até a dor é importante.

Mas o que difere um parto normal hospitalar de um parto domiciliar é a liberdade. Já assisti vários partos hospitalares, mas nenhum deles foi natural, a começar por serem fora de casa, fora do ninho, ao contrário de qualquer outro mamífero.

Dificilmente há alguma privacidade, habitualmente há indução com ocitocina no soro, o que torna as dores insuportáveis, sem contar os procedimentos agressivos. E o pior é que raramente esses procedimentos são necessários, em detrimento da freqüência com que são realizados.

Meus partos mexeram tanto comigo que me especializei em obstetrícia e hoje ajudo outras mulheres a sentirem tudo que senti. Talvez por gratidão ao universo, talvez por dom. O fato é que o nascimento não é um evento médico: é natural e sagrado.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Na TV!

Acesse o link e veja nossa entrevista sobre o Curso de Preparação para o Parto gratuito ministrados por mim e minha parceira teresa!

sábado, 11 de setembro de 2010

Desfazendo A Cultura para Mostrar a Verdade

Quantas e quantas vezes a vida dos humanistas se ocupam de explicar (leia-se provar) que o parto normal é bom, as indicações reais de cesárea e que ambas as “modalidades” não são uma simplista questão de escolha... Ah e que, ao contrario do que lhes fizeram acreditar a vida inteira, a cesárea da sua mãe tem tudo para ter sido, em poucas palavras, completamente desnecessária.

Eu gostaria de ter respostas simples e rápidas, pois nunca dão muito tempo para presentear com o espelho que provaria a imersão num sistema tecnocrata de tão mergulhados na cultura de incapacidade fisiológica e medo. Mas não tenho poder para te mostrar que não só a ciência está ao meu lado, mas também a lógica. Não esta “lógica” que aprendemos com a TV, mas o curso natural da vida.

Qualquer que seja o discurso, científico ou romântico, somos cortados com um “Mas então pra você não existe indicação de cesárea?” (e minha cara de paisagem).

Mais difícil é ainda falar sobre um assunto que, senão casais grávidos e alguns profissionais, ninguém além quer saber a respeito. Criticar a “forçação” do parto normal é uma regra, mas a forçação sem aspas da cesárea é inquestionável.

Falar sobre o que é óbvio é uma redundância. Mas ser redundante em nossa sociedade quando o assunto é abolição à cultura imposta é serviço para Chucks Norris da persistência... Mas vamos lá... Mais uma vez (ainda que não seja a última...):

- Não ter passagem. Uma desculpa clássica para justificar que mulheres, até mesmo sem entrarem em trabalho de parto, sejam levadas à cesariana, mais rápida e fácil para quem tem habilidade. Raramente (raramente mesmo) uma mulher não consegue se abrir para deixar passar seu filho. Isso pode (e deveria) ser identificado no pré-natal, mas infelizmente “não dá tempo” de entrar em questões tão profundas e dispendiosas emocionalmente. Algumas vezes a coisa é escrachada: 4h de “Trabalho de parto” e cesárea porque o bebê não nasceu. Noutras, uma serie de procedimentos precipitados e, tantas vezes, ultrapassados que culminam com um pesado “Você não conseguiu, eu vou conseguir por você”, digo, “Vou operar você”. Enfim, não é tão fácil assim não ter passagem de verdade.

- Cordão enrolado no pescoço. É compreensível que as pessoas achem que o cordão seja uma corda rígida capaz de fazer uma forca fatal para o bebê. Mas cerca de metade dos recém nascidos apresentam esta característica e ela raramente acarreta problemas para o nascimento. A grande maioria se desfazem com uma manobra simples (parecidíssima com a que você usa para tirar um cordão com a vantagem da lubrificação). Muitos fetos apresentam, inclusive, várias voltas ao pescoço, sem qualquer prejuízo à sua saúde. Os receios se remiriam assim a uma quantidade extremamente reduzida de cordões realmente apertados, onde há o que se fazer para que o bebê nasça um pouco mais rápido. Nunca vi, mas acredito que seja mais rara ainda a incidência de conceptos que não tenham sobrevivido. Isso não justifica expor milhares – talvez milhões – de mulheres e seus filhos a uma cirurgia eletiva com todos os riscos que lhe são peculiares.

- Passando da hora. Existem dois tipos para o rótulo “passando da hora de nascer”. O primeiro tem a ver com a longevidade da gestação, o segundo com o tempo de trabalho de parto. Por causa disso, vemos nossas amigas permitindo suas cesáreas serem marcadas com – estourando – 40 semanas ou concordando com a indicação da cirurgia após poucas horas de um duvidoso diagnóstico de trabalho de parto. Apesar dos bebês terem seu tempo, foi estabelecido um limite razoável de 42 semanas de gestação e, nestes poucos casos, o indicado é a indução (Feita corretamente, por favor). Para tranqüilidade de todos, pode-se fazer cardiotocografia a partir de 40 semanas. No caso de trabalho de parto prolongado, a avaliação fetal é O fator que deve ser levado em consideração prioritariamente e avaliar muito cuidadosamente a parada de progressão para diferenciar de progressão lenta, esta segunda mais comum. O excessivo “medo de passar da hora” não se justifica quando avaliado criticamente. Não é comum que os limites da hora do bebê sejam ultrapassados, mas na contramão, infinitas cesáreas são “justificadas” assim.

- Bebê sentado. Ou pélvico. De fato, não é um parto que os profissionais gostem de assistir. É uma distócia per se e apesar de raro a temida cabeça derradeira é um fantasma que nos assombra. Desde a faculdade, todos ouviram alguém falar que um conhecido do conhecido do conhecido pegou uma “cabeça derradeira” e fez de tudo para salvar a criança. Bom, eu também conheço um cara que passou por isso e também fiquei assustada. Em minhas “pesquisas’, conclui que o que provoca essa complicação habitualmente são exatamente o medo e a pressa compreensível por sinal. Não é tão comum bebê pélvico a termo para que se tenha larga experiência com isso. E o segredo é exatamente contrario: colocar a mulher numa posição favorável – de quatro por exemplo - e: deixar o bebê vir. Em casos extremos, instrumentos e até manobras serão necessários. O problema é que com 30 semanas já há quem esteja pensando em cesárea por apresentação pélvica ou até antes disso. É provável que o bebê vire sem intervenções, mas há quem lance mão de acupuntura, moxa, posições e exercícios, podendo até realizar a Versão cefálica externa, onde o obstetra vira o feto manualmente, com 37 semanas que – não compreendo o porquê – raríssimos obstetras sabem fazer. Há mais falácia sobre o assunto do que problemas com ele em si.

De qualquer forma, a cesariana não deveria ser vista como uma via banal de nascimento. Escolher passar por uma cirurgia não é uma escolha qualquer. Não é como optar por um estilo de roupa, nem como preferir uma pessoa à outra. E suas indicações sérias e reais não são comuns. Jamais justificariam os 90% das cesarianas realizadas nos hospitais particulares.

Descobrir a verdade sobre a obstetrícia brasileira é decepcionante e difícil.
É preciso muito mais do que confiança no profissional e um bom plano de saúde.
Cesárea não é brincadeira. Não opte sem pelo menos conhecer de fato.
Boa sorte em sua busca.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

“Parto Normal Demais”


A inserção da cesariana na nossa cultura provocou uma inversão de valores que jamais seria conseguida se tivesse sido cuidadosamente planejada.

A cesárea, antes temida, agora é um procedimento corriqueiro pelo qual a maioria covardemente esmagadora das mulheres de classe media e alta passa sem questionar. Como se, ser operada para o nascimento de um filho, fizesse parte do curso natural da vida.

E hoje em dia, pouco importa o que diz a ciência quando não nos importamos com nossos próprios processos fisiológicos, quando terceirizamos a tutela de nossa saúde e delegamos o poder sobre as decisões essenciais, nos tornando senhores de nossas vontades fúteis sem qualquer vinculação com suas conseqüências.

A cultura se transformou tanto que uma cirurgia de grande porte se tornou mais comum e corriqueira do que - o antes - processo natural de parir, este sim parte inerente a vida das mulheres de outrora.

E aí se instalou uma certeza nas mentes, femininas e masculinas, de nosso país: “cesárea salva e parto normal mata”. Como se parto normal até fosse melhor, mas, à menor dificuldade, lá estava a cirurgia salvadora para corrigir os erros – hoje “tão comuns” = da natureza.

Pouco importa o que diz a ciência e ignora-se a racionalidade: as mulheres são defectíveis demais é a idéia que impera na nossa sociedade sexista e simplista.

De nada adiantará citar OMS, Ministério da Saúde, Cochraine, Obstetrícia Baseada em Evidência. Tudo o que realmente interessa é a cultura arraigada, inquestionável, a lei do menor esforço e do capitalismo e a deusa tecné acima de qualquer suspeita.

Então nos deparamos com frases como “Fazem parto normal a qualquer custo”, quando os números dizem exatamente o contrário. E eles também são desprezados.

Julgamos e condenamos sumariamente o parto normal, pois a natureza “precisa” de tutela. Torturamos com palavras tudo o que nos causa repulsa sem jamais refletir sobre o que de fato estamos criticando.

Há mais indicações de cesáreas entre o céu e a Terra do que supõe nossa vã filosofia.

E enquanto não transformamos nossa forma de ver o mundo e a nós mesmos, nem a forma de nascer nem o mundo mudarão.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Preparar-se Para Cesárea

Dizem que a mulher que deseja muito parir, deveria se preparar para o caso de vir a passar por uma cesariana.

Antes de refletir e escutar algo determinante sobre isso, também caí no piegas "preparar-se para o pior", mas vamos pensar juntos sobre o assunto.

Imagine que você encontrou o homem da sua vida. Ele está igualmente apaixonado e ansioso por você. Decidiram se casar na igreja com toda pompa a que tem direito. Está tudo pronto e lá está ele no altar admirado com sua beleza e não se contendo em si de tanta alegria. Vocês chegam até o padre que diz: "Olha, tudo bem eu até faço esse casamento se é o que vocês querem, mas não vou enganar ninguém não. A chance de de dar em divórcio em nossos dias é muito alta. Então vamos jogar limpo: ambos têm que se preparar para o caso de pegar o outro na cama com outra pessoa, para aturar mentiras e inúmeras diferenças que provavelmente acabarão com os sonhos que construíram juntos. E pode ser muito pior do que estou dizendo. É isso. Não quero ver ninguém chorando e sofrendo depois porque eu avisei!"

Apesar de ambos serem possibilidades - a separação e a cesárea -, não podemos deixar de sonhar intensamente com o sucesso desse casamento e desse parto, só porque em alguns casos fatalmente dará errado.

Não há como se preparar demasiadamente para o que não está nos planos.

Mas se o que não desejamos acontecer, a dor é inevitável. Como em toda decepção, teremos que sofrer, compreender, reconstruir e, ás vezes, se reinventar para resolver e cicatrizar a ferida que não é só física.

Eu gostaria muito que as mulheres já viessem preparadas ou memso de saber prepara-las, mas isso é uma grande ilusão. Devemos sempre falar sobre as possibilidades, mas o tempo de um porfissional com a mulher deve ser usado, em sua maior parte, avaliando sua saúde e empoderando-a.

Não há como preparar-se para o que consideramos ruim. Sabemos que pode acontecer, mas acredito que pedir para esperar o que não queremos, seja algo incoerente demais para pedir.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Deixar Acontecer

É um grande desafio deixar as coisas acontecerem naturalmente. Ficamos internados em universidades por vários anos, aprendemos manobras salvadoras, técnicas que nos fazem sentir importantes, as pessoas nos fazem sentir tão especiais por isso e aí vem um bando de mulheres dizer que buscam exatamente o contrario!

Nós estudamos muito para que digam que não devemos fazer nada, que muito poucas mulheres precisam e fato precisam de nossos conhecimentos altamente especializados. Mas é assim que deve ser.

Não intervir é um exercício. No estilo mais tradicional "Orai e Vigiai".
Mais importante do que saber fazer uma episiotomia, é saber não fazer uma.
E é muito mais difícil aprender a não fazer do que aprender a fazer.

Falar de fora é fácil, mas saber que uma “traçãozinha” seria o suficiente para o bebê acabar de nascer é um grande desafio. Ainda mais se por perto estiver algum profissional tenso e se não der para identificar sinais de como o bebê está naquele momento.

No dia a dia da obstetrícia, infelizmente não vemos apenas nascimentos maravilhosos. Um apgar baixo, um silencio ensurdecedor, cobrança, rótulo e nada que se faz é suficiente.
Nem para os outros nem para nós mesmos.

Queria saber quem vai ter dificuldade, que sinal prediz o que, como reconhecer o que há de mais improvável, onde está a máquina do tempo para fazer diferente?...
São muitas perguntas sem respostas.

Não é fácil lidar com vida... E morte.
Mas deixar a vida acontecer em paz é nossa obrigação. Não podemos oferecer mais às mulheres do que intervir quando realmente necessário e deixá-las parir lindamente quando não for.

Há mais distância entre o céu e a terra do que supõe nossa vã obstetrícia.
Não é fácil, mas precisa ser feito.
Na esperança de deixar esse legado, de deixar nessa Terra seres humanos vindos de nascimentos mais serenos, seguros e dignos, continuamos persistentes em nosso duelo interno.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Decidindo Parir

Risco é há em qualquer atitude, em qualquer momento, em qualquer circunstância e em qualquer lugar. Quase sempre decidiremos pelo menor risco ou pelo que é mais cômodo ou ainda pelo que acreditamos ser melhor culturalmente mesmo que de fato não seja... Como no caso de escolha por uma cesárea eletiva.

Nossas escolhas não são livres de preconceitos, propaganda e medo. Não podemos fantasiar mais sobre isso. Todas as opções sofrem influência da cultura e da época em que acontecem.

Neste ponto de vista, nos enganamos ao acreditar cega e absolutamente que nos libertamos, quando na verdade apenas trocamos de dono.
Antes o pai, depois o marido e agora uma mistura perigosa de “não saber”, acomodação, orgulho e vaidade.

Esta cegueira também está presente quando acreditamos que, para parir, basta olhar no catálogo do plano, querer e mais nada.

Ninguém sabe ao certo o que se precisa para parir, mas as estatísticas comprovam: é muito mais difícil do que parece... E do que deveria ser.

A grande maioria simplesmente agradecerá a Deus e ao “doutor” a misericórdia pela dor ou a salvação de sua vida. As algumas outras não aceitarão qualquer explicação... Se arrependerão e lamentarão profundamente a substituição da maior manifestação da vida por uma sala fria, conversas paralelas e distanciamento da pessoa mais importante, naquela que tinha todo para ser a noite mais emocionante de sua vida.

Há quem não ligue para isso, “afinal estão todos vivos”...
Há quem não compreenda o quão grandiosa pode ser a natureza.

Onde e com quem parir são sim escolhas fundamentais para o tipo de nascimento que você dará ao seu filho. Quem planta feijão, não colhe milho. Mas é necessário saber e acreditar antes de plantar.

A ignorância é um bom argumento, mas não contém a máquina do tempo.
A dureza financeira conta, mas não pode atrapalhar o parto que você merece ter.
A falta de apoio atrapalha, mas é preciso tirar forças de si mesma para ter suas próprias conquistas.
Então estas são questões não deveriam ser consideradas determinantes quando refletirmos sobre o leite derramado mais tarde.
Porque o que determina seu parto é o que construímos, é o que estamos dispostos e o que fazemos.

Sinta-se segura e a vontade para escolher, desde que seja de fato uma escolha.
Viva intensamente este momento que se repetirá tão poucas vezes.
Porque é agora que fazemos nossa história.
Seja ela de glória, arrependimentos ou do que mais escolher no catálogo da vida.

sábado, 3 de julho de 2010

Se você Quer Mesmo Um Parto...

Resolvi escrever este post porque, no português claro, eu não agüento mais assistir passivamente mulheres que manifestam um desejo verdadeiro por um parto natural, sendo levadas para uma cesárea desnecessariamente e se conformando logo em seguida, afinal todos estão vivos... Como se sobreviver a um processo biológico fosse tudo de bom que pudesse acontecer neste momento.

Vou dizer mais uma vez:
Quem quer um parto normal, não pode ter como obstetra um cara que faz cesárea em todas as suas amigas! Não adianta fazê-lo prometer, porque ficamos muito vulneráveis no trabalho de parto.

Você precisa é ter alguém que te levante quando você chorar como menina implorando pela cesárea que não deseja. De alguém que esteja ao seu lado e diga que você está indo bem e que se emocione com sua conquista quando esse bebe estiver em seus braços!

Não tente transformar ninguém. Muito poucas pessoas estão abertas a mudarem suas práticas e até mesmo disponíveis para interromperem um jantar romântico ou acordar no meio da madrugada. Ele não vai mudar só para que você tenha o parto que deseja...

Não exija o serviço que o profissional oferece!
Compre “o produto” de que sabe fazer!
Mude você!

Por que é tão difícil mudar de obstetra para parir? Vínculo? Medo? Dúvida? Ninguém pode fazer esta escolha por ti. Então saiba que as vezes precisamos dizer não e correr com nossas próprias pernas, nos responsabilizar pelas glórias e conseqüências de nossas decisões.

Vou contar a história que sempre conto às grávidas que querem, porém não conseguem mudar de obstetra: Imagine que você é uma religiosa ferrenha, super discreta e precisa ir a um evento. Vai a uma loja de vestidos, onde todas as suas amigas saíram de lá com vestidos diferentes do que pediram, mas pelo menos sobreviveram. Mesmo assim você vai e pede um vestido preto, sem detalhes, reto. Mas a vendedora que é a melhor da loja (vende qualquer coisa que queira) lhe vem com um tubinho modernérrimo de estampas havaianas, com babados e lantejoulas amarelas. Você até assusta de início, mas ela fala de todas as vantagens das cores fluorescentes, da beleza dos cintilantes e que é a ultima moda em Milão. Você não querendo ser desagradável - porque ela é muito legal e te conhece há anos -, insiste no preto educadamente sem conseguir se imaginar vestindo aquela fantasia de carnaval que ela quer que você compre. Então você diz que vai pensar. Volta lá várias vezes, afinal vocês são amigas, e ela sempre vem com a mesma peça. Como não existem muitas lojas na cidade, já esta chegando o grande dia e falam muito mal de um certo vestido preto que comparam rasgado e a mulher ficou nua no meio da festa, você resolve comprar o da sua amiga (sai até mais barato) e vai a festa. Acontece tudo que você não queria: fica engraçadamente sexy e vira o centro das atenções. Mas não tem problema, pois tem um monte de gente que se veste assim e essa noite só vai durar algumas horas. Amanhã vai estar tudo bem. O importante é que você está viva.

Mas a diferença é que o parto e a sua vida são muito mais importantes do que um vestido.

Informem-se, reflitam, descubra o que querem, o que precisam e depois busquem no lugar certo... Porque parto é algo que vivemos muito poucas vezes na vida para que seja de qualquer jeito.

Faça você a mudança que precisa em sua vida.
Ou deixe as coisas como são e pronto.

Só as peço que me façam acreditar quando vocês tiverem decidido por si mesmas.
E eu ajudarei com o maior prazer e satisfação do mundo.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Uma Longa História

Meu relato sobre o aprto da Renata dias Gomes
Este caso começou há mais de seis anos com uma graaaande barriga, uma escritora de novelas e a maior anemia que vi na vida.

Aquela criança com cara de criança de sobrenome intrigante (Dias Gomes) estava então grávida de sua menina, Maiara, que veio fácil de um parto longo, mas não sofrido... E de cócoras.

Eu a aconselhava pelo MSN e desde sempre percebi toda sua gratidão. Nos conhecemos pessoalmente, “imprevisivelmente”, num encontro da Fadynha em novembro de 2004.

A Renata sempre foi uma das mulheres mais originais e espontâneas que conheci. Queria ser autora de novelas e simplesmente conseguiu. A coisa deve estar no sangue!

A amizade ficou e apesar dela não saber se algum dia viria outro bebê, eu sabia. Agora é fácil falar tanta coisa, mas isso eu sentia muito claramente.

Então ano passado com pouquíssimas semanas, ela me contou que estava grávida e que queria minha presença em seu parto. Tão cedo ela já havia decidido onde teria seu filho, quem estaria lá. Só não sabia como seria, porque não tinha jeito.
Fiquei feliz e extremamente lisonjeada por saber que eu era uma das “coisas” que ela queria.

Nos vimos uma vez na gravidez, mas valeu por várias... 5h de consulta rs! E o MSN religiosamente, claro.

A Maiaira nasceu com 38s4d, no dia 20 de abril, um dia depois do pai. Todos pensávamos que o Tom nasceria num destes dias ou na seqüência. Mas o Tom, filho de quem é, tinha que surpreender.

No meio disso tudo, aconteceu a tal enchente no Rio. Ninguém ia a lugar algum. Mas para ele, seria muito previsível nascer assim, então, de maneira inteligente, esperou o momento certo.

Paramos – mas nem taaaanto assim - de fazer apostas de datas, porque tudo que cogitamos não se confirmou... Apesar de eu ainda divagar sobre o fato de que os partos que acompanho no Rio tem acontecido de 4 em 4 meses, exatamente no dia 26.

E na manhã deste dia, vi uma mensagem do Lipe no twitter “É tranqüilizador quando sua mulher quase parindo te diz ‘Amor agora vai’!”

Fiquei preocupada demais com a possibilidade de não chegar. Ela sempre existe, mas além da dificuldade natural, o trânsito estava muito engarrafado.

Por volta de 11h, a Renata me ligou contando que já havia sido avaliada pelo obstetra e que estava com 5 pra 6 de dilatação. No parto anterior esta fase se desenrolou em 1h...

Enfim cheguei à sua casa e depois ao seu quarto onde a encontrei relaxada e a vontade em sua pequena piscina. Vi o Chico assim que cheguei pela janela. Fiquei feliz por estar ali.

A Renata para mim é uma amiga e eu nunca havia participado do parto de uma amiga. Enfim eu estava pronta para ajudar aquela mulher que, de tantas formas, me ajudou.

O Chico procurava ficar fora do quarto para deixar todos a vontade e isso foi muito legal. Ele não estava no cômodo, mas conseguia se fazer presente.

Foi muito diferente acompanhar o trabalho de parto da Renata porque ela é toda diferente! Enquanto com as outras mulheres, eu tento falar o mínimo possível, fazer com que ela entre em si e viva intensamente seu parto, com a Renata essas teorias não são aplicáveis e esta foi mais uma lição: as mulheres podem ser muito diferentes até mesmo em momentos tão – aparentemente apenas - biológicos.

Ao contrário de todas as mulheres, a Renata buscava nossos olhares para conversar. Queria saber o que falávamos entre nós, queria trocar... E só entrava em seu parto a cada contração. Neste momento fazíamos massagens, silenciávamos, apoiávamos.

Quando as contrações passavam, ela não parecia estar em trabalho de parto: parecia uma criança pela primeira (ou segunda) vez num parque de diversões. A Renata se divertiu em seu parto. Curtiu cada instante. Me mostrou que a mulher pode nos dar uma segurança, além da técnica, de que tudo vai dar certo. E que eu devo confiar nela, porque a natureza sempre está certa.

Os intervalos começaram a ficar curtos. O Lipe foi o marido-assistente de parto-domiciliar dos sonhos, fez tudo, tudo certo. Se desdobrou em mil e sequer tropeçou em seu medo (se é que existia) para que eu o considerasse um marido comum. Porque ele não era apenas isto. O Lipe foi o companheiro forte e calmo que por dificuldades biológicas, não emocionais, aguardava ver um filho nascer há 6 anos! O amor e a sensualidade da união, para mim de alguma forma, contribuiu muito para o parto.

Entre uma contração e outra, ela me debochava de mim falando que eu era muito fresca porque dizia que meus partos foram doloridos. Eu achava muito engraçado uma mulher com 9 de dilatação ter condição de ser irônica. Foi essa intimidade, sinceridade e clareza que nos aproximaram.
A bolsa só então rompeu.

Próximo ao parto, a bateria da câmera acabou e a energia elétrica também. Nada de youtube! Lamentei porque outras mulheres nunca conhecerão a mulher que eu conheci aquele dia. Mas não as furtarei de saber através do que eu tenho a dizer: não só ela, mas eu também vivi uma grande emoção aquele dia.

Estávamos todos em perfeita sintonia. Quando o Tom começou a descer.
A esta altura (quando realmente resolveu vir, depois de mais de 2h de expulsivo), ele veio em poucas contrações. 3 ou 4, quando a Renata pela primeira vez gritou. Ele veio lindo... todo enrolado em seu precioso cordão.

O Chico o entregou à mãe, ainda dentro dágua, apoiada por trás pelo Lipe. Apgar 1000.
Estávamos todos em êxtase. A ocitocina é de fato contagiosa!

O Tom foi para o colo da mãe que dizia aquelas “palavras pós parto” de mulher empoderada...”Nós conseguimos, meu amor! Nós fizemos tudo certo... Eu não te disse que ia ser assim?”
O pai cortou o cordão vários minutos após a chegada do Tom.

O pai da Renata só chegou depois e não acreditava no que via porque tinha muito receio de parto em casa. Mais tarde chegou a irmã mais alegre do mundo e a paixão de uma vida inteira. Foi emocionante ver a primeira troca de olhares de um amor que jamais terminará. Companheiros, parceiros e amigos... É isso que os grandes irmãos são.

A Renata sentiu muito frio logo depois e a deitamos na cama para cobri-la. Colocamos novamente o Tom junto a ela e, sem dificuldades, ele mamou.

A placenta levou mais tempo que o Tom para nascer: 3 horas. Mas veio sem problemas.
O Chico então se foi.
Tiramos fotos de tudo que é jeito. A Maiara estava tão feliz. A Renata estava tão feliz. Eu estava tão feliz!

O parto demorou mais do que todos pensávamos, mas eu não tive medo. Aprendi muito com esta família e sei que a recíproca é verdadeira.

Este parto me trouxe muita motivação e fé. Não fé religiosa, mas fé de confiança. Fé de que as coisas quando vão dar certo, provavelmente darão seus sinais. E que alguns aspectos como a sexualidade têm absolutamente TUDO a ver com o parto.

Deixei aquela casa por volta de 19h extasiada, completamente inundada de coisas boas.

Alguns dizem que foi sorte... Não acredito em sorte e só quem vive uma experiência assim pode compreender que parto e maternidade não podem ser reduzidas a sorte e azar e que entender isso é questão de tempo.
Eu sempre curto, vai, mas tenho que dizer que amei esse parto.

Eu não assisto novelas, mas daqui de longe a partir de agora, vou assistir sua excitante, simples e surpreendente vida. Mas jamais como uma expectadora imparcial.

sábado, 26 de junho de 2010

Enganada Eu?

Muitas vezes os profissionais humanistas, ou seja, aqueles que acreditam no poder do corpo humano, mais especificamente no feminino no parir, têm que escutar das mulheres que terão que fazer cesárea, apresentando um motivo que não é indicação de cesárea ou mesmo explicando sua cirurgia com argumentos ingênuos, decorados, preconceituosos e defensivos.

Quando isso acontece, alguns tentam usar as palavras certas para que a mulher tire sua próprias conclusões, pois é muito complicado ser antiético, as vezes, publicamente com um colega, mesmo quando ele foi descaradamente antiético com uma cliente...

Sim, porque não há outro nome para submeter uma pessoa a riscos 6 vezes maiores para si e seu filho, em nome de organização de agenda, liberdade e até de dinheiro.

Por que não falar em dinheiro?
Adoram dizer que os humanistas cobram caro... Mas um profissional humanizado acaba ganhando menos do que um cesarista, porque é obrigado a ter muito menos gestantes e assistir muito menos partos, já que não tem dia nem hora para fazer. Além de uma vida pessoal tensa, pois a qualquer momento pode haver um chamado. De 37 a 42 semanas, nada de noitadas e viagens. Hão de estar prontos a qualquer tempo. Quem se dispõe a fazer isso?

Para muitas pessoas, o importante é estar com a razão, independente da razão estar com elas. Diminuir os outros, ajuda a nos manter na zona de conforto.

Imagine como deve ser difícil para uma mulher que sonhou todos os dias de sua gravidez com este evento biológico supremo, este momento emocional sublime, escutar do profissional em que confia que vai ter que marcar a cesarárea pra semana que vem, porque o cordão está enrolado no pescoço e se o bebê não fosse “tão” grande, daria. Ou pior: em pleno trabalho de parto, dizer que já foram longe demais e que agora o risco é por conta dela.

É compreensível que esta mulher viva seu luto e até mesmo que acredite que sua cesárea salvou a vida do seu filho. Mas quando olhamos as estatíticas de seu profissional (90% de cesáreas), vemos que esta cesárea não apenas não salvou sua vida, mas, ao contrário, a expôs a um risco ainda maior.

Admitir ter sido enganada não é fácil e não é para todas. O fato é que uma porcentagem muito, muito pequena das mulheres que tiveram cesarianas, realmente precisaram e dificilmente você foi exatamente uma delas.

Mas algumas destas, vão buscar bravamente as verdadeiras indicações da sua cirurgia. Algumas mal se recuperam de sua cesárea para ir atrás e o que é mais legal: procurando sua responsabilidade nisso tudo.

Quando as coisas não acontecem como sonhamos, lidar com a frustração no meio de tanta emoção é delicadíssimo. O parto pode não ter acontecido, mas a mãe está nascendo exatamente neste momento.

Deixar pra lá esta grande questão por não poder voltar no tempo é uma grande besteira, pois é a ferida que faz nascer a pérola da ostra. A cicatriz emocional é muito mais profunda do que a marca deixada no coração... Selada por sentimentos de incapacidade e traição imensuráveis.

O luto é individual, mas o apoio sem "coitadismo" pode e provavelmente renderá bons frutos. Renascer do caos faz parte de ser mãe. Ainda há muito a fazer: amamentar, educar, ensinar... Mas não há lição que possamos nos dar o luxo de desperdiçar, sem reflexão, achando que as coisas são como são e ponto final.

Para aquelas que ainda podem acertar, eu quero dizer algumas coisas.
Muitas não acreditam nas coisas que dizemos. Acham loucura e radicalismo parir em casa e que parir em hospital com um médico do plano não pode ser tão difícil assim. Porém, já assistimos incontáveis vezes a mesmíssima história. Tenha ao seu lado profissionais que lhe tragam coragem e força até mesmo quando você não acreditar mais. Esteja num lugar onde a fêmea mamífera dentro de ti possa desabrochar em sua glória. Não tome a decisão dos outros, porque o parto é seu e nada pode trazer mais satisfação do que trazer um filho saudável por você mesma.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Dicas para Ter um Parto Legal

Amadureci as coisas que escreverei abaixo, pois quase ninguém entende o que quero dizer. São detalhes nos quais acredito, servem em vários aspectos de minha vida e, por final, acho muito egoísmo de minha parte, deixar de contar a vocês o que me ajudou e o que pode lhes ajudar a parir, por receio do que vão pensar.

Nada do que direi é cientifico. Não consta nos Guidlines nem na Cochraine nem é recomendação da OMS. São coisas que fui observando, escutando e ligando aos resultados que via. Não é um estudo randomizado nem conheço ninguém mais na humanização que pense exatamente como eu. Então não é uma orientação, é uma experiência que decidi compartilhar.

Acredito que parto tenha tudo a ver com sexualidade. Sexo é algo muito intimo, pessoal e cada um faz de um jeito. O parto também. Apenas pode parir, quem faz sexo, quem de alguma forma usa a vagina, grosseiramente falando.
Então deve ter alguma coisa a ver.

Não estou dizendo que quem goza terá parto natural e quem não goza terá parto difícil ou cesárea. Mas algo pode existir nesta direção e precisa ser aprofundado.
Deixar pra lá só porque não responde a todas, não é uma opção considerável.

Outro dia uma ex-cliente e amiga que sabe dessa minha busca pelas questões relacionadas a facilitação do trabalho de parto, teve um insight com uma palavra que achei bastante interessante: potência. O homem precisa ter potência sexual para ter relações sexuais, a mulher não necessariamente. Do ponto de vista biológico, a mulher pode ser completamente passiva numa relação, o homem heterossexual, não. Mas no momento do parto, uma mulher passiva demais, não consegue parir. Está aí uma grande razão para a dor. A dor faz reagir e a mulher precisa ser ativa no trabalho de parto.

Retornando ao ponto: a mulher usa objetivamente a mesma parte do corpo para o sexo e parto, mas no primeiro ela pode ou não ser ativa, no segundo, ela obrigatoriamente teria que ser.

Uma outra questão que considero relevante é a relação com o companheiro. Se a relação está com muitos problemas ou se a mulher não consegue se entregar completamente nesta relação, como ela entregará ao mundo e a este homem o presente que é um filho? Claro que ela provavelmente conseguirá parir se ninguém atrapalhar, mas acho que resolver este problema em algum nível pode ajudar no trabalho de parto.

O que pode estar prejudicando esta relação? Uma traição descoberta, sentimento de desvalorização, desprezo, brigas constantes, etc. Só mergulhando no universo dela de cabeça pra saber.

O tipo de parto do qual a gestante nasceu e a relação com a mãe também devem ser levadas em consideração. A gravidez é um momento de resolver pendências, pois todos estão mais sensibilizados. Mas antes de engravidar seria o ideal. Descobrir a circunstância na qual veio ao mundo não pode ser encarado como desimportante. Descobrir possíveis traumas causados pela violência no nascimento, afastamento da mãe, da não amamentação é fundamental para compreender e perdoar.

A postura dessa mulher diante da vida praticamente determina como será o parto, na minha opinião. No meu primeiro parto, estava muito menina e me vitimizava com a situação. Minha mãe estava lá e isso pode ter atrapalhado, no meu caso, porque ela me fazia ser ainda mais menina, quando eu precisava reagir, ser mulher pra colocar meu filho no mundo. No segundo parto, eu quis ser a mulher, a dona e, tirando que não deu tempo de ser na água, foi tudo igual ou melhor do que planejei. Eu não sou modelo indiscutível a seguir, mas olhando para trás na minha historia, consigo perceber com mais clareza a verdade das outras mulheres e me sinto mais segura e confiante para ajudá-las.

Meus partos foram tão diferentes um do outro porque eu estava muito diferente também. Em menos de 6 anos, eu me tornei outra pessoa, inclusive porque no primeiro parto eu não era mãe e no segundo já era. Antes eu era a menininha que chorava no Trabalho de parto e pedia cesárea, no segundo, eu fui a leoa que pediu pro companheiro dividir a dor com ela. Eu era mais eu, por isso, apesar de intenso, foi mais fácil.

Não poderia deixar de falar, apesar de não ser nenhum pouco unanimidade entre os ativistas que a conexão com a natureza, interna e externa são condições fundamentais para uma vida sexual legal e, portanto, um parto natural. Sabe, gostar de si, não desprezar suas funções biológicas, ser grata pela vida, cuidar da família e, de alguma forma, do planeta. Não quero dizer com isso que as mulheres urbanas e trabalhadoras não tenham chance. Mas não dá pra dizer que parto não tem nada a ver com cuidado e entrega.

E pela minha proximidade com partos de outras pessoas, posso confirmar e desconstruir minhas teorias sem medo e com a certeza de que me torno uma parteira melhor a cada dia. Sou muito grata a estas mulheres, pois a elas, mais do que aos livros e aos embates, devo tudo que sei.

É por elas que eu não desisto de descobrir o que posso fazer melhor. E claro... Para ajudar o mundo a ser bem melhor... Desde o nascimento.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

O Que Você Realmente Deseja?

A maioria das mulheres com quem tenho um contato, digamos, obstétrico – seja no pré natal, num bate papo ou no parto – diz que prefere parto normal. Algumas vão alem: dizem que seus médicos terão que “fazer parto normal delas”, mesmo quando sabem que estes só fazem cesáreas. E outras mais conformadas acreditam que na hora vai acontecer alguma coisa e vai ser normal...

Desafortunadamente, em nosso país não adianta querer mais ou menos para conseguir ter um parto natural. Ou quer demais e faz o caminho de seu parto, ou se entrega à piedosa deusa Techné -  que diz silenciosamente “Fora de mim não há salvação” - e aceita sua cesárea como todo mundo faz.

O parto é um momento que vivemos duas, talvez três vezes em nossa vida moderninha. Seja por onde for que o bebê resolva ou seja obrigado a passar, estatisticamente dificilmente alguém vai morrer no processo. Mas esta experiência intensa não se tem de outra forma e há quem diga que isso não é tão importante assim. Há muito mais pessoas dispostas a deixar de vivê-la do que fazer um esforço realmente significativo para fazê-la acontecer.

Quando falamos em dinheiro então... Querem fazer parecer que este é um comércio pura e simplesmente. Insinuam que “perderíamos” dias, horas e anos escrevendo blogs, fazendo palestras gratuitas, acompanhando vários partos sem qualquer cobrança, respondendo frustrados perguntas de mulheres que sabemos que terão uma cesárea... Não que fosse pouco, mas não faríamos tudo isto, se o sustento fosse a única motivação.
Seria prejuízo viver a obstetrícia por dinheiro, quando o retorno, deste ponto de vista, as vezes é tão pequeno.

Desvalorizando nosso trabalho, conseguem desvalorizar quem somos. Porque, para estes, se tornou uma questão de mercado e nada mais.
Eu faço por paixão. Faço porque acredito.

Claro que há quem cobre mais ou menos por este trabalho. Em todos os tipos de trabalhos isso existe. E obviamente quem tem um serviço diferenciado e se dispõe a aguardar por pelo menos um mês um trabalho de parto que também é um comportamento profissional diferenciado, deve ter um pagamento justo. Mas todos estão dispostos a negociar. Isso é fato. Só que é mais fácil reclamar de ter que vender o carro pra pagar o parto do que conhecer outras realidades. Ou ainda, é melhor ficar no plano de saúde que tudo é “de graça e posso ter a mesma coisa”.
Quem dera.

Para “piorar” nossa situação, ainda temos o agravante de gostarmos de nossa profissão.
E isso é quase um crime! “Se fazem porque gostam, por que cobram?” Quando o sonho de todo mundo é trabalhar com o que gosta, nos acham maus porque gostamos!

Pouco importa a eles, se assistimos, de vez em sempre, partos de pessoas sem qualquer condição financeira e portanto, sem remuneração alguma.
Podemos fazer caridade para quem precisa, mas as vezes algumas pessoas não querem abrir mão de nada pelo seu parto. Como se nascer fosse menos importante do que ter coisas...
O enxoval está completo bem antes. E o quarto decorado. E o plano pago em dia. E todos detalhes que o bebê nem sabe que existem.

Ainda há quem diga, mesmo com condições, que não teve ou – pasmém – que não terá um parto humanizado porque não tem dinheiro. Sem sequer ter conversado com um profissional para avaliarem as possibilidades de pagamento, troca de trabalho ou qualquer alternativa digna para ambos os lados. Como se negociar fosse humilhante.
Ou seja, em muitos casos, a falta de dinheiro é o argumento fatal usado para não parir, já que no fundo sabemos que este é um passo muito importante.
Mas sempre me pergunto se é a verdade da pessoal naquele momento ou se é uma desculpa para nao ir adiante.

Só dá pra abrir mão quando conseguimos nos convencer de que é impossível.

Quantas e quantas vezes, me ofereci para conversar sobre parto com grávidas que sabiam que teriam uma cesárea pelo andar da carruagem. A maior parte nem vem. Outras, quando vem, vem quase que pedindo uma benção para continuarem exatamente como estão. Colocam a culpa nos cesaristas, mas eles só atendem o sistema no qual estão inseridos.
E tão poucas chegam até mim por quererem de fato um parto empoderador...

Parir acabou se tornando complicado, mas não impossível. Acredito muito que é a mulher que fará a revolução. A demanda cria o serviço. E se não for através dela, não imagino como será.

Não fiquem bravas comigo, barrigudas. Conheço exceções à regra.
Simplesmente perguntem a si mesmas seus porquês.

O que posso dizer é que jamais negaria acompanhamento a uma mulher que realmente desejasse. E mesmo assim, as que querem dão um jeito.
E acho difícil que alguém nao consiga ter um parto somente pelo motivo financeiro.
Mas quem realmente deseja parir?
Quem realmente precisa de um parto natural?

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Sobreviver é tudo?

O parto humano é um dos maiores exercícios de paciência e até de tolerância que podemos ter na vida.

Arrumar desculpa para operar uma mulher grávida que só quer um parto normal, é muito fácil. Afinal as pessoas confiam muito nos profissionais e não vão discutir esta necessidade, ainda mais em partos tradicionais que são muito sofridos.

Mas explicar a necessidade de uma cesárea a uma mulher consciente e informada, que deseja de verdade um parto natural, é um desafio. Porque infelizmente, existem situações onde ate mesmo a nossa vilã, cesárea, é necessária.

A primeira talvez ainda não conheça seu poder e por isso agradecerá pela cirurgia que, cientificamente, dificilmente terá lhe salvado de fato a vida e a de seu filho como gostaríamos de acreditar.

A segunda terá seu luto por ter sido privada de algo tão importante. Um triste ritual que faz parte de sua busca e de seu auto-conhecimento. É uma dor solitária, porem que podemos ajudar a cicatrizar. Sempre compreendendo que esta cicatrização será mais demorada do que a cicatrização da cirurgia.

Lidar com ambas as situações é complicado demais para os profissionais quem possuem estes valores. E também temos que encontrar nossas respostas, nos curar de nossos lutos.

Não ficamos felizes ao indicar uma cesárea ou uma remoção de um parto que seria domiciliar. Mas isto não se sobrepõe às complicações que podemos “prever”.

Ao contrário do que dizem os membros da matrix obstétrica, infelizmente ainda indicamos mais cesáreas do que as diretrizes cientificas orientam. Porque não somos de ferro. Já seria alguma coisa não indicar cesariana por comodidade ou falsos argumentos, mas isso também não basta.
Deve existir uma razão muito, muito forte para tirar o parto de uma mulher.

Com o tempo, vamos nos aperfeiçoando e “pegando o feeling”, mas jamais acharemos que está tudo bem só porque todos sobreviveram.
Sobrevivência é o mínimo que podemos dar a uma mulher em trabalho de parto e seu filho. Não é o melhor, é o básico.

domingo, 16 de maio de 2010

Deixar de Criticar Cesárea é a Solução?

Realmente algumas mulheres precisam de cesárea e não quase todas que eu conheço.

Não posso deixar de falar dos malefícios da cirurgia cesariana, só porque 10%, no máximo, de todas as mulheres podem de fato precisar.

Se hoje existe uma campanha pela desmoralização da cesárea desnecessária, ela fez por onde para merecer.

Ninguém perderia seu tempo falando mal de cesariana se ela, na prática estivesse fazendo simplesmente seu papel que é reconhecidamente sagrado: salvar vidas.

O problema é que a cesárea quando desnecessária ou mal indicada pode matar mais, adoecer mais e lesar mais do que a integridade física. Isso não é menos importante só porque ninguém liga para mais nada senão para seus preconceitos ultrapassados.

Vivemos em um tempo onde os conceitos não têm qualquer independência, apenas se adaptam ao que nos convém desde que sejam ditos de maneira adequada (tipo a melô do acomodado “O acaso vai me proteger, enquanto eu andar distraído...”).

Então a mulher que desejar muito um parto natural e por ventura passar por uma cesárea, necessária ou não, terá que viver sua dor, “exorcizá-la”, para depois renascer ainda mais forte. A dor desta mulher é dela e o máximo que podemos fazer, depois que já aconteceu, é apoiá-la se ela quiser. Mas de fato, toda dor é grande e solitária.

Não é correto fingir que a cesárea desnecessária não é uma grande catástrofe para a saúde materno-infantil e para toda a sociedade.

Na verdade, é a deturpação da necessidade desta cirurgia que devia estar em cheque, não as criticas a ela.

A mulher que não viveu plenamente esse momento biológico e espiritual que é o parto tem o direito de saber a verdade, de criticar consciente o acontecimento, de despertar. Ela e seu filho sobreviveram, mas ela perdeu algo que lhe é muito importante e isto precisa ser respeitado.

O tempo trará conforto, mas só a verdade curará a ferida.

Então pro favor, não diga que isso não é importante e não peça para não dizerem que está tudo bem. A cesárea desnecessária merece a critica que a ela é feita, mas concordo que o parto natural deva ser muito mais exaltado do que ela.

Lutamos pela humanização do nascimento, mas sabemos que as vezes as coisas não são como planejamos. E para estas pessoas, temos que nos doar mais ainda como profissionais... Sendo meio terapeuta, sendo meio psicólogo, sendo totalmente amigo.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Aguardar Trabalhos de Parto

Eileithya - A Deusa do Parto

No momento, me encontro esperando para participar de meu primeiro Parto Domiciliar, além dos meus dois, claro! Depois de vários partos hospitalares finalmente este está chegando.

Esperar um parto de uma mulher é também esperar o próprio parto.

Quando acompanho uma gestante que realmente quer viver seu parto, eu engravido também. Não sei explicar, só gosto que seja assim.
Mas nada como acompanhar uma mulher que acredita em si.

Estou aqui para ajudar qualquer uma que queira tentar, mas duas coisas me emocionam demais: uma mulher que confia piamente em si e a mulher que nasce, que se descobre em seu parto.

Talvez para quem olhe de longe, acompanhar parto de mulheres de baixo risco (vulgo “Filezão” na obstetrícia) seja fácil e nada desafiador. Mesmo assim há poucos que decidem sair da teoria e fazer, o que prova que a crença de é fácil é uma mentira. Os profissionais têm pânico de assistir PDs simplesmente porque não sabem, têm muito medo e também porque não querem ter o trabalho de aprender.

Ou seja, falar que é fácil é fácil!

Mas o grande lance de ser assistente de partos naturais é se dispor a aguardar, abrir mão de feriados, reconhecer o que é natural, o que foge ao fisiológico, saber o limite, enfim sentir, esperar saber e fazer...

O mérito estar em viver de fazer o bem. Ter salário vindo de boas vindas aos bebês, de mulheres extasiadas e pais sem palavras. Não há melhor profissão no mundo!

Às vezes me sinto egoísta por ser tão apaixonada por partos. Afinal faço isso por mim também. Me sinto bem, revivo as minhas próprias experiências, tomo emprestadas as emoções de outras mulheres, ajudo a construir um mundo melhor para mim e para os meus filhos.
Quero dizer que não faço isso somente por altruísmo.

Existem momentos, onde eu gostaria de não ser tão apaixonada, porque sofro pessoalmente quando não dá certo, porque me envolvo demais, porque parto é coisa séria e deliciosa demais pra mim.

Mas sou assim, pois simplesmente não há outra saída. Não há mérito nem demérito. Simplesmente nada mais me satisfaz tanto. Nenhum outro trabalho me traz o que este me traz. Nada mais me envolve, realiza e me faz tão feliz.

Quando eu assisto um parto não faço por caridade, não faço só pela mulher, mas também não faço só pior mim. Eu faço por um mundo melhor que acredito virá através das crianças que vem ao mundo através das minhas mãos.

É um trabalho difícil, porém também digno, importante e belo. Um sacerdócio que não deixa oportunidade de escolha para seus devotos por ser tão sedutoramente simples.

Eles já me visitaram