- O parto Natural e humanizado de verdade - A maneira segura e emocionante de ajudar mulheres trazer crianças ao mundo

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Porque partos domiciliares não dão errado

Hoje tive a resposta para o que busco há tempos. Eu tinha muitas teorias, mas agora vieram as certezas.
Tive meu primogênito em julho de 2002 e desde então convivo neste meio. Isso também se deve ao fato de eu ser enfermeira e ter mais acesso a muitas pessoas relevantes no movimento.
Desde que comecei a observar estes profissionais, estas mulheres e as noticias, jamais tive a informação de que algum problema teria ocorrido em casa sem tempo e tecnologia suficientes para chegar ao hospital. Mesmo que estatisticamente fosse esperado, nunca ninguém morreu.
Certa vez uma amiga optou por um parto domiciliar. Ela tinha 3 cesáreas anteriores, apesar de uma gravidez completamente perfeita. Antes do inicio de seu trabalho de parto, foi ao hospital para ser avaliada pelo seu medico. Neste momento, já dentro da maternidade, sentiu dores no ombro, características de ruptura uterina, e foi operada às pressas e o bebê não sobreviveu.
Bom, este assunto é um tabu e divide as opiniões entre nós. Foi um episodio triste demais para todos e infelizmente muitos se aproveitaram macabramente para destilar seu veneno, culpando à mulher e os profissionais que toparam tentar com ela.
O engraçado é que ninguém culpou a nenhum de seus 3 cesaristas anteriores por suas cesáreas criminosamente mal indicadas e por suas suturas mal feitas que romperam seu útero ao primeiro esforço.
Enfim, este não foi um parto domiciliar. Existia a escolha, existia a co-responsabilidade, a consciência e o desejo. Tudo isto foi respeitado desde o principio, o que nos deu, além de tristeza, uma grande lição. Os profissionais foram criticados por deixar que uma “leiga” decidisse como seria seu próprio parto, um crime imperdoável para o nada misericordioso absolutista saber médico. Apesar do princípio ético ter sido respeitado, o trabalho de parto e a cesárea aconteceram no hospital, não em casa.
Hoje assistindo a um vídeo sobre meditação, compreendi porque os partos domiciliares tem sempre um final feliz.
A primeira razão, eu já sabia. Os profissionais que assistem conhecem o outro lado, a assistência hospitalar. Sabem o que a tecnologia pode oferecer, caso seja necessária. E, acredite, eles usam. De vez em quando acontece um parto normal hospitalar que começou em casa, ou até mesmo uma cesárea. Nunca saberemos caso estas cesáreas não tivessem sido feitas, se estas mulheres paririam em casa. O fato é que estas enfermeiras e médicos obstetras têm uma taxa de cesáreas baixíssima (5%, ao contrario dos 95% de maternidades particulares), de fazer inveja a qualquer hospital amigo da criança do mundo.
A competência destes corajosos colegas é o que dá a chance às mulheres darem à luz, como um dia suas mães lhe deram... Ou melhor do que elas, como foi meu caso, tendo nascido de um parto hospitalar abominavelmente intervencionista.
Digo corajosos não pelos riscos do parto domiciliar, já que são mínimos, iguais aos de um parto hospitalar de baixo risco; mas pela crítica a um sistema que não perdoa seus “adversários”. Corajosos por terem saído de suas matrix e conhecido um mundo novo, cheio de possibilidades e amadurecimento pessoal, fazerem disso sua profissão, sua missão e conseqüentemente seu legado.
Voltando ao vídeo, o narrador, com uma voz suave, dizia os passos a seguir para alcançarmos o estado de meditação perfeito. Foi quando ao final, ele disse “Neste estado Não há pensamentos, não há funções corporais, não há respiração”... -Não há respiração? – pensei – Mas e se alguém entra neste estado e morre?!
Então me dei conta que ninguém nunca morreu meditando. Inclusive estando há vários dias sem se alimentar ou sem orientação adequada... Assim como ninguém nunca morreu num parto domiciliar de baixo risco bem assistido.
E por que isto acontece?
É como religião. Não é a gente que escolhe, nós somos escolhidos... Depois que decidimos por um parto em casa, assim como quando decidimos expandir a consciência através da meditação, não há volta. Conhecer o outro lado tem este problema, saímos da acomodação, partimos para a auto-critica e para o trabalho. É um mundo meio solitário, mas a cada mulher que vemos ultrapassar seus próprios limites, temos nossa pequena recompensa pessoal.
Então os partos domiciliares nunca dão errado porque felizmente só chegam até ele quem realmente quer e está preparado.
A vontade, a coragem e a autoconfiança são características comuns às mulheres que optam por esta forma de trazer filhos ao mundo. E, por isso, não é para todas, afinal não é qualquer pessoa que decide sair da condição de paciente hospitalar para a de mulher dando à luz seu filho através de sua própria força e capacidade.
. Isso me deixa muito tranqüila e me amadurece para logo poder assistir e ajudar outras mulheres a parirem seus filhos em segurança, em seu lar.
É uma forma de devolver ao universo a gratidão por ter podido trazer meus filhos na paz, segurança e romantismo que só a minha casa, dentre todos os lugares do mundo, poderia ter.
Por isso fiz obstetrícia. Por isso estudo incansavelmente e por isso sou viciada nesta luta que é devolver às mulheres o direito de escolher, de mandar e de parir.

Querer parto normal

Existem sempre aquelas mulheres que “querem” um parto normal. Confesso que ainda me engano com algumas, até que o parto vem e a maneira como acontece, mostra se este era um desejo ou um devaneio.
Muito poucas mulheres que querem mesmo um PN não conseguem parir. Até mesmo algumas que não querem, acabam parindo se esperarem a hora.
E é mais fácil uma mulher que não deseja, conseguir parir, em boas mãos do que uma que queira, conseguir seu parto em mãos não hábeis, não preparadas e não disponíveis para isso.
Mas uma grande parte se conforma com a “indicação” da cesárea ao primeiro e frágil empecilho com uma facilidade questionável. E as desculpas para operar muitas vezes trazem dúvida quanto a sapiência do homo...
Será possível que a mulher que planeja verdadeiramente um PN seja enganada e aceite sem cerimônia uma cesárea? Ou será que seu desejo real é ser tutelada, protegida e curada de sua gravidez e ”destino incerto” de seu parto? Será que elas não assistem TV demais?
É um consenso – quase unanimidade - que optar por um parto domiciliar é uma afronta aos dogmas médicos (não dogmas científicos) atuais. Porém, infelizmente, mesmo encarar um parto normal até o fim já esta sendo considerado irresponsabilidade. Enquanto a cesárea é vista como um procedimento salvador quando - raramente necessário – e inócuo quando opcional. Uma manipulada inversão de valores que virou uma verdade social.
As evidências cientificas são ignoradas tanto quanto milênios de partos domiciliares. Sem contar nossos parentes mamíferos que vivem seus partos naturalmente até hoje pra quem quiser ver. A tecnologia não melhorou muito os indicadores de saúde mateno-neonatais, mesmo assumindo plenamente o papel outrora clerical, intimidando e dominando massas, da mesma forma.
Então quando alguém diz que deseja um parto normal, há que se escutar o que realmente quer com isto.
Há muitos sinais que mostrarão a qualidade deste querer, mas talvez o principal seja que esta mulher ou casal já tenha rompido com o sistema em algum seguimento relevante da vida. Isto demonstra coragem, não-vulnerabilidade e auto-confiança para resolver-se por si só, sem a ajuda de um hospital, por exemplo.
Você deve estar se perguntando que tipo de rompimento com o sistema esta pessoa deve ter cometido - Como um crime são eternamente questionados e criticados por agir assim -. Não são necessariamente os que citarei (não existem regras, somente caminhos), mas através destes exemplos, será possível compreender melhor: Vegetarianos - romperam com uma cultura altamente carnívora - ; moradores de ecovilas - romperam com a comodidade das grandes cidades - ; eremitas - romperam com a necessidade de viver em sociedade - ; famílias urbanas com grande numero de filhos -romperam com o padrão que dita quantos filhos devemos ter - ; um ateu - romperam com medo de não acreditar em nada - ou um budista convertido no Irã; existem vários tipos de rompimento!
Nem sempre estas pessoas estão á frente evolutiva de outras, assim como quem escolhe PN não esta necessariamente à frente de quem escolhe cesárea marcada. Tudo depende das razões que levaram às pessoas se tornarem o que são.
O fato é que quanto mais radical por algum ideal de vida, mais chance de conseguirem seus partos normais essas mulheres terão.
Indivíduos comuns sentem medos comuns, desejos comuns, possuem vidas comuns. A maioria é assim e, por isto nossa “sociedade em série”, consumista, dá tão certo em suas vontades e “necessidades”. Pessoas normais querem coisas normais. Pessoas diferentes precisam de coisas diferentes.
O parto normal, e vou além, o parto domiciliar pode ser o primeiro rompimento com o sistema, mas dificilmente este será o ultimo objetivo de quem viveu esta experiência. Posso falar por mim mesma. Para quem não pensa a respeito é loucura, simplesmente porque não é comum. Mas quem viveu sabe que o parto vivido plenamente abre muitos horizontes, dá força e coragem para lutar por esta causa e por outras.
De qualquer forma, esta experiência modifica a vida e a visão de quem a vive para sempre.Esta é a recompensa.

Aventureiros

Esta semana uma homeopata amiga minha falou de parto domiciliar para uma gestante que queria desesperadamente um parto natural. Dizia que ela, apesar da aparência, era uma mulher forte e com o desejo verdadeiro de parir. Até que teve a resposta “Eu só quero um parto normal. Não sou uma aventureira...”.
Por que “aventureira”?
Nossas avós eram aventureiras?
Os profissionais que ajudam as mulheres a parir livres deste sistema ditador são “aventureiros”?
De fato, nossas avós não tinham o recurso tecnológico para ‘escolher”. Este recurso marketeiro de uma sociedade doente e sem fé.
Elas aceitavam a vida como ela viesse e tinham muito sucesso. Claro que as pessoas morriam. Sempre morreram e sempre morrerão, acredite. Mas a morte não era uma derrota e sabiam lidar melhor com isto.
Então veio a tecnologia com a promessa de diminuir a dor... Dor da perda, dor do nascimento e a dor da morte. E como mostram as series históricas, ficaram só na promessas e mesmo assim deslavadamente continuam a culpar a natureza perfeita da qual viemos, ou seja, Deus.
As mulheres “querem” parto normal, desde que com o aval da deusa tecné*. Rodeadas de excessos raramente bem indicados, se sentem “confiantes” para dar a luz. As máquinas, os jalecos e as agulhas lhes trazem mais segurança do que seu lar, do que a própria cama onde seu bebê foi gerado.
E não entendem porquê dá tudo errado...
Mesmo nunca conseguindo parir naturalmente como planejam, sequer desconfiam que foram enganadas. E caem no erro repetidas vezes.
É mais fácil acreditar na sua incapacidade do que na do profissional?
Às vezes me intriga: estas mulheres querem realmente parir ou simplesmente serem tuteladas? Será que não levamos a sério demais a história do príncipe encantado no cavalo – ou jaleco – branco, nos salvando do destino cruel, sendo felizes para sempre?
Ao ver todos os dias a história lamentável de cesárea por cordão enrolado no pescoço e não ter passagem se repetir, questiono se não é realmente de uma cesárea indicada pela psiquê que estas mulheres precisam.
Assisti uma gestante pelo SUS de 41 semanas que foi avaliada por diversos profissionais além de mim. Definitivamente estava em pródromos há alguns dias, não em trabalho de parto, longe de uma alto risco ou sofrimento fetal. Com um desconforto grande para ela, saiu da cidade e se submeteu a avaliação de um profissional que, pagando, indicou uma cesárea por “falta de passagem”. E agradeceu só seu salvador pela cirurgia devido ao cordão enrolado... Eu falei mil vezes no pré-natal que isto não era indicação e que falta de passagem sem trabalho de parto não existe. Pois quando ela escutou estas histórias pobres vindas de outro profissional que aceitou operá-la por dinheiro, “acreditou” facilmente... E agora tenho a certeza de que ela só escutou o que procurou muito ouvir.
Fiquei pessoalmente magoada, porque acreditei que ela queria parir. Infelizmente ainda não me acostumei. Mas desejo-lhe o melhor, apesar de não ter respondido á minha oferta de ajuda no aleitamento e já estar praticando amamentação cruzada, mesmo com o discurso de que queria amamentar. Desta vez não me surpreendi....
A humanização do nascimento não tem nada a ver com aventura. Claro que parir pode ser uma delicia, mas é também seguro. Ser operada jamais será. O parto humanizado não implica somente em ter filhos através da vagina, mas dar a possibilidade da mãe e do bebê viverem este momento da melhor forma possível, com respeito incondicional.
E respeitar é muito mais difícil do que parece. Ainda mais se houver um cérebro tecnocrático formado pela universidade do medo no comando.
Os humanistas são caçados como bruxas na inquisição, com a diferença de que agora a ciência está ao nosso lado. Quando tudo que fazemos é devolver à mulher seu direito inalienável de parir. Dar direito e poder significa acreditar, apoiar e libertar.
“Tenha seu filho onde e como quiser, mulher!”.
Não, não somos aventureiros. Somos muito responsáveis. Jamais faríamos um procedimento desnecessário ou usaríamos a tecnologia indiscriminadamente, porque é indiscutível que isto não traz qualidade alguma.
Se existe coerência, aventureiro seria quem coloca vidas em risco para preservar um feriado, por exemplo. Nem a tecnologia pode salvar quando a mãe-natureza é tão amaldiçoada e menosprezada. O advento da cesárea não diminuiu os casos de paralisia cerebral e aumentou os problemas respiratórios e mortes maternas/neonatais, entre outras morbidades. E a sociedade fecha os olhos a isto.
Misteriosamente esta verdade não esta no inconsciente coletivo, apesar das estatísticas repetitivas e escancaradas ano após ano, década após década.
Não existe aventureiro neste movimento. Existe paixão, existe sabedoria, existe amor; aventura, não.
Chagará o dia em que os absurdos serão a exceção. O dia em que para se formar, os profissionais terão que antes aprender a usar os instintos e a empatia antes de tudo. O dia em que as mulheres serão as donas, protagonistas e rainhas de seus partos e não mais aceitarão serem maltratadas e subjugadas.
Certamente não estaremos lá para ver, não nesta existência. Mas não há outro caminho para a evolução humana, senão o amor pleno e o respeito incondicional, desde o nas cimento até a inevitável morte.


* Nome dado carinhosamente à tecnologia pelo meu querido amigo obstetra com nome de cowboy.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Marcio Garcia & Andréa santa Rosa

O que este admirável casal fez esta semana não poderia passar despercebido. Ainda mais por ter sido uma evolução consciente e gradual.
Eles são realmente belíssimos fisicamente. Mas a beleza física por mais impressionante que seja é apenas a menor da que podemos observar.
São um casal jovem da TV e seriam mais um, senão por algumas diferenças fundamentais.
A primeira é que apesar das tentações que ambos devem ter, sempre demonstraram sobriedade, amor e lealdade em seu relacionamento. Isso por si só, já os colocaria numa parcela muito pequena do meio em que vivem. Mas serem felizes como casal e como uma família mediana não lhes bastou.
Não sei se sabem sua história, mas o primeiro filho deles nasceu de uma cesárea que eles mesmo compreenderam ter sido desnecessária. Em uma entrevista, demonstraram sua insatisfação coerentemente com o procedimento e, decididos, resolveram conhecer mais e crescer... E Cresceram.
A segunda filha nasceu de um parto normal hospitalar que eles julgaram ter sido um acontecimento melhor do que o primeiro e se mostraram impressionados com o universo de cesáreas. É sempre assim quando começamos a sair da Matrix cultural Obstétrica.
Como este segundo parto foi não só normal, mas também doulado pela Fadynha, uma famosa doula e uma das principais figuras de humanização do nascimento do RJ, era natural divagar sobre a possibilidade de um parto domiciliar para um próximo filho. Até que o Marcio apareceu na TV dizendo que só os dois já dava para rir e chorar. Então não seria desta vez ainda que teríamos um casal famoso não só conhecendo, mas também experimentando um parto em seu lar.
Enfim há alguns meses ela surgiu novamente grávida. E seria impossível não pensar sobre isso, já que eles foram evoluindo... Cesárea – Parto normal hospitalar... Parto domiciliar. Seria uma excelente experiência para eles e uma força para o Movimento de humanização.
Confesso que queria muito, mas como já vi outros artistas falando deste desejo e terminando em cirurgia, procurei não me iludir.
Mas não é que eles conseguiram?!
Ontem a notícia estava estampada pra quem quisesse ver “Andréa Santa Rosa e Marcio Garcia têm seu filho em casa” e com a mesma parteira que aparou os meus filhos.
Eu queria contar a todo mundo: não sou louca... Tive meus bebês em casa com toda segurança, como a Andréa fez. Foi a informação e o romantismo que me levaram a isso, não a aventura... Assim como foi com ela.
Não tem a ver com coragem... Tem a ver com despertar e decidir.
A sociedade está imersa num oceano de medo, achando que a cesárea nos salvará da dor e da morte, na prática, o que ela vem provocando é mais dor e mais morte, ao contrário de seu objetivo inicial.
A cesárea jamais diminuiu o índice de óbitos, paralisia cerebral ou dor. Uma cirurgia dói muito mais do que um parto, por este motivo, sempre precisa de anestesia – as vezes geral – e quando ela passa, só os remédios poderosos para minimizar a dor que a ferida provocada gerou.
Eu, a Andréa e mais uma leva de mulheres somos vistas como loucas, irresponsáveis, rebeldes ao sistema. A única verdade é que nos rebelamos a este modelo aterrorizador obstétrico que vê as mulheres como defectíveis e o parto como um momento de perigo, não fisiológico, de insegurança e tensão.
Nós o vemos com alegria, tranqüilidade e paz. That´s the diference!
A Andréa e o Marcio tiveram uma trajetória interessante. Passaram por todas as experiências dentro da obstetrícia. E conhecendo as duas primeiras, optaram pela forma mais natural que poderiam escolher.
Não os conheço e provavelmente jamais conhecerei. Mas torço por eles tanto quanto quero bem aos meus amigos. Eles se mostraram maduros, coerentes e fortes. Estou muito orgulhosa por terem conseguido e por acreditar que todos os meus esforços não-remunerados daqui de longe contribuíram para isto.
Parabéns... De todo meu coração.

Memórias de um Ex-cesarista

Antes eu era um obstetra normal. Era chamado para as festas corporativas de final de ano, dormia a noite inteira e raramente recebia ligações de gestantes nos feriados. E se acontecesse, eu ligava para um colega de plantão e ele operava pra mim.
Tinha uma vida social e ia a todos os compromissos pré-agendados, inclusive minhas cesáreas. Tudo pontualmente.
Foi quando conheci a Clara, uma enfermeira recém formada em obstetrícia, contratada para humanizar o parto numa das maternidades em que eu operava. Essas “pressões do governo para reduzir cesárea, sabe como é. Pensei que fosse só pra constar. Afinal, eu já tinha uma postura muito humanizada, oras. Entre a extração do bebê e a seção de tubos nasais da pediatra, eu mostrava a criança rapidamente para a mãe, que ficava emocionada. Mas a pediatra precisava fazer o trabalho dela e isso era o prioritário naquele momento. A mãe teria o resto da vida para curtir. Uma noite sem ele, não mudaria nada.
Enfim, esta Enfermeira começou a conversar com as gestantes que chegavam antes de eu chegar, até que um dia, as peguei numa posição constrangedora: ela e a “mãezinha” de cócoras! Até então só tinha visto tamanha acrobacia em filmes eróticos muitos selecionados. Peguei a doente e operei antes que acontecesse algo pior.
Um dia quando fui ao hospital após a ligação de uma paciente “pós-termo” (40 semanas) e, enquanto me paramentava, escutei um gemido suave e um choro de bebê. Corremos para salvá-los, mas já era tarde. O feto nasceu de um parto completamente “contaminado”. E por sorte, ficaram bem, e tiveram alta após uma semana de nosso ritual de descontaminação. Fizemos o que pudemos: antibióticos, desinfecção, . Nunca cheirei tanto éter na vida.
...Por pouco não cai no chão. Nas mãos de uma enfermeira que dizia “Acostume-se, ‘doutor’, no futuro os partos serão assim...” O que ela sabia sobre futuro com estas práticas retrogradas? Foi muito traumatizante pra mim, mas pelo menos, ambos sobreviveram.
O que mais me preocupava era: como aquela criança conseguiu nascer – e bem – sem um médico por perto. Isso ia contra tudo o que eu havia aprendido e acreditado.
A gota d´água para eu deixar aquela maternidade foi no dia em que essa irresponsável acendeu um incenso e colocou o CD da Enya... ‘Pra relaxar’, dizia ela.
Pois eu pedi contas imediatamente! Dois meses depois já tinham reduzido a taxa de cesárea de 95 para 75%. Era demais para mim e eu não poderia compactuar com os riscos a que estavam submetendo mãe e feto naqueles partos sem controle.
Parecia até que o parto era das mulheres, não um ato médico!
Neste novo emprego, contei para o diretor-médico todas as coisas que fui obrigado a assistir e acabei me abrindo demais ao contar que estava fazendo análise por causa desses traumas. Numa dessas seções, até chorei.
Mas este colega compartilhou de minha dor e foi solidário ao garantir que isso só se repetiria por cima do cadáver dele. Mas aí ele morreu no mês seguinte e o substituto colocou como principal meta diminuir as cesáreas, meu Karma. Eu estava quieto na minha... Mas quando vi meus próprios colegas de plantão oferecendo água pra parturiente em pleno trabalho de parto, não pude me conter! O que mais faltava acontecer? Abolir a episiotomia de rotina? Foi o que aconteceu...
Decidi que trabalharia numa maternidade particular, onde jamais seria importunado.
Novamente comecei muito bem até que auxiliei na cesárea de um colega mais cesarista que eu. Ele conversava sobre a festança de reveillon que tinha promovido e que passaria o carnaval na Bahia, por isso estava “desafogando” sua agenda. Parei para olhar aquela cena... Percebi que o assunto ignorava completamente o belo momento que estava acontecendo e que ele estava operando várias grávidas só pra poder viajar no feriado. Percebi que eu já havia feito aquelas coisas, mas ver outra pessoa fazendo igual me despertou algo estranho... Como uma lamentação.
Com o papo, ele acabou esquecendo de mostrar o bebê à mãe.
Numa sexta fera, outro colega me ligou agendando uma “cesárea de emergência” (por cordão enrolado...) para a terça seguinte. Por mais tapado que eu fosse, tinha outro entendimento sobre emergência...
Assim foi indo... Mas devagar essas situações começaram a me incomodar.
Tempos depois, uma gestante chegou ao meu consultório com 12 semanas já falando que teria um parto normal. Vê se pode... Nem estava na época de pensar nisso! Primeiro teria que dar tudo certo – tudo mesmo! – e durante o pré-natal certamente apareceria alguma intercorrência que me obrigaria a indicar a cesárea, era sempre assim.
Mas eu disse que tudo bem porque este era um uma situação distante e concordei que parto normal era melhor, desde que TUDO estivesse perfeito.
As semanas estavam se passando e e nada dela aparecer com sequer um exame alterado. E olha que o que eu mais pedia era exame! Pior é que eu era representante dos médicos no conselho do hospital e tinha uma reunião para reivindicação de um novo centro cirúrgico exatamente na mesma época prevista para este parto. Esta reunião me traria status na corporaçao. Mas seria muito azar ambos acontecerem exatamente no mesmo dia e na mesma hora! Então continuei procurando meus motivos minimamente coerentes para operá-la antes e me salvar do meu destino incerto...
O grande dia chegou. Ela entrou em trabalho de parto sem um sorinho sequer, pode acreditar. Cheguei logo depois tenso porque o “muito azar” aconteceu e estava quase na hora da tal reunião. Ela estava abraçada ao marido e, vai entender, tinha escurecido o quarto. Fiquei desconfortável, porque como eu faria meus procedimentos altamente tecnológicos sem luz? A hora da reunião se aproximava e os participantes muito ocupados, não me esperariam e os colegas me matariam se eu não aproveitasse a oportunidade. O novo Centro cirúrgico beneficiaria a todos que poderiam operar mais e atrair mais convênios para si e para o hospital.
E eu lá preso!
Já estava nervoso com a pressão alta - Nao da gestante, a minha! Saí, voltei, saí de novo e quando voltei peguei a parturiente numa posição que nem minha mulher fazia nos melhores dias: de quatro.
Custou, mas consegui o telefone daquela profética enfermeira obstetra. Ela me pediu pra ficar calmo e que o parto se faria sozinho, se eu deixasse a natureza agir. Que mane natureza! Quase xinguei, mas estava tão tenso que decidi relaxar. Já tinha perdido a reunião mesmo e o pior que poderia acontecer era o bebe nascer sem dar tempo de eu chegar a porta ao lado. Fui para o quarto dos médicos em alfa. Uns disseram que eu tinha que ficar lá, fazendo alguma coisa, que eu estava maluco... “Negligencia!”, nem liguei. Acho até que a paciente não me queria lá naquela hora. Coloquei a Enya no meu MP4 e cochilei. Acordei duas horas horas depois com a supervisora me chamando.
Quando cheguei no quarto dela, já não pude fazer mais nada, senão ver aquele bebê coroando e saindo de sua mãe. Sem fórceps, sem episio, sem nada. Na cama. Antes que eu pudesse chamar o pediatra, ela tomou o filho em seus braços e começou a niná-la entre lágrimas e devaneios. Eu precisava fazer alguma coisa, qualquer coisa, mas fiquei estático. Parecia que se eu me aproximasse, estragaria algo, sei lá. Por incrível que pareça, achei lindo e me deu um nó na garganta. Mas eu tinha que parecer profissional e não me emocionar.
Não havia laceração (nem sabia que era possível nascer sem episio), o sangramento foi moderado, mas logo cessou e eu mesmo pedi ao pediatra para não levar a criança para o berçário.
Mal podia dirigir de volta pra casa. Estava deliciosamente chocado.
Comecei a ver as coisas que estavam na minha frente o tempo todo e jamais pude ver. Me arrependi pelos tantos procedimentos que executei, sem criticar. Lamentei as oportunidade de crescimento que furtei as famílias em meu benefício. E o melhor de tudo: percebi que não precisava continuar sendo assim.
Fui pra casa, li o site da Parto do Princípio, HUMPAR, Amigas do parto, me perdi em tantos blogs, em especial o da Dydy (hehehe) e, confesso, me filiei à REHUNA.
Isso foi há dois anos.
No 1º ano, me tornei o médico que mais fazia partos normais na região e isto me levou a conhecer muitos colegas semelhantes. Fui convidado a dar palestras, meu consultório encheu. Minha mulher disse que eu estava menos presente, mas era muito mais feliz nos momentos em que estava com minha família.
No último ano fui convidado para trabalhar numa casa de parto e há seis meses uma cliente me convidou a assistir o Parto domiciliar dela.
Hoje tenho uma equipe: eu, a clara – aquela enfermeira-Enya – minha esposa que fez um curso de doula e um pediatra que converti á humanização, mas ele raramente precisa aparecer lá.
Minha vida agora não tem mais rigidez de horários, metas e patrões. As mulheres são as minhas patroas! Estou sempre a espera para aparar alguém que vai nascer e nada mais. Incrivelmente, a consciência de que eu não preciso fazer muita coisa num parto me trouxe uma imensurável satisfação.
Sei que não estou cometendo um erro, ao contrario do que nossa sociedade não preparada acredita. Estou seguindo meu código de ética, respeitando o desejo das mulheres que me procuram e as evidencias cientificas. Desta forma, o que poderia estar errado?
Entendi que o corpo feminino é perfeito e que o máximo que precisarei fazer é ajudar, de vez em quando.
Compreendo e pratico o sentido profundo da humanização, não mais o simplista superficial. E agora que o conheço, não resta mais alternativa, não há mais volta.

Obrigado pela atenção.

Assinado: Um ex-cesarista convicto e atual parteiro...

Parteiras

Tenho conversado muito com parteiras. Algumas mulheres que assistiram a vários partos e me deram dicas valiosíssimas para o sucesso dos nascimentos.

Engraçado que apesar de tamanha sabedoria, não existe soberba, desejam repartir comigo seu conhecimento, me fazem sentir respeitada por dar continuidade ao seu oficio e são muito femininas.

Elas realmente acreditam na força da mulher, nos instintos e em Deus.
Reconhecem de longe sinais de problemas e sabem mais do que qualquer assistente urbano de partos. Sem a menor duvida. Sempre dizem que é a mulher que faz seu parto e que, o Maximo que podem fazer é ajudar de vez em quando.

Me irrita profundamente ver esta sabedoria sem limite subestimada por quem não conhece este trabalho nem a verdadeira obstetrícia. É obvio que quem menospreza o trabalho de parteiras não o conhece e não sabe o que está falando.

Pelo menos gratidão deveríamos ter por elas. Mas como é de nossa natureza amarga, usamos termos nada a ver como “curiosas”, o que só demonstra ignorância. São curiosas, e sábias. E conhecimento de verdade não se encontra em toda esquina, infelizmente.
Elas sempre tiraram leite de pedra. Quantas manobras corajosas não foram realizadas em detrimento de cortes e retiradas rápidas de bebês do útero materno sem sequer tentar...

Estas mulheres trabalharam de graça, levaram a serio seu sacerdócio e nunca deixam uma mulher na mão. Seriam incapazes de “agendar” um parto para curtir o feriado sossegadas ou aterrorizar para garantir o procedimento e remuneração.

Ontem perguntei a uma delas se ela sabia quando um parto não aconteceria naturalmente e, sem hesitação, me respondeu: “Quando a mulher desde o principio do TP diz desesperada que não vai conseguir. Esta, você pode contar que não vai conseguir porque não relaxa lá em baixo.” Ela deixou claro que não estava falando das parturientes que, a certa altura cansadas e com dor dizem que não agüentam mais. Ela falou da mulher que inicia um TP dizendo estas palavras de forma ansiosa e decisiva. E, mesmo sem ter assistido as uma reação assim, fui remetida a algum lugar de mim que sabia exatamente do que ela estava falando.

O mais intrigante é que sua descrição sobre manobras, posições, proteção perineal, demoras, variações e complicações é a mesma descrita nos livros, mesmo sem ter jamais lido um. Na verdade, suas informações são muito mais claras e acessíveis do que qualquer Tratado de capa preta de mil paginas... E suas intervenções, quando há, muito mais simples e eficazes. Esta por exemplo jamais perdeu um bebê.

Descobri que a maior cesarista das redondezas nasceu em suas mãos, num parto fácil, rápido e indolor. Que ironia do destino.

Falar de um país sem memória explica desprezar nossas parteiras. A elas a humanidade deve todos os seus nascimentos por milênios. Mas ao contrário, são caçadas como bruxas, curiosas inconseqüentes, que só tem lugar onde os médicos não querem ir.
Estou trabalhando muito para ser uma delas. Lendo, observando, esperando e descobrindo a magia que têm estas adoráveis aparadoras de bebês.

Não desistam, passem esses conhecimentos adiante. Trabalhem! Ainda tem muita gente grata a vocês.

domingo, 9 de novembro de 2008

A belíssima medicina baseada em evidência

Esta verdadeira obra prima da humanidade, a medicina baseada em evidência é o principio regente de toda lógica médica. Ou deveria ser. Seu principal objetivo é não permitir que achismos e conveniências pessoais se sobressaiam à verdade médica.
Pudera todos conhecessem ao menos os princípios que fundamentam os estudos baseados evidências... Do leigo ao PhD. Seria uma grande troca e as pessoas poderiam se responsabilizar de fato por suas escolhas, então, conscientes.
Ela é tão bem resolvida que seu nome se auto-explica, dispensa comentários. É “evidente”!
Ela tem bases sólidas e combate despretensiosamente o que chamo de “mimismo”. Conhece o ”mimismo”? É a “ciência” de se usar como única referência para sua conduta. Este profissional justifica todos os seus procedimentos intervencionistas com tristes episódios isolados que viu acontecer um dia e procede como se o perigo fosse a rotina - não a exceção -, porque quase sempre suas memórias são de tragédias obstétricas mal investigadas.
Reconhecemos este perfil em falas clássicas: “”Para MIM, este é o procedimento...” “,Na MINHA experiência...”, “EU sempre...”, Se acha que faz melhor do que EU, faça você e não ME responsabilizo”, “De acordo com a MINHA experiência...”, “O médico aqui sou EU”... Quem nunca escutou ou disse uma frase dessas que atire a primeira pedra. E o pior, ditos cheios de orgulho.
Jargões a essas alturas derrubados pela “salvadora” medicina baseada em evidência, que não acha nada, mas prova ou dá um norte a tudo. E faz destes clichês, argumentos pobres demais para sobreviverem.
A obstetrícia é a mais difícil área da medicina para quem não acredita na perfeição da fisiologia humana. E que o contrário disso não é a rotina, merecendo cuidado adequado. Infelizmente a grande maioria dos profissionais de saúde, inclusive os bem intencionados, está eternamente a espreita de uma catástrofe obstétrica. Esperam o pior e por isso, intervém tanto. Como se toda mulher com um bebê na barriga fosse uma bomba-relógio, ignorando toda uma história natural de sucesso... Afinal, se não o fosse, não teríamos chegado até aqui.
Lidar com a doença não é fácil, mas lidar com o natural é ainda mais difícil para quem foi treinado “ajudar”, “mexer”, intervir.
Os médicos não são maus. Só acredito que Enfermeiras e obstetrizes podem fazer um trabalho mais satisfatório com gestantes de baixo risco, saudáveis, porque legalmente não dispõe de recursos tecnológicos (fórceps, cesárea). Não habilitados, acabam se especializando em estudos de técnicas mais naturais para o desenrolar do trabalho de parto. E quando nada é necessário, fazem (ou deveriam) seu melhor trabalho: observar.
É fatal: se a tecnologia está próxima, ela será utilizada. E as evidências demonstram que elas atrapalham mais do que ajudam, quando usadas descriteriosamente.
O fato é que a história seria bem outra se a obstetrícia baseada em evidências fosse soberana. E certamente haveria menos erro, menos seqüelas e menos mortes se arrastando Karmicamente pelo cenário brasileiro.
A luta humanista é fazer com que profissionais e a sociedade resgatem a crença no poder do corpo feminino e na arte de observar e não atrapalhar -algumas vezes, não fazer absolutamente nada.
Não é mais tolerável escutar passivamente todos os dias mulheres lamentando “Eu não consegui...” sem tentar verdadeiramente. Isto não é normal, isto não é saudável.
Muitos dos que combatem as evidências, não faz pelas mulheres, mas pela necessidade habitual de contestar tudo que é diferente. O tempo não parou nos tratados que indicavam episiotomia de rotina...
Se mediante juramento, nos propomos a seguir a ética e a ciência, por que não dar ouvidos à boa nova do nascimento e reconhecer que não sabemos tudo?
A mulher tem muito a nos ensinar.
Não há porque se conformar, há muito trabalho a fazer. Estamos juntos neste barcos e precisamos ser humildes para nos ajudar. Eu arrisco dizer que estamos a beira de uma revolução obstétrica. Não sei como será, mas que não der a devida atenção à ciência, à responsabilidade e à ética não permanecerá.
Sonho com um mundo em que as maquinas estarão a serviço do homem – não o contrário – e que a vida seja respeitada desde antes do nascimento até depois da morte.
A medicina baseada em evidência que emerge agora é o “messias” (!) que esperávamos e veio pra ficar.

sábado, 8 de novembro de 2008

Como transformar um cesarista em um potencial humanista

Os profissionais que assumem que suas taxas de cesáreas são altas por sua própria conveniência, honestamente, não representam um desafio para o movimento de humanização do nascimento. Eles são o que são, deixam claro e somente a mulher que deseja uma cesárea o procurará. Não entrarei no mérito da informação ou desinformação desta mulher que se expor a riscos desnecessários. Da forma como a sociedade está hoje organizada (?), este profissional é até necessário.
O que encaro como um grande impasse é o profissional que se diz (sutil ou arduamente) a favor do parto natural, mas tem 80% de cesarianas no currículo.
E o pior disso é que sua habilidade é realmente maior na cesárea, sendo o PN um evento esporádico e inseguro. O que gera tensão e intervenção.
Alguns dizem que são as mulheres que pedem e marcam a cirurgia, quando há pesquisas científicas, dizendo o contrario. Mas mesmo à luz desta hipótese, se realmente este profissional é a favor do PN, como se submeter a realizar um procedimento infundado e inadequado à situação?
A este eu digo: você não precisa se conformar com isto. Quanto mais sua prática se aproximar de seu discurso humanizado, naturalmente as mulheres que querem parir virão até você, que jamais ficará sem trabalho e... Sem ética.
É óbvio que a quantidade de gestantes diminuirá e que a média paga pelos planos de saúde pelo parto não seria um pagamento justo por várias horas de trabalho de parto. E não haveria tempo para manter todas as clientes que tem hoje assim.
E é aí que começam as vantagens para o recém humanizado.
Primeiro, as que querem cesária absolutamente desaparecerão, pois não falta quem faça.
Em segundo lugar, o parto será melhor remunerado, tendo em vista seu destaque diante de outras práticas obstétricas, sua maior disponibilidade e seu diferencial.
Terceiro, com menos clientes, estará menos sujeito a erros por poder se dedicar mais e se vincular a cada uma das mulheres que acompanhar. Sem excessos, sem stress.
Por último – mas não menos importante -, você sentirá melhor até consigo mesmo por ter uma prática coerente com a lógica ético-científico-humana, feitas em juramento. Será convidado a explanar sobre sua experiência em evento tanto para mulheres quanto para colegas. O diferente chama muito a atenção e logo você será a referência regional de parto humanizado e redução de cesáreas. Acredite! É assim com todos.
Mas o prêmio “hors concours” da satisfação em ser humanista é poder ver e ajudar freqüentemente bebês nascendo em paz, mães mais seguras colocando seus filhos no mundo sem nada, senão sua própria força. E saber que sua presença fez toda diferença. Dando segurança, tranqüilidade, romantismo e o tom sagrado que todo nascimento poderia ter.
Não tenho muito mais palavras para tentar te fazer entender... Mas sei que se leu até aqui, existe uma semente em algum lugar.
Ainda não é tarde.
Tente. Dê o primeiro passo. Comece por algum lugar. Não digo que não seja solitário e difícil no início. Mas é um caminho apaixonantemente sem volta. E o tempo depende mais do quanto você quer, se dispõe e acredita do que do próprio destino.
De tudo, o que garanto é uma satisfação pessoal sem limites e uma vida mais produtiva, memorável e intensa.

sábado, 18 de outubro de 2008

Partos Agressivos

Seria irônico se não fosse trágico, quando alguém quer contestar minha paixão pelo parto natural dizendo que dói ou que é muito agressivo...

Primeiro tenho que dizer que em partos tradicionais as mulheres passam sim por procedimentos altamente invasivos, como episiotomia ou cirurgia cesariana e não entendem como posso achar o parto a melhor coisa do mundo.... Comparado com o tradicional, o tipo de parto que escolhi e pelo qual luto é uma benção.

Qualquer um que tenha assistido a uma cesárea se dá conta de que aquilo não é nada natural, mesmo que já tenha sidi banalizada.

Sabemos que as vezes é necessária e, se fosse usada com o propósito de salvar vidas, jamais estaríamos aqui discutindo esse assunto. Mas como a verdade é bem outra, questionar é uma obrigação.

Esses dias numa palestra sobre parto natural, um rapaz ironizou quando eu disse que o parto natural doía, mas não causava sofrimento. Sei que é difícil para a maior parte das pessoas compreender isso. Aliás, pouca gente questiona esses clichês sociais. É só parar pra pensar: é obvio que não é a mesma coisa.

Mas eu compreendo que os partos que ele assistiu foram os tradicionais, com procedimentos altamente intervencionistas e, assim, sua conclusão é tendenciosa, parcial. O que não entendo é porque insistiu em contestar a minha experiência, que ele nunca viu nem viveu.

Eu pensaria duas vezes para escolher entre um parto tradicional e uma cesárea para mim.
É porque os partos hospitalares normalmente não tem nada a ver com partos naturais. A começar pelo local que nem de longe lembra uma casa, um ninho a que todos os mamíferos recorrem para parir.

Como poderia não doer?... São tantas luzes, barulhos, regras, ordens, medos, procedimentos, jalecos, aparelhos, exposição, gente e mais gente... Tem que doer!

Mas num nascimento humanizado não há esse tipo de estresse. Então há este desconforto durante as contrações, mas ele vem e vai com elas.

A cesárea dá uma falsa sensação de segurança, pois há no mínimo 3 médicos à sua disposição (obstetra, auxiliar e pediatra), 1 enfermeira, 1 auxiliar e 1 instrumentador, aparelhos de monitorização com seus sons tecnológicos, instrumentos metálicos...O que não se divulga é que todo este aparato serve para minimizar os riscos peculiares a uma cirurgia de grande porte.
O risco está lá pra todo mundo ver, mas ninguém olha.

O parto domiciliar é hoje equivocadamente visto como perigoso, confundido com
uma assistência negligente, o que é um absurdo porque o profissional acompanha integralmente o trabalho de parto, o que dificilmente ocorre em partos hospitalares.

Então para começar a entender o parto natural, esqueça tudo o que sabe sobre ele. É mais fácil partir deste ponto e se informar para então poder ver a verdade.
Esta surpreendente boa nova do nascimento.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Boas desculpas para não ser perfeito

Nunca me conformei muito com o fato de algumas pessoas não buscarem qualquer informação antes de engolirem goela abaixo intervenções grandes e sérias, envolvendo seu próprio corpo.
Uma frase que deveria ser abolida da vida de qualquer ser empoderado é “São ordens medicas”. O poder dela é comparado a uma condenação jurídica por um crime importante, mas surpreendentemente muitos aceitam sem questionar. É como se não houvesse outra possibilidade a não ser “obedecer” àquele que “estudou para isso”.
Quando uma mulher conta aquelas historias clássicas de cesárea desnecessária, eu lamento profundamente, ainda mais porque elas acreditam ou necessitar acreditar naquilo.
“Não tive passagem”, “O cordão estava enrolado”, “Estava passando da hora”, “O bebê estava sofrendo”, “Meu útero era assim e assado”, “Eu sou muito baixa/alta”, “O bebê era muito grande/prematuro”, “Eu estava sofrendo muito, então o médico disse que não iria arriscar”.... ARRISCAR? E tantas outras...
Será que nossas mulheres não podem sequer ajudar a decidir por sua vida de parto? Falam tanto em “direito de escolher a cesárea”, mas nunca dão este direito àquela que quer parir. Ou seja, ela pode escolher quando a escolha for cesárea, mas quando for parto normal, quem escolhe é o profissional. Isto é, se não houver qualquer intercorrência, porque a mínima alteração é uma boa razão.
O corpo feminino é perfeito. Se concebeu, é capaz de parir!
Nada que possam dizer ou fazer nos transformará em mulheres-bomba. O parto é sempre uma surpresa, mas só porque não têm controle, não significa que sejam ruim. É uma surpresa boa.
Além do mais, é uma grande ilusão acreditar na segurança e controle de uma cesárea eletiva.
E as cesáreas de emergência? Como podemos aceitar estas tantas cesáreas de emergência pra semana que vem! Emergência é na hora, senão não passa de negócio... No horário comercial de preferência.
Felizmente há um “novo” modelo de mulher (e de homem) chegando para ficar. São pessoas instruídas e que não aceitam decisões autoritárias só porque não são médicas. Aliás, normalmente não é necessário saber muito para parir, senão que você é capaz.
Questionar e se informar são a solução para todos os mistérios por tras de elitizados e dominadores termos técnicos.
E as pessoas estão sutilmente reagindo ao modelo tecnicista de parto. Uma forte demonstração de maturidade social.
Cada vez mais gente informada, cada vez mais enfrentamentos, cada vez mais a mulher reassumindo seu poder.
Que orgulho....

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Uma bela segunda Chance

Há uns 3 anos, no PSF durante uma consulta para exame preventivo, conheci uma moça que darei o nome de Sofia. De cara, houve uma simpatia e confiança recíprocas. Durante os questionamentos rotineiros, perguntei sobre já ter tido sua primeira vez. Ela até tentou contar somente o essencial sobre sua vida sexual com o então namorado. Mas logo isso deixou de ser possível.
Eu não estava preparada praquilo.
Aos 8 anos, depois da escola, seus irmãos foram embora mais cedo e ela ficou brincando com umas coleguinhas ali perto. Ela só se lembra que, de repente, alguém a agarrou por trás e de ter acordado no hospital machucada. Simplesmente não se lembrava de mais nada e não sabia o porquê. Aquele ser a violentou tão gravemente quanto nas notícias que lemos em jornais sensacionalistas sanguinários.Com lágrimas nos olhos, mostrava sua incompreensão diante daquele ato sem demonstrar qualquer traço de ódio por aquele homem que ela jamais saberá quem era.Eu, pega de surpresa, não sabia que feições usar, que gestos fazer, que posição tomar...

E ela, em sua sabedoria simples, compreendeu.Contou que este era um assunto proibido na família. E há 10 anos, sufocava esta dor, solitariamente. Estava no seu limite emocional e chorava copiosamente.Foi uma das minhas passagens profissionais mais intensas e tocantes até então.

Desde este dia, nos vimos poucas vezes, mas em nosso olhar, é como se sempre trocássemos algo, como se soubéssemos algo muito íntimo sobre a outra, dividíamos o nosso segredo como duas amigas de infância.Ela se mudou de bairro e eu de PSF e novamente caímos no mesmo lugar, enfermeira - paciente - amiga. Agora ela estava grávida, falando bem de mim para as outras gestantes num momento em que isso era importantíssimo, e eu amei revê-la e ter a chance de cuidar mais um pouquinho daquele corpo e daquele coração tão feridos.Ela depositava em mim todas as fichas. E eu me aproveitei disso para lhe fazer o bem que eu precisava fazer a ela.

Dei meu celular, como não tenho o hábito de fazer, conversei, orientei e ela sempre fazia tudo que eu pedia. Mas nunca mais falamos sobre aquele assunto. Às quase 35 semanas de gravidez, ela me ligou falando sobre a perda do tampão mucoso. Eu a acalmei e pedi para avaliá-la no dia seguinte. Percebi que o colo estava dilatado praquela idade gestacional e o bebê, já descendo. O obstetra que a avaliou a seguir, concordou e também recomendou repouso.Uma semana depois, a bolsa rompeu, ela me ligou e pedi para ir tranqüila ao hospital. Nem precisei dizer que eu ajudaria em seu parto... Aliás entre nós este tipo de coisa nem precisava ser falado....Fui ficar com ela na maternidade. As contrações ainda eram espaçadas e não muito dolorosas, mas já estava com antibioticoterapia preventiva.. .

Enfim, usei nossos modestos recursos, bola, barra, caminhada e também a deixei um pouco em paz para seu cérebro primitivo trabalhar sossegado.Neste meio tempo, meu marido trouxe minha filhotinha de 9 meses para eu amamentar no hospital e matar um pouco a tradicional saudade. E esvaziar meus dedicados seios.

Eu, há tempos, “enamorava” uma obstetra - já uma senhora, recém contratada, com uma formação tradicionalista, mas muito interessada nas novas tecnologias para o parto natural – deixar parturientes escolherem posições espontaneamente, proteção períneal para evitar episiotomia de rotina, etc.
E Deus é tão bom para os humanistas que era o plantão dela!

Conversei bastante com ela sobre tentarmos assistir o parto da Sofia de cócoras, no leito e que eu faria a proteção perineal. Ela colocou soro com ocitócito e confesso que não tentei impedir porque receava que o parto demorasse e ela indicasse uma cesárea que era tudo que Sofia não queria.As dores ate então suportáveis aumentaram e o parto engrenou definitivamente. O colo, antes estacionado, começou a abrir e dar passagem ao bebê que decidiu descer. Logo depois, fiz um toque e vi que o bebê já estava bem baixo e o colo apagado e fiquei quietinha na minha. A médica ia fazer outro toque e eu disse estava evoluindo bem e o bebê havia descido mais. Com isso, ganhei mais tempo para a Helena (o bebê) fazer seu trabalho sossegado. Às vezes bradicardizava, mas voltava bem das contrações.

Perguntei a Sofia se queria ficar de cócoras ou outra posição e ela não quis. Ficou agressiva, como qualquer mamífero parindo sob holofotes. Quase bateu na cunhada quando foi fotografar, queria quebrar a máquina e ameaçou gritando não fazer mais força se ela mexesse na câmera!

A obstetra não resistiu a fazer outro toque e disse “já esta aqui embaixo!”. Eu perguntei “Vamos fazer aqui?” e ela concordou com a cabeça. Deu-me as compressas para proteger o períneo e chamaram a pediatra...A bebê coroou. Protegi o períneo na saída da cabeça e a emoção era tão grande que até esqueci de proteger durante passagem do corpinho. Tentei sutilmente impedir que a obstetra puxasse, mas ela não entendeu. Deve ter pensado “Como assim não puxar?”.Ela então veio, linda! Quase 2.800g. Não chorou rápido tamanha paz, mas o apgar deve ter sido bem alto, dava pra sentir. Logo ela veio pro colo da mãe aliviada.À cuidadosa inspeção, uma pequeníssima laceração superior que pedi a obstetra para não suturar e ela aceitou. Um períneo, na prática, íntegro que voltava rapidamente ao seu estado habitual.

Quase simultaneamente uma outra parturiente começou a parir. Coloquei-a de quatro e ela não queria sair desta posição, mas a pediatra pediu para levá-la a sala de parto para aspirar (a 2 metros de distância) porque tinha mecônio (como assim???). A obstetra contaminada com a humanização não pareceu muito afim, mas acabou levando. O períneo estava bem mais rígido, mas eu pedi para não fazer episio mesmo assim. Sei que não devia, mas tentei “amaciar” com os dedos, porque sabia que laceraria naquela posição horrível da mesa de parto. Então o bebê nasceu sem cortes provocados, com uma laceração facilmente suturável (que durou uns 15 minutos). O marido estava na sala e ficou muito emocionado. A nova mamãe chorava de emoção. O mecônio, como eu já esperava não fez mal algum ao filho e ele veio rápido para os seus braços.

Falei à obstetra que eu precisava ir porque já estava tarde e meus seios estavam cheios de leite. Ela agradeceu muito a minha ajuda. E o legal é que eu realmente senti esta honesta e surpresa gratidão.

Voltei à Sofia para me despedir. Ela também me agradeceu muito... Tinha aquela cumplicidade no olhar que se entende tudo, tão peculiar entre nós. Combinei de voltar no dia seguinte e dei-lhe os parabéns.

Fui embora de alma lavada. Minha mãe estava em minha casa de passagem e pouca atenção pude lhe dar. Acordei cedo no dia seguinte para voltar ao trabalho, afinal tinha sido apenas uma segunda feira agitada. Fui vê-las e mais uma vez demonstrou sua gratidão, pediu desculpas se tinha feito algo errado e respondi que era eu que devia agradece-la por ter permitido fazer parte daquilo.

Me traz muita confiança ter este tipo de atuação, mas o que mais satisfação é poder dar as pessoas as ferramentas que necessitam para se empoderarem de seus destinos e fazerem sua própria historia. Eu não estava lá por interesse. Nem mesmo recebi pelas horas que fiquei ali. Mas sei que foi um trabalho importantíssimo. Devagar, comecei a ajudar outras mulheres a parirem com dignidade e seus bebes a nascerem mais felizes. Acredito que assim, posso ajudar a construir um mundo melhor. Mas neste caso específico, evitando seja o corte da cesárea, seja o corte da episio, evitei mais uma violência contra àquela mulher. Um dia, aquela vagina e aquele anus tinham se tornado uma coisa só. Mas desta vez, ela estava intacta. Aquele períneo, um dia violado, desta vez estava perfeito. Conseguimos fazer seu bebe nascer sem machucar aquele local, antes desfigurado pelo estupro. Sua intimidade desta vez foi preservada. Conseguimos trazer seu maior bem ao mundo sem violá-la mais uma vez.
Talvez você não entenda o que estou dizendo e eu não sei se consigo explicar o que sinto. É difícil compreender sem passar pela situação e sem ter noção da sutileza sexual feminina. O que posso dizer é que foi o compromisso pessoal de uma mulher com outra. Eu sei que, se não estivesse lá, a Sofia sofreria outro corte, mas minha participação deu a ela um parto seguro, intenso e humanizado, não simplesmente um evento médico sem emoção. Zelar pela sua intimidade era essencial para a sexualidade daquela mulher e nosso mérito está em termos vencido esta pequena batalha. Mas ter ajudado foi essencial pra mim.

Estou muito feliz por ter feito parte da historia desta admirável mulher. Não só mãe e bebês estão vivos, mas também estão íntegros, apaixonados e cheios de dignidade.

Este é meu maior trabalho e minha doce vitória.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Tecnologias...

Os argumentos contra o Parto domiciliar é que são ultrapassados e ilógicos! Dizem que a tecnologia deve ser usada quando necessária, mas não dão a mesma ênfase a evitá-la, quando desnecessária. Negar o PD é contradizer (sem bons argumentos) uma história de indiscutível sucesso.

Devemos a ele a existência da humanidade. A ele e às parteiras tradicionais, antes chamadas de “bruxas” e agora de “curiosas”. Realmente... bruxas e curiosas sabem demais. O parto natural tem lá suas "tecnologias". Não dispõem de objetos metálicos protrusos, maquinas que fazem “PIP”, focos luminosos ou técnicas sofisticadas para fazer o que a natureza faz há milhões de anos sem muito esforço. Mesmo assim é uma "tecnologia" pra ninguém botar defeito.

Nossa sociedade medicocêntrica e pouco crítica crê em corpos altamente defectíveis, incapazes de resolverem-se por si só. Com medo de uma dor que pode nem existir, pedimos, negociamos, exigimos e barganhamos uma cirurgia arriscada para a retirada de bebês imaturos por meio de um corte em nossos sagrados úteros, sem sequer questionar. As vezes, sem parar prara pensar em como o bebê se sentirá sendo extraído do único mundo que conhece até então, antes de seu tempo. Uma atitude que tem como base o que é aceito culturalmente, que normalmente deixa a lógica e a ciência de lado.

A mulher diz que “quer” um parto normal, mas não se informa sobre a taxa de cesárea de seu obstetra tem uma chance imensa de ter uma cesarea. Normalmente se recolhe e se submete por medo. Simplesmente coloca sua vida e de seu bem mais precioso nas mãos de um médico (um ser humano como eu e você) e o responsabiliza pelo sucesso ou fracasso do procedimento que ele escolher e fizer. Não duvida, não critica e aguarda uma indicação médica no horário comercial para enfim “precisar” de uma cesárea salvadora. E tudo bem porque afinal, mãe e bebê estão vivos... Não é isso que importa?

O irônico é que, enquanto a OMS fala em 15% de cesáreas (no máximo), sendo o ideal de 8 a 10%, quase todas as mulheres com planos de saúde que conhecemos tiveram "indicação" clínica para fazê-las.

Ou demos o azar de conhecermos exatamente todos os 15% ou grande parte das mulheres está sendo enganada passiva e facilmente.

As cesáreas realmente necessárias são valiosas, mas jamais deixarão de ser seriamente perigosas só porque a sociedade se acostumou.

Por que não devolver à cesárea seu caráter de recurso médico? Sem preconceitos, conveniências e sem vaidades...

O bebê tem poucos desejos no útero materno, mas é certo e comprovado que tem apego á mãe e à vida. Se pudesse se expressar, nenhum bebê escolheria nascer assim, se lhe fosse dada alternativa. Simplesmente porque não é de sua natureza!... Qualquer um que já tenha visto uma cesárea com sensibilidade, percebe isto. É só olhar.

Esta forma de nascer pode trazer à criança insegurança, medo e até desespero. Ele é rapidamente mostrado à mãe e levado aos primeiros cuidados, longe dela.
Sua primeira percepção não foi materna, mas médica. O fato de não querer pensar nisso, não faz com que não aconteça. É obvio que este modelo de assistência ao parto já começou a rolar ladeira abaixo. Não agüentaremos por muito tempo.

As conseqüências deste afastamento mãe-filho nos primeiros instantes de vida, acompanhados de partos traumáticos ou cesarianas forçadas, estão se revelando mais tarde na sociedade.
Somos ativistas. Nem todo mundo precisa ser. Se você pelo menos tomar um rumo diferente, por sua decisão, já terá valido a pena. Como diz Odent, para mudar o mundo, precisamos mudar a forma de nascer.

Acredito que hoje, o parto domiciliar seja a única forma de reunir todos os componentes necessários para nascer feliz. E começar a mudar o mundo. De fato.

Mulheres de Princípio

Observando fotos das mulheres da rede Parto do principio, chego à clara conclusao de que sao realmente mulheres diferentes do usual. Nem melhores nem piores, antes que os críticos de plantao levantem a voz. Mas que sao diferentes são. Nao so pelos nomes, geralmente curtos, de significados profundos que dão aos seus filhos. Kael, Cora, Lis, Luigi, Luna, Loup, Liv ou mesmo Klauss e Aglaia!... Alias, nomes tao expressivos não sao mais do que o reflexo do que todo um comprometimento pessoal e especial com o parto. São mulheres diferentes entre si, entretanto com algumas semelhanças básicas. São sempre curiosas, corajosas, abertas, intensas, livres, femininas, intimamente ligadas aos seus filhos e sua educação e... Iinteressadas em dar boas vindas a eles em seu primeiro momento de vida. Outras mulheres tambem têm essas caracteristicas, embora nao tenham atentado para o quanto o parto natural é seguro e essencial npara o relacionamento mâe-filho. E há várias de nós por aí que ainda não descobriram que comungam do mesmo princípio. Quem sabe você! Alguns nos chamam de exageradas. Dizem que o parto nao é lá essas coisas e eles têm razão: é muito mais do que "essas coisas"! O parto nos tocou, porque nao é um evento arriscado ou uma passagem corriqueira. Não é assim que deve ser. O parto pode ser somente a forma como o bem mais precioso, o filho, vem ao mundo. E para outras, nós, é um divisor de aguas, um momento estritamente sexual, profundo e inexplicãvel como um orgasmo. Pena que nada que se possa falar, possa fazer outras mulheres - como é o caso de voce que está lendo isso agora - pensarem como nós, sobre a magneficência que um parto pode ser. Eu realmente gostaria de poder traduzir em palavras o sentido que meus partos fizeram em minha vida. Eu queria poder te comover, te fazer sentir como eu me senti. Queria poder te tocar para, pelo menos por um instante, voce divagar sobre o que pode ser um parto na vida de uma fêmea mamífera, que é simplesmente o que somos quando trazemos nossos bebês ao mundo. Mas o que eu poderia fazer antes que voce me contasse mais uma historia tragica de parto normal ou mais uma historia de como a cesárea "salvou" sua mãe, sua irmã ou voce e seu bebê da morte? Apesar desta cirurgia ter sido criada para isso, infelizmente, não é o que ela tem feito usualmente em nosso país (como sempre na contramão dos desenvolvidos). E você pensaria seriamente a respeito, se eu te desse mil explicaçoes científicas? Eu as tenho, mas quem as quer? Ou vai optar pelo medo como ja vi tantas outras antes de você? Eu e essas mulheres faríamos qualquer coisas para mostrar que o parto é uma etapa essencial da educação que daremos aos nossos filhos. Ou correriamos atras dos artigos cientificos que mostram claramente que não somos malucas, mas... Adiantaria? Além disso, o que nos motiva é algo além disso e isso nao esta escrito em lugar algum... Só em nossos corações. Se você e alguns médicos puderem compreender esse outro nível, essa coisa além que é um parto natural, jamais nos questionariam sobre riscos e a possibilidade de cesárea por opção. Se a a ciência e o sagrado sobressaíssem ao preconceito, a verdade emergiria e o pensamento da sociedade seria bem diferente. Nós somos mulheres que não correm da dor, se ela for trazer ainda mais força. Que desafiam o sistema por amor. Isso nao se ensina. A ciência é o alicerce do do parto natural, Não é perigoso, não é inseguro, não é coisa de bicho grilo natureba: é coisa de mulher. Somos fortes, frágeis, esposas, mães que lutam por seus ideais, desafiando toda a maré. Mulheres que não vêm problemas em serem meio bicho... Somos mulheres de fibra, maternais, apaixonadas e cheias de vida. E muito mais... Mulheres de princípio. *Uma homenagem a rede Parto do Princípio.

Decisão

É tristemente comum, uma mãe dizer que tentou um parto normal ou amamentar e não conseguiu.
Infelizmente para conseguir estas coisas, querer somente, não basta.

É possível ter estas experiências, mas é muito difícil sem apoio familiar– do pai em especial - e dos profissionais que a rodeiam.

Se a mulher acreditar que não tem passagem, que seu bebê é grande demais ou que uma cirurgia pode parir melhor do que ela mesma, se submeterá facilmente a uma cesárea “necessária” e de urgência (porém marcada); ou concordar com seu pediatra que seu leite não esta sustentando, que seu leite faz mal ou que a vaca tem melhores condições que ela para amamentar seu bebê humano, se deixará levar pelas maravilhas paliativas de chupetas coloridas e mamadeiras engraçadinhas...

Se esta mãe não acreditar em si mesma como a melhor provedora do melhor nascimento e alimentadora biológica de seu filho, como ela conquistará a autoconfiança necessária para fazer todo o resto?

Parir e amamentar são os primeiros grandes desafios da mãe moderna. Os profissionais, recebem pouco pelos procedimentos e se acomodaram em cirurgias agendadas, outros “acreditam” que as mulheres não são perfeitas para prover seus filhos em seus primeiros anos de vida, não estimulam as coisas naturais.

As mulheres, por sua vez, não confiam em si mesmas e se apóiam completamente em maldizeres alheios sobre sua capacidade inata e divina de ser mãe em todos os sentidos.

Não adianta ser vegetariano, entrar numa churrascaria e querer ser bem servido. Você pode até se alimentar, mas não vai poder exigir muita coisa. O mesmo acontece com as mulheres que querem parto vaginal e se consultam com profissionais de histórico alto de cesárea.

Há obstetras que desencorajam o parto, desde a 1ª consulta. Que indicam cesárea com falsas justificativas clinicas, submetendo crianças à prematuridade, às difíceis UTIs-neo e os pais, a um sofrimento desnecessário.

Seu assistente de pré-natal de parto é um prestador de serviços, como seu advogado e seu arquiteto, merece tanto respeito quanto qualquer outro profissional. Se você se sente enganada ou se a casa que o arquiteto não tem , são responsabilidades profissionais e você tem o direito de reclamar e exigir seus direitos em qualquer situação. Se não somos atendidos, se o profissional não têm a prática adequada ao desejo que temos, trocamos! Não tentamos convence-lo do contrário! Por que um obstetra, que é um profissional responsável, teria o direito de te submeter a uma cesárea sem você querer?

As pessoas fazem o que são treinadas para fazer... Então, se quer um parto normal, reflita e vá atrás de alguém que atenda à sua necessidade. Logo. Escolher uma pessoa assim para FAZER seu parto, não tem como dar certo e isto sim – não o parto em si – gera frustração.

Quem quer um parto empoderador, tem que começar, procurando um profissional que pense semelhante. Que a deixe a vontade, que não tenha mil compromissos, uma pressa inexplicável, enfim, que seja disponível. Que acredite que, no máximo, AJUDARÁ no parto, mas não que irá fazê-lo por ela. Tem que estar em sintonia, que seja, antes de tudo, um parceiro e, em algum nível, até amigo. Pode parecer exagero, mas se não for desta forma, esta futura mamãe acabará com o coração partido numa cesárea ou num parto difícil e cheio de intervenções desnecessárias... O que também atrapalhará a amamentação, porque, sem a ocitocina biológica do parto e cheia de dor pós-cirúrgica, seu leite demorará mais a descer e terá dificuldade em se posicionar. Tem tudo a ver.

As mulheres que têm cesáreas podem amamentar, mas há uma dificuldade a mais. Isto é, inclusive, uma orientação do Ministério da Saúde: incentivar o parto para, dentre muitas outras vantagens, facilitar a amamentação.

A mulher precisa da segurança que a capacidade de parir e amamentar traz. Isso não é pouca coisa nem é besteira.

Então, para começar a conversa: procure o apoio do profissional que tenha a ver contigo! Não espere milagres! Faça o milagre acontecer. Não caia em qualquer conversa. Procure outras opiniões, leia, vasculhe. A informação é muito mais fácil hoje em dia e nunca é demais. Basta procurar no lugar certo. Tenha sempre em mente que a cesárea não foi criada para ser uma opção, porque é um ato médico e agressivo, o último recurso. O parto normal não dói tanto assim (a menos que seja cheio de intervenções) e, além de existirem recursos para alívio, há mulheres que nem sentem dor. O parto normal natural também não desfigura a vagina nem atrapalha sua vida sexual, pelo contrário! Às vezes deixa a mulher até mais relaxada com seu próprio corpo, assumindo melhor sua sexualidade. Esta é uma experiência bastante relatada entre as mulheres que pariram naturalmente.

Amamentar e parir não é só legal, mas fundamental. Acredite que pode, procure o apoio, se prepare e vai acontecer. Seu corpo é perfeito. Você é capaz de tudo que quiser e estas são oportunidades únicas de experimentar sensações deliciosas e que você passará 2 ou 3 vezes, no máximo, em toda sua vida. Faça valer a pena. Porque, cá pra nós... Vale muuuuiiiito!

Se quiser, depois volte para contar como foi. Há vários grupos na Internet que podem ajudar. As verdadeiras indicações de cesárea são muito restritas. Não passe os melhores instantes de sua vida deitada e anestesiada sem necessidade, por favor!

E quando for necessário, seu profissional de confiança e seu coração vão saber e compreender muito bem, sem críticas e sem inseguranças o melhor caminho a percorrer. Mas a decisão de desejar é intransferível.

Pra que parir?

Muitas pessoas que vêem toda esta movimentação feminina e profissional pró-parto normal nos perguntam como pode ser melhor ter um parto demorado, dolorido e improgramável, do que uma cesárea rápida, anestesiada e com dia e locais previamente marcados, “sem” surpresas.
Como se é tudo apenas a forma de trazer a criança do útero pra cá fora? Como pode ser mais emocionante se ser mãe é ser mãe, independente da forma como o bebê nasce?!

Não vou nem tocar no aspecto do risco meramente físico, porque me recuso a acreditar que a maioria das pessoas informadas escolheria cesárea, que é a opção de maior risco. Não deve ser tão comum uma mulher verdadeiramente instruída quanto às possíveis conseqüências e livre de preconceitos escolher uma via de parto que proporciona a si mesma e ao filho mais riscos de doenças e morte.

É obvio que há um equívoco social tendencioso pró-cesárea, o vulgo preconceito. Se a escolha da cesárea estivesse diretamente ligada à informação, as norueguesas, dinamarquesas, japonesas e suíças não escolheriam o parto normal> Nesses países temos as mulheres com melhor qualidade de vida do mundo, as mais ricas, as mais inteligentes e saudáveis, respectivamente. E em todos eles, a taxa de cesárea é menor que 15% contra nossa media nacional de 30. Mas no Brasil, um país lindo e diversificado, mas também subdesenvolvido, cheio de preconceitos – e peculiaridades – tinha que ser diferente.

Aqui supervalorizamos a tecnologia descriteriosa. Como se, em qualquer situação, o uso indiscriminado da tecnologia significasse qualidade. "Melhor pecar por excesso".

Menosprezamos nossas parteiras, cujas mãos trouxeram ao mundo toda nossa ascendência. Diminuímos a sabedoria popular por papel e carimbo. Trocamos os milenares chás por comprimidos sem maiores questionamentos, desde que o desconforto passe. Mesmo que a paz seja momentânea. E cara. E escolhemos a cesárea... Para não sentir nada. Escolhemos o remédios... Para não sentir nada. Escolhemos a ignorância... Para não sentir nada.

Eu quero sentir tudo. Eu vim a este mundo para sentir. Para fazer a diferença. Não para viver anestesiada nos instantes mais significativos da minha vida, não para ser mais uma. Vim para amar, admirar, encantar e me encantar, comover e me comover, para chorar e as vezes ate para me entristecer, me acabar e depois dar a volta por cima. Viemos para muitas coisas, menos para não sentir, não nos entregar. Viemos a este mundo para sermos humanos, gente e mulher.

Não faz sentido cantar “o acaso vai me proteger...” e temer cada surpresa, cada susto que se leva com medo de qualquer coisa que se mova. Ignorando as complicações corporais de uma cirurgia como a cesárea, ainda temos as desvantagens psíquicas, como o aumento da probabilidade de desenvolvimento de psicose e depressão puerperal e redução drástica do sucesso da amamentação.

A mulher operada dificilmente dará o primeiro banho em seu filho e terá dificuldades ou talvez nem possa realizar outros primeiros cuidados com o bebê afrouxando o vinculo ainda mais. A mulher que se submete a cesárea (com ou sem necessidade), pode estabelecer uma relação tão boa ou melhor com o filho do que a que pare de fato. Mas ela não poderá recorrer aos mesmos fatores instintivos/hormonais comprovadamente só liberados após o parto vaginal.

A mulher cesareada acapa precisando lançar mão de outros recursos peculiares à especie humana como o desejo consciente da maternidade e a vontade de realizar outras atividades maternas, como a amamentação, por exemplo. Porque a ligação biológica já lhe terá sido furtada.

Pra que parir? Eu poderia responder que é mais seguro simplesmente. Entretanto, é para trazer nossos filhos ao mundo de uma forma menos violenta que deu certo por milhões de anos. Seria também romântico e religioso afirmar que foi a maneira pela qual Buda, Maomé e Jesus nasceram. Mas hoje em dia, quem se importa?

De qualquer forma parir é um dom divino. E como todos os dons divinos, não podemos deixar que tirem isso de nós. Principalmente quando não é por razões tão nobres.

Tantos leigos e profissionais nos chamam de radicais por darmos preferência ao parto normal. Nós e a ciência, os radicais. Mas estamos apenas sendo corretos. Não pedimos nada além do que é certo, seguro e ético. O contrario disso é que é errado. O parto não tem que doer, não tem que fazer sofrer, não tem que violentar. A luta é fazer o parto e o nascimento não se banalizarem. Fazê-los valerem a pena. Porque valem.

Segurança e parto domiciliar

As pessoas que são contra o Parto domiciliar sempre usam os mesmo argumentos: falta de tecnologia para o caso de algo dar errado.

Quando um leigo diz isso, fica muito claro que a tecnologia, em sua carapuça de ciência, substituiu o clero em quase todas os povos. Liderando ou oprimindo num jogo difícil de jogar, baseado, antes de tudo, medo. Jamais serão negadas as vantagens da tecnologia bem utilizada. Jamais.

Mas também não podemos deixar de criticar a dependência doentia que as sociedades promoveram, levando a excessos que nos limitam ou prejudicam ainda mais. Então, toda vez que uma mulher maldiz ou teme o parto natural/domiciliar esta simplesmente reproduzindo este conceito, geralmente sem qualquer reflexão. "Fundamentada" somente em mitos e pré-conceitos, construídos pela cultura capitalista hospitalocêntrica e tecnocêntrica.

Porém quando um técnico da área tem esta mesma fala, há muitas coisas por trás, inclusive medo - ou pavor - do que não é previsível. Mas há também corporativismo, falta de abertura ao novo/tradicional/fisiológico. Técnicos de saúde são formados para intervir.

Aprendemos as técnicas que dizem ser melhores do que a própria natureza e acabamos acreditando nisso. A maior parte nem tem a dimensão do dano genital que provoca, quando faz uma episiotomia. Acredita que está preservando um períneo e nunca pararam para pensar que períneos sadios precisam de proteção, não de corte. Mesmo uma incisão retilínea, planejada e calculado, como o de uma episio. Não se protege cortando!

Quando negamos o parto domiciliar, não estamos apenas negando os estudos internacionais favoráveis, mas principalmente contrariando toda uma história de sucesso que é o nascimento humano. Este bípede “racional” que quer intervir até no que já é perfeito.

A sociedade não tem o direito de maltratar as parteiras, porque é a elas que devemos nossa existência. É a esse conhecimento que desmerecemos por não compreender, que devemos nossas vidas. Sua sabedoria empírica e cheia de superstições ainda trazem ao mundo muitos homens e mulheres de bem.

Beira a ingratidão maldizer o trabalho dessas mulheres que quase sempre trabalham de graça, sem dia ou hora para descansar, em detrimento de tantos profissionais que, infelizmente, não perdem noites de sono nem um dia de suas férias, graças às suas cesáreas bem programadas e bem realizadas.

Dificilmente uma mulher não conseguiria parir se não tivesse acesso a um hospital. Dia desses, li um trecho de um estudo que diz que, se as mulheres em trabalho de parto fossem deixadas à própria sorte, mais de 92% pariria sem problemas. Ou seja, quase todas as outras (8%) paririam com muita dificuldade ou complicação. E nossa realidade mostra os hospitais particulares com 80 a 98% de cesáreas pelos motivos mais questionáveis. Ou seja, talvez tivéssemos menos complicações obstétricas e neonatais do que temos hoje, se as parteiras dominassem a assistência ao parto no Brasil...

O parto domiciliar planejado é seguro, não só porque sempre deu certo, mas porque ainda dá. Nossas parteiras modernas (médicas e enfermeiras obstetras) têm baixíssimos níveis de cesárea (não mais do que 5%) e nenhum óbito. E por compreenderem plenamente a fisiologia feminina, dominam bem técnicas que não atrapalham o trabalho de parto e utilizam muito bem a tecnologia só mandam para o hospital mães ou bebês que saem do padrão de normalidade.

Perfeito: tecnologia para quem precisa de tecnologia. Os letrados que não aceitam o parto domiciliar, geralmente têm alguma insegurança. Durante a formação o que se vê são partos longos e muito difíceis, cheios de intervenções. E, como o fisiológico não é respeitado, acabam tendo que lançar mão de ainda mais tecnologia invasiva (= intervenção agressiva). Geralmente, bebês que vêm de partos assim têm mais dificuldades em se adaptar aqui fora, um ambiente totalmente novo e que já o recebeu com cânulas, sacodes, esfregões, às vezes até tapa no bumbum, injeções com vacina e vitamina... E para coroar, levam-no para uma incubadora quente (mas tão fria...) para longe da única pessoa que conhece.

Vendo por este ângulo, é bem mais fácil compreender porquê recém nascidos vindos de partos tradicionais (mais longos e com mais intervenções) tenham proporcionalmente mais complicações na saúde (internações em UTI neo, tempo de observação prolongada, etc) do que os de partos naturais (domiciliares e casas de parto, por exemplo).

Então, esses profissionais acham o parto domiciliar tão perigoso, porque sua realidade hospitalar é totalmente outra. Mas pelo menos, conehcem bem o hospital que também serve para esconder inseguranças... Além disso, estas pessoas sequer participaram de um parto em casa para constatar que é uma realidade completamente diferente. Se assim fosse, teriam outras conclusões.

O fato é que não ninguém tem o direito de criticar ferrenhamente nada que não conheça ou que acha que conhece baseado em experiências de outros. Então só deve ser relevante a opinião do obstetra que já vivenciou um parto domiciliar. Senão, é especulação. Até porque os estudos dizem cada vez mais fortemente que, para gestantes de baixo risco, um ambiente agradável e o mínimo possível de intervenção é o ideal.

Aliás, os países que têm esta política “coincidentemente” também tem os melhores indicadores de saúde materno-infantis do mundo. Isso deveria ser digno, pelo menos, de reflexão, não dessa rejeição preconceituosa e gratuita. Mas as mulheres logo resgatarão seus direitos e, principalmente, seu poder. Pleno e inalienável.

E quem esta remando contra a correnteza vai ter que mudar de rumo. Senão vai ficar pra trás.

Ministério da Saúde e ANS

Eu não poderia deixar de falar sobre ambos.

Se o Brasil esta para deixar de ser campeão amargo mundial em taxa de cesáreas, muito disso tem a ver com o MS e ANS, este segundo mais recentemente. As operadoras de saúde precisavam deste sacode para diminuir os absurdos índices de cirurgias de retirada de bebês sem nenhum critério médico sério.

Graças a Deus, à ciência e, naturalmente, aos órgãos de saúde internacionais, há base para tudo que dizem os humanistas há anos. A verdade está do lado certo, sempre. Se fossemos meia dúzia de gatos pingados sem apoio, com certeza este movimento já teria ido por água abaixo. Porque as tentativas de desmoralizar o corpo feminino e os que acreditam nele, não são poucas.

É claro que devo um capítulo especial às mulheres que não estão mais se contentando com qualquer coisa. Mas quis falar sobre estes órgãos, pois estão diretamente empenhados em diminuir a morbimortalidade decorrente de cesáreas desnecessárias e não-amamentação ao seio. Seria muito mais simplista se submeter às intervenções cirúrgicas que movimentam muito mais dinheiro. Ou se vender à tantas marcas de leites em pó... Fortificados, enriquecidos e até antiregurgitantes. Que propagam a falsa idéia de que, em algum nível, podem ser melhores que o leite materno...

Enfim, são vários profissionais muito dignos que encabeçam tais atitudes extremamente corajosas, alguns nem são da área obstétrica ou pediátrica, mas com profundo conhecimento de causa. Posso ser injusta, mas alguns nomes que me vêm a mente agora são, Daphne Rattner, Marcos Dias, Kátia Ratto, João Batista... Vou me lembrar de todos, mas são vários!

Obrigadas a todos vocês e - por que não dizer? – a todos nós profissionais compromissados com a vida em todas as suas formas.

Menos mãe

Ninguém é mais mãe nem menos mãe por nenhum fato isolado. Todas as mães (ou quase) fariam coisas inimagináveis pelos filhos, se fosse preciso... Coisas bonitas ou desconsertantes, justas ou ilegais, honestas ou abomináveis. Matariam e morreriam; enganariam ou falariam a verdade; se prostituiriam ou trabalhariam á exaustão, qualquer coisa.

Por este motivo, ninguem é menos mãe por precisar trabalhar ou porque errou ou porque não amamentou (por escolha ou falta de informação) ou porque teve cesárea sem indicação relevante (tanto faz se por desinformação, preconceito ou opção).

Nada sem um contexto quer dizer coisa alguma! Boa mãe é aquela que faz tudo que acredita ser bom para o filho. Se melhora a cada dia, aceita novas idéias e repensa velhos conceitos. Analisa, reflete. A boa mãe busca o conforto ou o aprendizado ou até mesmo permite ao filho errar. Se entrega ao trabalho eterno de amar e educar. E de alimentar, vestir, aliviar a dor e fazer sentir bem.

Quem pare não é mais mãe do que quem faz cesárea. Mas uma mãe que se prepara durante a gravidez com uma boa alimentação, exercícios regulares, que se dedica à amamamentação exclusiva, se informa sobre a melhor forma de trazer seu filho ao mundo, que lê, que deseja ter seu bebê na segurança do natural, da pouca intervenção, do que é científico... Essa mãe é igual a que não está nem aí pra nada?

Não estou falando da mãe que não tem escolhas, nem da que estava tendo outros problemas sérios e não pôde se entregar mais do que gostaria. É o que disse, tudo precisa ser analisado dentro de um contexto.

O que acredito mesmo é que ninguém tem o direito de tirar um filho de uma boa mãe... Ou roubar-lhe a maternidade se ela quiser vivê-la plenamente. Nem numa cesárea, nem numa lata de leite, nem na lei dos homens

Te convencer a não fazer Cesárea...

Tive 2 PDs com enfermeira obstetra, o ultimo há 8 meses e foi lindo. Ja vi cesáreas, ja vi partos normais tradicionais, partos normais "humanizados" hospitalares e ja vi os meus. Não tem comparação. São duas coisas distintas.

Eu sou suspeita pois acredito que o Parto natural é uma das melhores coisas que Deus deu às mulheres! O parto me transformou. De menina Moleca, me tornei mãe, mulher. Isso teria demorado a acontecer no meu caso se o parto tivesse sido insípido, pequeno. Não poderia aqui convencê-los que cesarea não deveria ser uma opção. Ninguém vai ao médico para tirar o apêndice saudavel so porque todo mundo na família tem apendicite. Entao por quê operar mulheres saudáveis para tirar o bebê?

A cesárea deveria ser uma decisão medica séria, ética, consciente e responsável, porque é perigosa, expõe a mãe e bebê a inúmeros riscos que não existem no Parto normal. Nao é porque é culturalmente aceita, que os riscos diminuem...

A cesárea eletiva rouba, com ou sem seu consentimento, um momento importante de sua vida: ver e fazer seu filho nascer. Muitos não acham isso importante, mas é. Sinceramente não me conformo...

A vida tem que ser vivida intensamente e com ética: paixões, decepções, tristezas, alegrias e tudo relacionado a filhos. Mas respeito quem não se interessa. Amamento prolongadamente, alimento adequadamente (somos vegetarianos), penso e repenso a educação, estudo as melhores atitudes (e ainda erro muito) e o parto faz parte disso, tenho certeza. Foi caro para as minhas condições, mas o que tive em troca foi imenso. Sai ate barato! O respeito que é dado num parto humanizado, onde VOCE é o centro, você pede, você manda, você é cuidada e especial.

No hospital, a mulher é número, é transação financeira, é "Maezinha", ou "a doente" da mesa de cirurgia. A vida deveria ser mais que isso.

Gosto de ser dona de mim. Não entregaria meu corpo á tutela de alguém que estudou mais do que eu.... (no meu caso, isso nem seria adequado dizer, porque estudei a minha vida inteira). Mas a sabedoria femina está em todas nós. As pessoas entregam suas almas a um hospital onde ninguem os conhece e acham que pode fazer melhor que eu o que nasci para fazer?

Parir não é médico: é biológico! Me despersonalizar, ficar passiva e obedecendo ordens... Que isso! Infelizmente, em poucas ou em muitas palavras, eu não poderia fazer você mudarem de opinião.

Da mesma forma, não conseguirei lhes mostrar a sutileza da diferença entre PN e cesarea. A parte prática: riscos e ciência, todo mundo já sabe. Posso falar por horas, mas não são as palavras, são as sensações. Nao posso fazê-lo entender o quanto o parto de verdade transforma uma mulher, a prepara para cuidar do bebê, a sensibiliza, a deixa mais forte. Nada do que eu falar pode lhes fazer acreditar.

Mas se você soubesse o que eu sinto... tendo sido capaz de colocar meus filhos no mundo, parido as pessoas mais importantes da minha vida... se escutasse meus gemidos de amor e de glória pós-parto com eles em meu colo... Se visse meu semblante, minha alma transparente em plenitude... Se sentisse o amor, a profundidade do que senti... você JAMAIS hesitaria em viver isso também.

A cesárea é uma forma de trazer seu filho ao mundo, mas não é uma forma de crescer, de se espiritualizar, de ter uma experiência orgásmica. Sem necessidade, é só uma passagem que traz o filho do útero rasgado para uma mãe dopada que não sente nada fisicamente, nem pode se mexer ou, quiçá, segurá-lo. Ou seja, o momento mais importante de sua vida é vivido entre lençois azuis, luvas estéreis, máscaras e drogas depressoras. Sabe, além de não ser nada seguro, também não é nada romântico. JAMAIS negarei a importância da cesárea de emergência. Usada adequadamente, ela foi feita para salvar. Mas não pode tirar o papel e o poder da mulher. Como tem sido feito...

O problema é que 90% das gestantes que pagam, "precisam" de cesárea. Isso não é calúnia: são números! Não lhe parece, pelo menos, estranho? Será que o corpo feminino não serve mesmo para parir?

No que querem que acreditemos? Em cordão enrolado? Em bebê grande? Em útero perigoso? De onde vem este tipo de fé? Não acho que cirurgias sejam escolha, igualmente a cesarea. Mas se optar por ela, tenha consciência do que não terá a chance de viver as emoções de um parto. Saiba que estará correndo junto com seu bebê muito mais riscos. E que será totalmente responsabilizada medicamente se algo der errado, porque "você escolheu a cesarea". Ou responsabilizar a Deus "Fizemos ATE uma cesárea, mas não deu".

Se precisar de ajuda, estamos por aqui. Não há mais nada que se possa dizer para lhe mostrar a diferença... A menos que mergulhe nesse mundo e queira realmente ver. Desde já lhe digo: não é facil, não tem volta, mas é maravilhoso. Um grande abraço e aguardo sua reflexão.

Cesárea a pedido

Quando a cesária foi inventada, sua letalidade era próxima a 100%...

O que acontecia então era que a cirurgia só era indicada quando não havia alternativa. Ou seja, já se havia tentado de tudo e, já que a mulher tinha grande chance de falecer, tentava-se a cesariana que poderia, porém dificilmente, salvar sua vida. Mas era melhor arriscar do que a certeza da morte...

A cesárea era então encarada como um grande perigo, porém avaliando-se sempre o risco-benefício, poderia ser utilizada em poucos casos. No princípio era assim. Este deveria ser o contexto da necessidade desta cirurgia: depois de todas as alternativas esgotadas, a indicação de cesárea seria aplicada adequadamente.

A cesárea evoluiu, mas ainda é uma cirurgia, não um "parto por via alta". E ainda tem suas complicações e, por este motivo, também deveria ter critérios sérios para sua execução. Mas ao contrário do seu objetivo inicial, nobre e responsável, hoje esta CIRURGIA foi promovida a "via de parto", como se não houvesse problema nenhum em sua banalização.

Há sim e é por este motivo que resolvemos descruzar os braços, abrir nossas mentes e nossos bocões para falar. Está errado. Ninguém chega ao médico, pedindo para remover seu apêndice com o argumento de que não aguentaria sentir dor numa eventual crise, justificando que a anestesia não permitiria a dor como a da suposta "crise", ignorando o pós-operatório e as complicações inerentes a qualquer cirurgia abdominal. E, mesmo se alguém tivesse essa coragem, o médico ético recusaria, pois, mesmo a "tendência familiar" ou "hábitos alimentares" favoráveis à apendicite, não justificam exposição a tamanho perigo.

Mas por que aceitam fazer cesáreas, sabendo (mas talvez não acreditando) sobre riscos? Seria por respeitarem as mulheres? Uma tentativa equivocada de respeitar a decisão de cada uma? Respeitar sem informar? Seria esta uma forma torta de promover cidadania? Se for assim, apesar de sabermos que aproximadamente 70% preferem o parto normal, como explicar que 90% das mulheres que "podem" escolher (sistema privado) terminam em cesarianas? Não raro, assistimos a relatos de mulheres, dizendo que seus obstetras dizerem: "Na hora a gente vê se dá".

Quando a mulher pede cesárea, rapidamente as coisas se resolvem, a data já é marcada, ignorando complicações e a crença no poder da mulher de colocar seu filho no mundo. Dificilmente um obstetra particular tenta convencer a mulher a desistir da cirurgia. Não é de se assustar que tenham quase 100% de cesáreas despretenciosas no histórico...

Os perigos da cesária desnecessaria e seu uso indiscriminado são imensos para serem ignorados. É difícil acreditar que se as mulheres os conhecessem, optariam por eles. Afinal não conhecemos nenhuma mãe que deseje dar mais chances ao bebe de ir para UTI, de ter grandes hemorragias, dela mesma morrer ou ver o filho morrer e tantos outros problemas. Então fica cada vez mais claro que se houvesse o esclarecimento necessário, poucas mullheres exporiam a si mesmas e seus bebês à doenças e morte somente por preconceito, comodidade ou vaidade. Mas parece que não há interesse profissional forte para a reversão do quadro.

O MS e ANS parecem empenhados nisso, ao contrário dos conselhos de classe afins, onde não vemos propostas sérias para acabar com as desnecessarias e com isto, salvar milhares de mães e bebês que morrem em consequência delas todos os anos. As cesáreas não podem acontecer a pedido. Por respeito à vida. Certamente se tivessem a chance de opinar, os bebês escolheriam nascer quando estivessem prontos. É uma teoria lógica. Eles precisam estar totalmente prontos, preparados para as condições de vida aqui fora. Além de cirurgias sem necessidade não caberem no código de ética médica. Eles não podem pagar pelos preconceitos de suas mães mal instruídas ou profissionais com agendas lotadas.

Não podemos reduzir esta questão ao direito de escolha da mulher. Uma mulher equivocada toma decisões equivocadas. Países como Japão, onde quase todas as mulheres têm nível superior, a taxa de cesárias é mínima. Ou outros onde há liberdade de escolha em vários aspectos, como a Holanda, 33% dos bebês nascem em casa e bem. A Dinamarca têm os habitantes mais "felizes" do mundo e tem alto índice de parto normal. Na Noruega, a mais rica nação, o percentual de cesáreas jamais saiu dos limites, bem como na Suíça com as pessoas mais saudáveis do mundo. Há parteiras por toda a Europa. Até os EUA têm menos cesáreas que nós...

Olhando por este ângulo não lhe parece que há algo errado com o Brasil? Em nosso país, ostentamos a triste média nacional de cesáreas de 50 a 60%, sendo mais ou menos 30% no SUS e mais de 80% nos planos de saúde. É a maior do mundo. Isso demonstra uma grave crise. Resta nos questionar se de ética ou perícia. Isso mesmo. Não há muitos caminhos para justificar o avesso de nosso país às organizações científicas internacionais, a não ser falta de ética e habilidade. Sim, porque nosso país foge á regra de todos os países desenvolvidos em qualidade de saúde e tambem nas cesáreas.

E o pior é que compreendemos facilmente estes números quando avaliamos os índices de mortalidade materno-infantil. E os que justificam esse absurdo com a baixa remuneração, admite que esses profissionais a fazem exclusivamente por dinheiro, o que seria uma declaração explícita anti-ética no capitalismo selvagem, no qual estamos mergulhados.

Não cabe discutir neste momento nem mesmo a qualidade da assistência ao parto normal que faz as mulheres o temerem. Mas algumas outras grandes questões:

*A mulher pode pedir ou exigir um procedimento médico que pode ter graves consequências? *Por quê o Brasil está na contra-mão das orientações da OMS e evidências científicas e nossos médicos continuam a operar em massa?
*Por que os obstetras têm duas práticas: No SUS, Parto vaginal com inúmeras intervenções; nos planos de saúde, cesárea marcada?
*E por que nenhuma dessas práticas é tão usada nos países com alta qualidade de vida, nos quais deveríamos nos basear?
*Se as mulheres têm direito de escolher a cesárea, por que os obstetras não têm o dever de orientá-las quanto aos riscos?

Precisamos resolver estes questionamentos com respostas honestas mudarmos o triste rumo que a saúde de mães e bebês tomou em nosso país.

Falar Cientificamente

Primeiro a religião, depois a medicina. Assusta como a igreja saiu de cena como principal orientador da sociedade (cristã em especial), perdendo lugar passivamente para a medicina, sem lutar.

Se era para perder sua tutela, que fosse para a ciência, mas perdeu para a medicina... Hoje, vemos catolicos, evangelicos, espiritas, messiânicos e quase todas as outras religiões, compartilhando de uma mesma premissa "Se Deus fez a tecnologia e os medicos para salvarem nossas vidas, então entregamos nossos corpos, nossas almas e nossas vidas a eles". E quem nunca escutou algo assim que atire a primeira pedra.

Com esta sustentação fica dificil competir, assim como toda argumentação religiosa. Mas ha algo anterior a isto, que é biologico, natural e praticamente inexplicável: o instinto.

Mesmo a tecnologia e o complexo sistema financeiro por trás dela, tendo feito tanto para estragar o parto normal, vemos ainda todos os dias mulheres querendo PNs (algumas mesmo sabendo de seus "horrores hospitalares") e outras frustradas por terem tido cesáreas questionáveis ou que nunca engoliram o menosprezo com que foram tratadas.

Pouquíssimas reagem a isso e essa luta é uma viagem sem volta.. Mesmo com toda avacalhação com o natural, com a exaltação da tecnocracia através da afirmação de que a cesárea é salvação ou que o PN até pode ser bom (com tantas intervenções dolorosas?), as mulheres continuam desejando o que já era para elas terem esquecido para sempre... "O parto natural, porque é de pobre e simples". Ou como infelizmente foi denominado com desdém "Retrógrado".

Não está mais sendo possível dimensionar o crédito de um órgão que fala contra o natural, que não se importa, ou sequer esteja atualizado, sobre as evidências cientificas. Que só esta representando uma corporação inteira - salvo respeitáveis exceções - que pensa igual.

Em muitos textos torna-se claro que o corporativismo e o medo desesperado de perder espaço motivam esses profissionais, se "baseando" em preconceitos escrachados e de pobre argumentaçao.

"PARTO EM CASA: retrocesso aos "tempos da vovó"

Quem dera que pudessemos voltar aos tempos da vovó, onde a criminalidade era mínima, onde se tinha muitos filhos e somente as condições de saneamento/higiene e desnutrição não permitiam que as pessoas vivessem mais.

A dependência de remédios, médicos e tecnologia era mínima e quem estaav vivo, tinha realmente qualidade de vida, diferente de hoje, quando muitos sobrevivem, mas poucos vivem. Ao contrário, vivem sequelados, com problemas de comportamento, de convivio, vícios, tendentes ao suicidio, auto-destruiçao. "É, mas pelo menos estao vivos", alguns diriam, como se nada mais importasse.

"Não ha gravidez e parto sem riscos". Isso é verdade. Enfim não há vida sem risco. Nós nunca negamos isto. O que fazemos é compreender e aceitar isso, sendo co-responsaveis pelas nossas decisões e pelas nossas vidas.

São tantas aspas sem referência bibliográfica. Recorrer a preconceitos para justificar uma posição sem fundamento, descabida. Absurdo e inadmissível atribuir credibilidade a aspas soltas por aí..

A ciência "moderna" (onde?) diz que uma gravidez normal é de 38 a 40 semanas? Alguns questionamentos então... Por que tantas gestações interrompidas antes disso? No que se baseia o MS para instituir nos PSFs o padrão de 38 a 42 semanas? Se apenas 15 a 20% (são um números cabalísticos?) precisam de intervenções de um médico, por que então que na prática 98% dos partos têm algum tipo de intervenção? Ou vocês admitem que fazem intervenções desnecessárias? Que medidas têm adotado para diminuí-las? E por que a maioria delas nem é científica rotineiramente (episiotomia, enema, kristeller, posiçao horizontal, tricotomia e cesáreas mal indicadas, muito alem dos 15% de limite maximo preconizado pela OMS)? Há algum tipo de Deus aqui contrariando as bases realmente cientificas do MS e da OMS?

"Estudos internacionais mostram que para maior segurança dos recém-nascidos, as gestantes, mesmo de baixo risco, devem ter partos em instituições hospitalares tradicionais. A ênfase exagerada na normalidade pode levar ao reconhecimento ou à ação retardada das complicações"
"Ênfase exagerada na normalidade"!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Se há tantos estudos, me cite alguns... Um então! Onde esta a referência disso? Esta informação é muito, muito importante para ficar solta assim. O conselheiro da matéria confunde indicadores de qualidade da assistência com humanização. Qualquer leigo sabe que não sao a mesma coisa. "identificar precocemente as distócias e o sofrimento fetal; corrigir prontamente as distócias e prevenir o dano fetal; garantir condições de reanimação do recém-nato". Nem precisa ser humanizado para saber realizar tais procedimentos. E os outros itens que refere como de humanização, deveriam ser obrigação, base para qualquer instituição.

Humanização integral vai além e poucos hospitais tem oferecido isso. Por que este orgão, ao invés de tentar (nunca vai conseguir) queimar o parto domiciliar humanizado, não investe em "humanizar" seus profissionais com o objetivo de reduzir o número de cesáreas desnecessárias (que causam, estas sim, danos infinitamente maiores à getsante e bebê) e as absurdas de intervenções rotineiras, tidas como verdades inquestionáveis por seus profissionais?

"Na Inglaterra, em partos hospitalares, esse risco é de 1 para 1561, enquanto nos partos domiciliares planejados, nos Estados Unidos, é de 1 para 500, e na Austrália de 1 para 371." Essa colocação tendenciosa soa, no mínimo, cômica. Quando falamos da Inglaterra em partos hospitalares, por que citam os partos domiciliares planejados de EUA e Austrália? Ou vice-versa? Quando falamos de dados regionais dentro de um país, devemos compará-los a dados da mesma região do outro país, certo? O que tem a ver os partos hospitalares da Inglaterra com os domiciliares de EUA e Austrália, senhor Deus? Eu gostaria muito de saber qual a correlação entre os partos Ingleses entre si; dos EUA entre si e do australiano entre si. Nesta citação, novamente a fonte não consta.

"dos 5 milhões de recém-nascidos que morrem anualmente no mundo, cerca de 1 milhão (20%) são vítimas de asfixia intra-útero ou no momento do parto." "Intra-utero" não significa que qualquer intervenção "salvaria", mas que algumas, bem empregadas, poderiam ajudar alguns a sobreviver. Sobreviver, que fique claro, não necessariamente a viver com qualidade.

"No momento do parto"... Qual parto? Estaria aí incluida a cesárea eletiva, da qual ja se espera desconforto respiratório e outras sequelas importantes? Estranha esta colocação porque as principais causas de morte sempre foram desnutrição, hipertensão, diabetes e assistência inadequada.

Seria essencial a citação das fontes dessas e de outras "aspas" (!) serias feitas no texto referido. Pelo menos.

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