Para quem está acostumado, isso pode não ter o valor que tem para uma romântica, quase “novata”, como eu... Mas levando em consideração que 99% dos profissionais que assistem partos jamais fez algo parecido, até que estamos indo bem...
Há poucas horas ajudei uma jovem mulher a ter seu primeiro filho... Na cama da maternidade, acocorada, ela abriu passagem para ele finalmente nascer...
Poderia ter sido mais natural, mas como a internação foi um pouco prematura, pelo menos teve poucas intervenções: ocitocina e ruptura de bolsa já com o bebê descendo bem, mas, foi como foi e, mesmo assim, foi lindo...
Já estava com uns 8 de dilatação, quando “Renata” tomou seu último banho para aliviar as contrações, mas não parava de conversar. Me pediu para falar com ela e até a contar piada, porque assim a “dor não vinha forte”. Sua mãe, apenas 16 anos mais velha e com 3 partos traumáticos, ajudava como poucas vezes vi um acompanhante ajudar. Tão calma quanto a filha, ansiosa e paradoxalmente paciente pela chegada de seu primeiro neto.
Apaguei as luzes e enquanto ajudava, resolvi contemplar a cena. Renata se deitava apoiada em sua mãe, hora no chão, hora na cama e nos apertava forte.
Aqueles dois rostos coladinhos formavam uma bela silhueta. Renata levantava a cabeça e a deitava pra trás em cada contração. Queria gritar, mas eu pedia apenas que respirasse fundo e longo, lembrando que a contração já estava passando e a dor parecia assim diminuir. Era muito claro que se entrasse na onda das contrações, a dor amenizaria.
Entre silêncios e palavras de conforto, ela se deitou para avaliarmos. O bebê tinha descido mais. As luzes continuavam apagadas.
Pedi a Renata, há muito entorpecida de ocitocina, que viesse para os pés da cama e ficasse de cócoras, apoiada nos ferros. Ela temia o aumento da dor, mas lhe assegurei que o bebê viria, assim, mais fácil.
Ela respirava profundamente, quando começou a fazer força para baixo. Sua mãe, a doula perfeita permanecia calma. Renata dizia que havia algo saindo e toquei a cabeça do Bebê já se anunciando.
Renata ficou praticamente em quatro apoios e eu fui para trás para assistir o bebê. Com apenas uma luva em minhas mãos, vi sair a cabecinha. Puxei levemente e a senti presa. Dedilhei todo o pescoço e encontrei uma circular frouxa e a desfiz. Enquanto a mãe tirava fotos e chamava a equipe.
Mais uma contração e... Uma mãozinha junto a cabeça. Menino danado... Saiu lenta e facilmente. Chorou antes que suas pernas estivessem do lado de cá. Puxei mais um pouquinho e veio completamente... Todos então chegaram e que bela cena encontraram...
Eu bem-recebia o bebê com palavras que costumo entoar a todos que vêm pelas minhas mãos.
A mãe, agora avó, chorava contemplando “Que lindo!...” e eu dizia à Renata para deitar para levarmos o bebê até seu colo pela primeira vez. Só então o cordão foi cortado, uns 5 minutos após o nascimento...
A obstetra ria porque sabia que eu sempre quis conseguir fazer um parto assim e nunca dava. A pediatra é que não sei se gostou muito, mas prestou rapidamente os primeiros cuidados deixou o namoro mãe-filho começar a acontecer.
A placenta veio quase espontaneamente, depois de uma leve massagem, o que nem precisaria.
Pouquíssima laceração superior, inferior zero. Numa sutura rápida, durante a primeira mamada, selou-se aquela união.
As coisas demoraram muito mais do que pude descrever aqui. Partejar é antes de tudo ter paciência. Mas acredito que se deixarmos o milagre da vida acontecer, sempre atentos, ele acontece.
As fotos ficaram lindas e a Renata jurou que vai me dar!
Fiquei muito feliz por ter podido ajudar aquela, agora, mulher e aquele bebê a nascerem.
Dei-lhe um abraço, os parabéns e ela agradeceu. Sua mãe me disse “Você é uma escolhida de Deus”...
Ok, todos nós somos. Mas é preciso decisão e fé para fazermos um destino diferente.
FEIRA DO LIVRO 2024
Há 5 meses
2 comentários:
Lindo Dydy! Parabéns! Conheço-te apenas pela lista parto nosso, mas admiro muito o seu trabalho!
Zilda Pavão
Fiquei emocionada, estou até chorando aqui.. coisa linda!!
Postar um comentário