Eu não queria que existisse, mas enfim, existe um momento do trabalho de parto, se o parto não acontecer dentro de um limite de tempo ou esforço, em que a família desiste, a mulher desiste e depois o profissional desiste.
As vezes nós, profissionais que acreditamos no parto, nos deparamos com uma triste conclusão: “agora só eu quero parto normal”. E quando todo mundo já desistiu e sabemos que tudo ainda vai demorar muito, talvez seja o nosso instante de desistir também.
Apesar de todo investimento físico e emocional de um assistente de parto, nesta hora as certezas viram dúvidas, as dúvidas se tornam perguntas e as perguntas ficam sem respostas... E lutar sozinho não dá.
Isso não significa que foi tudo em vão. As pessoas vão até onde podem... E nós também.
Por onde vai nascer já não importa pra mais ninguém e o que se quer é o bebê.
Então eles nascem de cesárea e até nascem bem, porque não havia nenhum problema ou impedimento clínico para esperar mais, apenas emocional... Que, neste caso, é determinante.
E a surpresa disso tudo é que a gratidão também pode vir assim. O olhar cúmplice da mulher, a felicidade do pai, as lagrimas da mãe (agora avó!) o abraço do tio olhando nos olhos, dizendo que nunca vai esquecer o que fiz por eles aquela noite.
É bom saber que um profissional humanizado tem utilidade até quando as coisas não acontecem como planejado.
E venho casa também com a sensação de dever cumprido, com satisfação por ter ajudado mais um bebe a nascer em segurança... E que deixei aquela família um pouquinho melhor do que quando encontrei meses atrás. :)
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