Eu, como você,b achei que já escutado de tudo na vida.
É obvio que era de se esperar que alguns profissionais usassem mentalmente este argumento para justificar algumas praticas que já nasceram obsoletas como a episiotomia e o kristeller, mas ainda tão praticadas atualmente.
Mas eu juro que acreditava que isso fosse ser guardado internamente como um devaneio inofensivo. No entanto, creiam: isto não ficou somente na cabeça de alguém.
Nascer e parir são um ato médico. A vida, enfim, é um ato médico. Previsível, limitado, técnico.
Tudo bem que uma sociedade tecnocrática endeuse remédios e aqueles que os indicam. Mas ainda que exames laboratoriais sejam vistos como fundamentais e o toque ultrapassado, diagnosticar o nascimento humano como um ato profissional já é demais.
O argumento principal é a segurança dos “pacientes”, mãe e bebê. Mas infelizmente a defesa dele é tão parcial e pouco cientifica que chego a desconfiar de corporativismo. Os “colegas” e o território estão acima até das pessoas.
Seria ridículo se não fosse trágico.
O nascimento não depende de profissional para acontecer. Até as leigas cuidaram melhor do parto do que se faz hoje. O bom assistente de parto é primeiramente um excelente observador e requer imensurável sabedoria para saber quando intervir e quando não intervir. Na dúvida, deixe a natureza fazer seu trabalho de sucesso milenar e as chances de dar certo aumentam drasticamente.
Muito poucas mulheres precisam biologicamente de tecnologia para ter filhos. Cirurgias não podem ser encaradas com tanta simplicidade. Cortes vaginais, apertos na barriga e fórceps doem, machucam e ferem além das camadas de pele.
Mas simplesmente quem faz não consegue ver...
Parto não é um ato nem é médico.
O parto continuará existindo quando não existirem sequer mais profissionais.
Com esta mentalidade não é como evoluir na obstetrícia. Enquanto a mulher não for vista como a senhora de seu parto e o nascimento um momento único e decisivo para o ser que chega, jamais teremos segurança no parto. Jamais teremos paz.
FEIRA DO LIVRO 2024
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