- O parto Natural e humanizado de verdade - A maneira segura e emocionante de ajudar mulheres trazer crianças ao mundo

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Uma Longa História

Meu relato sobre o aprto da Renata dias Gomes
Este caso começou há mais de seis anos com uma graaaande barriga, uma escritora de novelas e a maior anemia que vi na vida.

Aquela criança com cara de criança de sobrenome intrigante (Dias Gomes) estava então grávida de sua menina, Maiara, que veio fácil de um parto longo, mas não sofrido... E de cócoras.

Eu a aconselhava pelo MSN e desde sempre percebi toda sua gratidão. Nos conhecemos pessoalmente, “imprevisivelmente”, num encontro da Fadynha em novembro de 2004.

A Renata sempre foi uma das mulheres mais originais e espontâneas que conheci. Queria ser autora de novelas e simplesmente conseguiu. A coisa deve estar no sangue!

A amizade ficou e apesar dela não saber se algum dia viria outro bebê, eu sabia. Agora é fácil falar tanta coisa, mas isso eu sentia muito claramente.

Então ano passado com pouquíssimas semanas, ela me contou que estava grávida e que queria minha presença em seu parto. Tão cedo ela já havia decidido onde teria seu filho, quem estaria lá. Só não sabia como seria, porque não tinha jeito.
Fiquei feliz e extremamente lisonjeada por saber que eu era uma das “coisas” que ela queria.

Nos vimos uma vez na gravidez, mas valeu por várias... 5h de consulta rs! E o MSN religiosamente, claro.

A Maiaira nasceu com 38s4d, no dia 20 de abril, um dia depois do pai. Todos pensávamos que o Tom nasceria num destes dias ou na seqüência. Mas o Tom, filho de quem é, tinha que surpreender.

No meio disso tudo, aconteceu a tal enchente no Rio. Ninguém ia a lugar algum. Mas para ele, seria muito previsível nascer assim, então, de maneira inteligente, esperou o momento certo.

Paramos – mas nem taaaanto assim - de fazer apostas de datas, porque tudo que cogitamos não se confirmou... Apesar de eu ainda divagar sobre o fato de que os partos que acompanho no Rio tem acontecido de 4 em 4 meses, exatamente no dia 26.

E na manhã deste dia, vi uma mensagem do Lipe no twitter “É tranqüilizador quando sua mulher quase parindo te diz ‘Amor agora vai’!”

Fiquei preocupada demais com a possibilidade de não chegar. Ela sempre existe, mas além da dificuldade natural, o trânsito estava muito engarrafado.

Por volta de 11h, a Renata me ligou contando que já havia sido avaliada pelo obstetra e que estava com 5 pra 6 de dilatação. No parto anterior esta fase se desenrolou em 1h...

Enfim cheguei à sua casa e depois ao seu quarto onde a encontrei relaxada e a vontade em sua pequena piscina. Vi o Chico assim que cheguei pela janela. Fiquei feliz por estar ali.

A Renata para mim é uma amiga e eu nunca havia participado do parto de uma amiga. Enfim eu estava pronta para ajudar aquela mulher que, de tantas formas, me ajudou.

O Chico procurava ficar fora do quarto para deixar todos a vontade e isso foi muito legal. Ele não estava no cômodo, mas conseguia se fazer presente.

Foi muito diferente acompanhar o trabalho de parto da Renata porque ela é toda diferente! Enquanto com as outras mulheres, eu tento falar o mínimo possível, fazer com que ela entre em si e viva intensamente seu parto, com a Renata essas teorias não são aplicáveis e esta foi mais uma lição: as mulheres podem ser muito diferentes até mesmo em momentos tão – aparentemente apenas - biológicos.

Ao contrário de todas as mulheres, a Renata buscava nossos olhares para conversar. Queria saber o que falávamos entre nós, queria trocar... E só entrava em seu parto a cada contração. Neste momento fazíamos massagens, silenciávamos, apoiávamos.

Quando as contrações passavam, ela não parecia estar em trabalho de parto: parecia uma criança pela primeira (ou segunda) vez num parque de diversões. A Renata se divertiu em seu parto. Curtiu cada instante. Me mostrou que a mulher pode nos dar uma segurança, além da técnica, de que tudo vai dar certo. E que eu devo confiar nela, porque a natureza sempre está certa.

Os intervalos começaram a ficar curtos. O Lipe foi o marido-assistente de parto-domiciliar dos sonhos, fez tudo, tudo certo. Se desdobrou em mil e sequer tropeçou em seu medo (se é que existia) para que eu o considerasse um marido comum. Porque ele não era apenas isto. O Lipe foi o companheiro forte e calmo que por dificuldades biológicas, não emocionais, aguardava ver um filho nascer há 6 anos! O amor e a sensualidade da união, para mim de alguma forma, contribuiu muito para o parto.

Entre uma contração e outra, ela me debochava de mim falando que eu era muito fresca porque dizia que meus partos foram doloridos. Eu achava muito engraçado uma mulher com 9 de dilatação ter condição de ser irônica. Foi essa intimidade, sinceridade e clareza que nos aproximaram.
A bolsa só então rompeu.

Próximo ao parto, a bateria da câmera acabou e a energia elétrica também. Nada de youtube! Lamentei porque outras mulheres nunca conhecerão a mulher que eu conheci aquele dia. Mas não as furtarei de saber através do que eu tenho a dizer: não só ela, mas eu também vivi uma grande emoção aquele dia.

Estávamos todos em perfeita sintonia. Quando o Tom começou a descer.
A esta altura (quando realmente resolveu vir, depois de mais de 2h de expulsivo), ele veio em poucas contrações. 3 ou 4, quando a Renata pela primeira vez gritou. Ele veio lindo... todo enrolado em seu precioso cordão.

O Chico o entregou à mãe, ainda dentro dágua, apoiada por trás pelo Lipe. Apgar 1000.
Estávamos todos em êxtase. A ocitocina é de fato contagiosa!

O Tom foi para o colo da mãe que dizia aquelas “palavras pós parto” de mulher empoderada...”Nós conseguimos, meu amor! Nós fizemos tudo certo... Eu não te disse que ia ser assim?”
O pai cortou o cordão vários minutos após a chegada do Tom.

O pai da Renata só chegou depois e não acreditava no que via porque tinha muito receio de parto em casa. Mais tarde chegou a irmã mais alegre do mundo e a paixão de uma vida inteira. Foi emocionante ver a primeira troca de olhares de um amor que jamais terminará. Companheiros, parceiros e amigos... É isso que os grandes irmãos são.

A Renata sentiu muito frio logo depois e a deitamos na cama para cobri-la. Colocamos novamente o Tom junto a ela e, sem dificuldades, ele mamou.

A placenta levou mais tempo que o Tom para nascer: 3 horas. Mas veio sem problemas.
O Chico então se foi.
Tiramos fotos de tudo que é jeito. A Maiara estava tão feliz. A Renata estava tão feliz. Eu estava tão feliz!

O parto demorou mais do que todos pensávamos, mas eu não tive medo. Aprendi muito com esta família e sei que a recíproca é verdadeira.

Este parto me trouxe muita motivação e fé. Não fé religiosa, mas fé de confiança. Fé de que as coisas quando vão dar certo, provavelmente darão seus sinais. E que alguns aspectos como a sexualidade têm absolutamente TUDO a ver com o parto.

Deixei aquela casa por volta de 19h extasiada, completamente inundada de coisas boas.

Alguns dizem que foi sorte... Não acredito em sorte e só quem vive uma experiência assim pode compreender que parto e maternidade não podem ser reduzidas a sorte e azar e que entender isso é questão de tempo.
Eu sempre curto, vai, mas tenho que dizer que amei esse parto.

Eu não assisto novelas, mas daqui de longe a partir de agora, vou assistir sua excitante, simples e surpreendente vida. Mas jamais como uma expectadora imparcial.

sábado, 26 de junho de 2010

Enganada Eu?

Muitas vezes os profissionais humanistas, ou seja, aqueles que acreditam no poder do corpo humano, mais especificamente no feminino no parir, têm que escutar das mulheres que terão que fazer cesárea, apresentando um motivo que não é indicação de cesárea ou mesmo explicando sua cirurgia com argumentos ingênuos, decorados, preconceituosos e defensivos.

Quando isso acontece, alguns tentam usar as palavras certas para que a mulher tire sua próprias conclusões, pois é muito complicado ser antiético, as vezes, publicamente com um colega, mesmo quando ele foi descaradamente antiético com uma cliente...

Sim, porque não há outro nome para submeter uma pessoa a riscos 6 vezes maiores para si e seu filho, em nome de organização de agenda, liberdade e até de dinheiro.

Por que não falar em dinheiro?
Adoram dizer que os humanistas cobram caro... Mas um profissional humanizado acaba ganhando menos do que um cesarista, porque é obrigado a ter muito menos gestantes e assistir muito menos partos, já que não tem dia nem hora para fazer. Além de uma vida pessoal tensa, pois a qualquer momento pode haver um chamado. De 37 a 42 semanas, nada de noitadas e viagens. Hão de estar prontos a qualquer tempo. Quem se dispõe a fazer isso?

Para muitas pessoas, o importante é estar com a razão, independente da razão estar com elas. Diminuir os outros, ajuda a nos manter na zona de conforto.

Imagine como deve ser difícil para uma mulher que sonhou todos os dias de sua gravidez com este evento biológico supremo, este momento emocional sublime, escutar do profissional em que confia que vai ter que marcar a cesarárea pra semana que vem, porque o cordão está enrolado no pescoço e se o bebê não fosse “tão” grande, daria. Ou pior: em pleno trabalho de parto, dizer que já foram longe demais e que agora o risco é por conta dela.

É compreensível que esta mulher viva seu luto e até mesmo que acredite que sua cesárea salvou a vida do seu filho. Mas quando olhamos as estatíticas de seu profissional (90% de cesáreas), vemos que esta cesárea não apenas não salvou sua vida, mas, ao contrário, a expôs a um risco ainda maior.

Admitir ter sido enganada não é fácil e não é para todas. O fato é que uma porcentagem muito, muito pequena das mulheres que tiveram cesarianas, realmente precisaram e dificilmente você foi exatamente uma delas.

Mas algumas destas, vão buscar bravamente as verdadeiras indicações da sua cirurgia. Algumas mal se recuperam de sua cesárea para ir atrás e o que é mais legal: procurando sua responsabilidade nisso tudo.

Quando as coisas não acontecem como sonhamos, lidar com a frustração no meio de tanta emoção é delicadíssimo. O parto pode não ter acontecido, mas a mãe está nascendo exatamente neste momento.

Deixar pra lá esta grande questão por não poder voltar no tempo é uma grande besteira, pois é a ferida que faz nascer a pérola da ostra. A cicatriz emocional é muito mais profunda do que a marca deixada no coração... Selada por sentimentos de incapacidade e traição imensuráveis.

O luto é individual, mas o apoio sem "coitadismo" pode e provavelmente renderá bons frutos. Renascer do caos faz parte de ser mãe. Ainda há muito a fazer: amamentar, educar, ensinar... Mas não há lição que possamos nos dar o luxo de desperdiçar, sem reflexão, achando que as coisas são como são e ponto final.

Para aquelas que ainda podem acertar, eu quero dizer algumas coisas.
Muitas não acreditam nas coisas que dizemos. Acham loucura e radicalismo parir em casa e que parir em hospital com um médico do plano não pode ser tão difícil assim. Porém, já assistimos incontáveis vezes a mesmíssima história. Tenha ao seu lado profissionais que lhe tragam coragem e força até mesmo quando você não acreditar mais. Esteja num lugar onde a fêmea mamífera dentro de ti possa desabrochar em sua glória. Não tome a decisão dos outros, porque o parto é seu e nada pode trazer mais satisfação do que trazer um filho saudável por você mesma.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Dicas para Ter um Parto Legal

Amadureci as coisas que escreverei abaixo, pois quase ninguém entende o que quero dizer. São detalhes nos quais acredito, servem em vários aspectos de minha vida e, por final, acho muito egoísmo de minha parte, deixar de contar a vocês o que me ajudou e o que pode lhes ajudar a parir, por receio do que vão pensar.

Nada do que direi é cientifico. Não consta nos Guidlines nem na Cochraine nem é recomendação da OMS. São coisas que fui observando, escutando e ligando aos resultados que via. Não é um estudo randomizado nem conheço ninguém mais na humanização que pense exatamente como eu. Então não é uma orientação, é uma experiência que decidi compartilhar.

Acredito que parto tenha tudo a ver com sexualidade. Sexo é algo muito intimo, pessoal e cada um faz de um jeito. O parto também. Apenas pode parir, quem faz sexo, quem de alguma forma usa a vagina, grosseiramente falando.
Então deve ter alguma coisa a ver.

Não estou dizendo que quem goza terá parto natural e quem não goza terá parto difícil ou cesárea. Mas algo pode existir nesta direção e precisa ser aprofundado.
Deixar pra lá só porque não responde a todas, não é uma opção considerável.

Outro dia uma ex-cliente e amiga que sabe dessa minha busca pelas questões relacionadas a facilitação do trabalho de parto, teve um insight com uma palavra que achei bastante interessante: potência. O homem precisa ter potência sexual para ter relações sexuais, a mulher não necessariamente. Do ponto de vista biológico, a mulher pode ser completamente passiva numa relação, o homem heterossexual, não. Mas no momento do parto, uma mulher passiva demais, não consegue parir. Está aí uma grande razão para a dor. A dor faz reagir e a mulher precisa ser ativa no trabalho de parto.

Retornando ao ponto: a mulher usa objetivamente a mesma parte do corpo para o sexo e parto, mas no primeiro ela pode ou não ser ativa, no segundo, ela obrigatoriamente teria que ser.

Uma outra questão que considero relevante é a relação com o companheiro. Se a relação está com muitos problemas ou se a mulher não consegue se entregar completamente nesta relação, como ela entregará ao mundo e a este homem o presente que é um filho? Claro que ela provavelmente conseguirá parir se ninguém atrapalhar, mas acho que resolver este problema em algum nível pode ajudar no trabalho de parto.

O que pode estar prejudicando esta relação? Uma traição descoberta, sentimento de desvalorização, desprezo, brigas constantes, etc. Só mergulhando no universo dela de cabeça pra saber.

O tipo de parto do qual a gestante nasceu e a relação com a mãe também devem ser levadas em consideração. A gravidez é um momento de resolver pendências, pois todos estão mais sensibilizados. Mas antes de engravidar seria o ideal. Descobrir a circunstância na qual veio ao mundo não pode ser encarado como desimportante. Descobrir possíveis traumas causados pela violência no nascimento, afastamento da mãe, da não amamentação é fundamental para compreender e perdoar.

A postura dessa mulher diante da vida praticamente determina como será o parto, na minha opinião. No meu primeiro parto, estava muito menina e me vitimizava com a situação. Minha mãe estava lá e isso pode ter atrapalhado, no meu caso, porque ela me fazia ser ainda mais menina, quando eu precisava reagir, ser mulher pra colocar meu filho no mundo. No segundo parto, eu quis ser a mulher, a dona e, tirando que não deu tempo de ser na água, foi tudo igual ou melhor do que planejei. Eu não sou modelo indiscutível a seguir, mas olhando para trás na minha historia, consigo perceber com mais clareza a verdade das outras mulheres e me sinto mais segura e confiante para ajudá-las.

Meus partos foram tão diferentes um do outro porque eu estava muito diferente também. Em menos de 6 anos, eu me tornei outra pessoa, inclusive porque no primeiro parto eu não era mãe e no segundo já era. Antes eu era a menininha que chorava no Trabalho de parto e pedia cesárea, no segundo, eu fui a leoa que pediu pro companheiro dividir a dor com ela. Eu era mais eu, por isso, apesar de intenso, foi mais fácil.

Não poderia deixar de falar, apesar de não ser nenhum pouco unanimidade entre os ativistas que a conexão com a natureza, interna e externa são condições fundamentais para uma vida sexual legal e, portanto, um parto natural. Sabe, gostar de si, não desprezar suas funções biológicas, ser grata pela vida, cuidar da família e, de alguma forma, do planeta. Não quero dizer com isso que as mulheres urbanas e trabalhadoras não tenham chance. Mas não dá pra dizer que parto não tem nada a ver com cuidado e entrega.

E pela minha proximidade com partos de outras pessoas, posso confirmar e desconstruir minhas teorias sem medo e com a certeza de que me torno uma parteira melhor a cada dia. Sou muito grata a estas mulheres, pois a elas, mais do que aos livros e aos embates, devo tudo que sei.

É por elas que eu não desisto de descobrir o que posso fazer melhor. E claro... Para ajudar o mundo a ser bem melhor... Desde o nascimento.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

O Que Você Realmente Deseja?

A maioria das mulheres com quem tenho um contato, digamos, obstétrico – seja no pré natal, num bate papo ou no parto – diz que prefere parto normal. Algumas vão alem: dizem que seus médicos terão que “fazer parto normal delas”, mesmo quando sabem que estes só fazem cesáreas. E outras mais conformadas acreditam que na hora vai acontecer alguma coisa e vai ser normal...

Desafortunadamente, em nosso país não adianta querer mais ou menos para conseguir ter um parto natural. Ou quer demais e faz o caminho de seu parto, ou se entrega à piedosa deusa Techné -  que diz silenciosamente “Fora de mim não há salvação” - e aceita sua cesárea como todo mundo faz.

O parto é um momento que vivemos duas, talvez três vezes em nossa vida moderninha. Seja por onde for que o bebê resolva ou seja obrigado a passar, estatisticamente dificilmente alguém vai morrer no processo. Mas esta experiência intensa não se tem de outra forma e há quem diga que isso não é tão importante assim. Há muito mais pessoas dispostas a deixar de vivê-la do que fazer um esforço realmente significativo para fazê-la acontecer.

Quando falamos em dinheiro então... Querem fazer parecer que este é um comércio pura e simplesmente. Insinuam que “perderíamos” dias, horas e anos escrevendo blogs, fazendo palestras gratuitas, acompanhando vários partos sem qualquer cobrança, respondendo frustrados perguntas de mulheres que sabemos que terão uma cesárea... Não que fosse pouco, mas não faríamos tudo isto, se o sustento fosse a única motivação.
Seria prejuízo viver a obstetrícia por dinheiro, quando o retorno, deste ponto de vista, as vezes é tão pequeno.

Desvalorizando nosso trabalho, conseguem desvalorizar quem somos. Porque, para estes, se tornou uma questão de mercado e nada mais.
Eu faço por paixão. Faço porque acredito.

Claro que há quem cobre mais ou menos por este trabalho. Em todos os tipos de trabalhos isso existe. E obviamente quem tem um serviço diferenciado e se dispõe a aguardar por pelo menos um mês um trabalho de parto que também é um comportamento profissional diferenciado, deve ter um pagamento justo. Mas todos estão dispostos a negociar. Isso é fato. Só que é mais fácil reclamar de ter que vender o carro pra pagar o parto do que conhecer outras realidades. Ou ainda, é melhor ficar no plano de saúde que tudo é “de graça e posso ter a mesma coisa”.
Quem dera.

Para “piorar” nossa situação, ainda temos o agravante de gostarmos de nossa profissão.
E isso é quase um crime! “Se fazem porque gostam, por que cobram?” Quando o sonho de todo mundo é trabalhar com o que gosta, nos acham maus porque gostamos!

Pouco importa a eles, se assistimos, de vez em sempre, partos de pessoas sem qualquer condição financeira e portanto, sem remuneração alguma.
Podemos fazer caridade para quem precisa, mas as vezes algumas pessoas não querem abrir mão de nada pelo seu parto. Como se nascer fosse menos importante do que ter coisas...
O enxoval está completo bem antes. E o quarto decorado. E o plano pago em dia. E todos detalhes que o bebê nem sabe que existem.

Ainda há quem diga, mesmo com condições, que não teve ou – pasmém – que não terá um parto humanizado porque não tem dinheiro. Sem sequer ter conversado com um profissional para avaliarem as possibilidades de pagamento, troca de trabalho ou qualquer alternativa digna para ambos os lados. Como se negociar fosse humilhante.
Ou seja, em muitos casos, a falta de dinheiro é o argumento fatal usado para não parir, já que no fundo sabemos que este é um passo muito importante.
Mas sempre me pergunto se é a verdade da pessoal naquele momento ou se é uma desculpa para nao ir adiante.

Só dá pra abrir mão quando conseguimos nos convencer de que é impossível.

Quantas e quantas vezes, me ofereci para conversar sobre parto com grávidas que sabiam que teriam uma cesárea pelo andar da carruagem. A maior parte nem vem. Outras, quando vem, vem quase que pedindo uma benção para continuarem exatamente como estão. Colocam a culpa nos cesaristas, mas eles só atendem o sistema no qual estão inseridos.
E tão poucas chegam até mim por quererem de fato um parto empoderador...

Parir acabou se tornando complicado, mas não impossível. Acredito muito que é a mulher que fará a revolução. A demanda cria o serviço. E se não for através dela, não imagino como será.

Não fiquem bravas comigo, barrigudas. Conheço exceções à regra.
Simplesmente perguntem a si mesmas seus porquês.

O que posso dizer é que jamais negaria acompanhamento a uma mulher que realmente desejasse. E mesmo assim, as que querem dão um jeito.
E acho difícil que alguém nao consiga ter um parto somente pelo motivo financeiro.
Mas quem realmente deseja parir?
Quem realmente precisa de um parto natural?

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Sobreviver é tudo?

O parto humano é um dos maiores exercícios de paciência e até de tolerância que podemos ter na vida.

Arrumar desculpa para operar uma mulher grávida que só quer um parto normal, é muito fácil. Afinal as pessoas confiam muito nos profissionais e não vão discutir esta necessidade, ainda mais em partos tradicionais que são muito sofridos.

Mas explicar a necessidade de uma cesárea a uma mulher consciente e informada, que deseja de verdade um parto natural, é um desafio. Porque infelizmente, existem situações onde ate mesmo a nossa vilã, cesárea, é necessária.

A primeira talvez ainda não conheça seu poder e por isso agradecerá pela cirurgia que, cientificamente, dificilmente terá lhe salvado de fato a vida e a de seu filho como gostaríamos de acreditar.

A segunda terá seu luto por ter sido privada de algo tão importante. Um triste ritual que faz parte de sua busca e de seu auto-conhecimento. É uma dor solitária, porem que podemos ajudar a cicatrizar. Sempre compreendendo que esta cicatrização será mais demorada do que a cicatrização da cirurgia.

Lidar com ambas as situações é complicado demais para os profissionais quem possuem estes valores. E também temos que encontrar nossas respostas, nos curar de nossos lutos.

Não ficamos felizes ao indicar uma cesárea ou uma remoção de um parto que seria domiciliar. Mas isto não se sobrepõe às complicações que podemos “prever”.

Ao contrário do que dizem os membros da matrix obstétrica, infelizmente ainda indicamos mais cesáreas do que as diretrizes cientificas orientam. Porque não somos de ferro. Já seria alguma coisa não indicar cesariana por comodidade ou falsos argumentos, mas isso também não basta.
Deve existir uma razão muito, muito forte para tirar o parto de uma mulher.

Com o tempo, vamos nos aperfeiçoando e “pegando o feeling”, mas jamais acharemos que está tudo bem só porque todos sobreviveram.
Sobrevivência é o mínimo que podemos dar a uma mulher em trabalho de parto e seu filho. Não é o melhor, é o básico.

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