Eu não aprendo...
Vira e mexe, aparece alguma amiga minha grávida no orkut. Daí não resisto: pergunto se quer informação sobre parto natural e tals. A maior parte diz que sim, mas não é a verdade. Elas simplesmente querem o bebê, o que é compreensível, mas acreditam em qualquer um que demonstre uma garantia (que de fato não existe) de que vai dar tudo certo.
Às vezes me iludo seriamente com o interesse. Não consigo interiorizar a razão pela qual as mulheres se permitem deixar os sonhos tão facilmente, em troca de uma segurança completamente artificial, antinatural e até mesmo mais perigosa do que um parto domiciliar, que é o grande pavor dos que não conhecem.
Algumas saem um pouco da média e trocam alguns emails, nomes de profissionais, meia dúzia de sites, descobrem o que é "doula"... Mas com 37 semanas o médico diz que nao vai arriscar mais porque o bebê esta com cordão enrolado (veja bem: pode morrer enforcado e a culpa vai ser sua!), tudo que ela sabe vai por água abaixo e realmente acredita na raridade da circular de cordão e que sua cesárea foi de alto risco para o bebê.
Se bem que pode até ter sido, porque o bebê sem trabalho de parto, certamente foi retirado antes da hora e terá que ficar a noite na encubadora se recuperando do desconforto respiratório que a própria cesárea causou.
Então acontece o clássico: depois de 37/38 semanas de gestação, ela desaparece da internet e surge 3 semanas depois, se não houverem complicaçoes cirúrgicas, grata à tecnologia e aos céus por não ter dado ouvidos às loucuras meio woodstock, expondo seu bebê ao incerto e irresponsável natural.
E descubro isso na tradicional foto do perfil do orkut: cabeça da criança em direção oposta á da mãe, deitada, sorriso dopado, de touca, em meio a uma cortina verde, que se diz estéril.
Daí fica tudo bem, não importa o preço a se pagar, pois mãe e filho estão vivos, sem sequer imaginar tudo que envolveu aquele inocente nascimento.
A felicidade de ter o filho nos braços anula (?) ou consola a frustração de não ter conseguido ou de ter sido impedida de colocar seu filho no mundo, exercendo plenamente sua feminilidade e uma parte importante e irrecuperável de sua maternidade.
O pior é que, da próxima vez, lá estrei eu nesta minha busca incansável por não sei o que...
Nem sei se faz sentido me preocupar tanto assim com partos dos outros...
Tentando ajudar quem não quer ajuda, acreditando que o parto pode ser tão determinante e transformador na vida de outra - que tem outras buscas e outros valores - quanto foi na minha... Bobagens de uma romântica inveterada.
FEIRA DO LIVRO 2024
Há 9 meses