Não posso deixar de falar dos malefícios da cirurgia cesariana, só porque 10%, no máximo, de todas as mulheres podem de fato precisar.
Se hoje existe uma campanha pela desmoralização da cesárea desnecessária, ela fez por onde para merecer.
Ninguém perderia seu tempo falando mal de cesariana se ela, na prática estivesse fazendo simplesmente seu papel que é reconhecidamente sagrado: salvar vidas.
O problema é que a cesárea quando desnecessária ou mal indicada pode matar mais, adoecer mais e lesar mais do que a integridade física. Isso não é menos importante só porque ninguém liga para mais nada senão para seus preconceitos ultrapassados.
Vivemos em um tempo onde os conceitos não têm qualquer independência, apenas se adaptam ao que nos convém desde que sejam ditos de maneira adequada (tipo a melô do acomodado “O acaso vai me proteger, enquanto eu andar distraído...”).
Então a mulher que desejar muito um parto natural e por ventura passar por uma cesárea, necessária ou não, terá que viver sua dor, “exorcizá-la”, para depois renascer ainda mais forte. A dor desta mulher é dela e o máximo que podemos fazer, depois que já aconteceu, é apoiá-la se ela quiser. Mas de fato, toda dor é grande e solitária.
Não é correto fingir que a cesárea desnecessária não é uma grande catástrofe para a saúde materno-infantil e para toda a sociedade.
Na verdade, é a deturpação da necessidade desta cirurgia que devia estar em cheque, não as criticas a ela.
A mulher que não viveu plenamente esse momento biológico e espiritual que é o parto tem o direito de saber a verdade, de criticar consciente o acontecimento, de despertar. Ela e seu filho sobreviveram, mas ela perdeu algo que lhe é muito importante e isto precisa ser respeitado.
O tempo trará conforto, mas só a verdade curará a ferida.
Então pro favor, não diga que isso não é importante e não peça para não dizerem que está tudo bem. A cesárea desnecessária merece a critica que a ela é feita, mas concordo que o parto natural deva ser muito mais exaltado do que ela.
Lutamos pela humanização do nascimento, mas sabemos que as vezes as coisas não são como planejamos. E para estas pessoas, temos que nos doar mais ainda como profissionais... Sendo meio terapeuta, sendo meio psicólogo, sendo totalmente amigo.