- O parto Natural e humanizado de verdade - A maneira segura e emocionante de ajudar mulheres trazer crianças ao mundo

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Parto Domiciliar – 10 perguntas para Dydy

Dielly Miranda de Souza, mais conhecida como Dydy, é Enfermeira obstetra, uma pessoa que admiro profundamente e convidei-a para falar sobre sua experiência com seus dois partos domiciliares que motivaram seu caminho dentro da obstetrícia, ajudando outras mulheres a viverem seus partos de maneira intensa, romântica e segura. (Ana Cláudia bessa)


-Como foi a decisão por seu primeiro parto domiciliar?

Tinha 21 anos e havia acabado de me formar na faculdade de enfermagem, quando engravidei. Não tinha pensando em ter um parto domiciliar, mas queria muito parir com uma colega enfermeira. Quando encontrei a Helô, ela pediu que eu pensasse sobre esta possibilidade e eu sequer hesitei “Em casa? Tá bom.”

-Mas qual seria a grande diferença entre um parto domiciliar e um parto hospitalar humanizado?

Por mais humanizado que seja um parto hospitalar, não podemos esquecer que ele acontece dentro de uma instituição e que tem rotinas a serem seguidas. Muitas maternidades que se dizem humanizadas, não são.
Existem alguns detalhes básicos para serem considerados minimamente humanizados: liberar a dieta durante o trabalho de parto; oferecer analgesia natural como bola, banho, posiçoes alternativas; abandonar a episiotomia de rotina; indução de parto, incentivar alojamento conjunto e mamada logo após o parto…
Isso tudo parece muito simples, mas poucas maternidade tem todas estas atitudes.
E mesmo nestas, há normalmente varias pessoas na sala, os partos acontecem numa mesa ginecologica, fazem aspiração de rotina no bebê, vacinam logo que nascem…
Eu queria ser dona do meu parto. Poder gritar se desse vontade (e não deu), ter pessoas da familia perto ou até mesmo ninguém, trocar carícias com meu marido e viver um evento familiar, não médico.

-Como eram as histórias de parto que voce escutava?

Eu carregava um estigma muito forte familiar, em especial de minha mãe, que sofreu demais em seus partos institucionais altamente medicalizados, cheios de intervenção, com privacidade, segurança e conforto zero.
Praticaram todas as intervençoes possiveis e imaginaveis só para ensinar aos estudantes “como fazer partos”. Soro, kristeller (empurrar a barriga), deitada, episiotomia (corte na vagina), forceps, dieta zero (incluindo sede), varios academicos na sala de parto, afastamento dos bebês por dias e quando tudo terminou, não davam nada para comer porque já era tarde. Sozinha, exausta, com fome e sem bebê. Seus dois partos foram tristes assim.
Fora isso, minha avó tinha uma historia muito legal em seus 5 partos, alguns domiciliares, e o último, uma cesárea, ficou 4 meses internada em coma por reação a anestesia.
Quando eu era adolescente, imaginava que cesárea fosse uma libertação para todo o sofrimento do parto.
Tive que descobrir por mim mesma que parto, mesmo quando dói, pode ser bom, porque traz como nada mais na vida, uma vivência que jamais tive a oportunidade de ter de outra forma.
Mas falta aos profissionais, de maneira geral, esta percepção de que o parto não é legal só fisicamente. Aliás esta a menor das vantagens. O parto aproxima mãe e filho, por causa dos hormônios liberados, e amadurece espiritualmente de uma maneira rápida e forte.

-Como foram seus partos?

O primeiro foi difícil por vários motivos. Estava num momento complicado da minha vida. Além das histórias de parto de minha mãe, vieram à tona muitas questões pessoais que prejudicaram a evolução do parto, tornando-o o mais longo da história de minha parteira.
Acredito piamente que meu emocional contribuiu de maneira negativa para meu parto, mas o parto contribuiu de maneira incisivamente positiva para minha vida.Dormi menina e acordei mulher, como costumo dizer.
Tive rachaduras muito dolorosas no seio, mas aguentei firme, porque via que, se tinha passado pelo parto, poderia aguentar qualquer coisa. E o amamentei por quase 5 anos. Isto me uniu muito ao meu filho, Klauss, hoje com quase 7 anos. Ele nasceu na água, após quase um dia de trabalho de parto e com uma circular de cordão, na presença do pai dele e de minha mãe, Helo e Marilanda, no apartamento onde morava em Macaé. O segundo aconteceu há 14 meses, após uma gravidez planejada, extremamente saudável, quando eu já cursava especializaçao em obstetricia. Hoje brinco que ela fazia partos comigo desde antes de nascer. Eu não sabia o sexo, mas acreditavamos que fosse menina e só conseguiamos escolher nomes femininos e ele veio rapido, Aglaia, uma deusa grega, bela e gloriosa. Perfeito.
Só me dei conta que estava em Trabalho de parto menos de 2 horas antes dela nascer. Liguei pra Helô e achei um exagero quando ela disse que viria. Logo a bolsa rompeu e fomos pra casa. Queria que o klauss assistisse, mas ele dormiu. Tomei banho, vomitei, bebi muita agua. A enfermeira chegou quando faltavam uns 40 minutos para o nascimento, eu estava com menos de 5 de dilatação. Meu marido dizia que iria tira-la do mesmo jeito que a havia colocado dentro de mim. Em meia hora dilatei completamente, ela me deu um copo de vinho pra relaxar e logo minha princesa veio. Meu marido a trouxe para meus braços e, como estava escuro, coloquei a mão na vagina dela “É uma menina!”
Acordamos o irmão para conhecer a ” Bochechinha”, como ele a chamava. Foi muito importante ver minhas duas, alias, três jóias ali, juntas. Sem regras, sem ninguém para criticar nada.
Fiquei muito mais ligada ao meu marido depois disso.

-Voce vai continuar fazendo partos?
Não, eu só fiz meus dois partos, os outros eu só ajudo as mulheres a fazerem o que já sabem fazer.
Me sinto cada vez mais realizada toda vez que posso ajudar uma mulher a parir sem sofrimento, sem cortes, sem imposições.
Ás vezes eu gostaria de simplesmente parar com isso, largar tudo, porque é uma carga emocional e uma pressão muito grandes. Há varias pessoas torcendo para esses partos darem errado para criticarem minha profissão e esta autonomia feminina.
Falam em escolhas na obstetricia, mas elas so valem quando é para escolher cesárea ou escolher o hospital onde parir. Acho que o direito de escolha vai muito além.

-Mas dentro desta lógica, para que servem os hospitais?

Até o inicio do último século, praticamente não existiam partos institucionais. Eram parteiras e médicos de familia. Há menos de 40 anos, o modelo atual conseguiu espaço. Em muitos lugares do mundo, inclusive do Brasil, os partos são conduzidos por parteiras, com muito sucesso. Tanto que há varias iniciativas até internacionais para valorização do trabalho e profissionalização destas mulheres, verdadeiras guerreiras, que acabam dando jeito em varias situações que, por aqui, resolvemos com cortes simples e arriscados na barriga, as vezes sem qualquer critério.
O fato é que temos hospitais e tecnologia e eles são muito bem vindos, quando necessários.
Mas o que vemos hoje é uma inversão de valores: usamos tenologias para tudo e pecamos pelo excesso e o excesso também tem consequencias. Alias, infelizmente as cesáreas, criadas para salvar cerca de 10% das parturientes com dificuldades, tem prejudicado mais do que ajudado e não sou eu que estou dizendo, mas qualquer estatística de órgaos confiáveis nacionais e internacionais, inclusive OMS.
As maternidades são necessárias para estes casos em que o parto é complicado ou mesmo impossível. Estes casos são raros, ao contrário de tantas desculpas para operar como bebê passando do tempo, cordão enrolado, “não tenho passagem”, etc.
Se as instituições fossem procuradas nos casos em que há necessidade real, evitaríamos muitas intervençoes e complicações de parto.

-A mulher pode escolher seu parto?

Esta é uma pergunta muito difícil para mim. A principio sim, desde que a mulher fosse realmente informada e bucasse por si mesma saber dos riscos de uma cesárea desnecessária.
Algumas optam por medo da dor, mas cesárea dói infinitamente mais, tanto que a anestesia é obrigatoria, fora o pós-operatorio; Quanto ás complicações, ela traz muito mais internações, infecções, necessidades de UTIs, aumento do período e gastos hospitalares e intervenções em cascata; Quanto a novas gravidezes, limita o numero de filhos, pode complicar novos partos e trazer outras morbidades; para o bebê, normalmente o distância da mãe nos primeiros instantes, pois os cuidados são maiores e mais demorados, a mãe fica sem uma posição confortável para amamentar, então o bico pode rachar mais facilmente e a criança não pode receber os primeiros cuidados por sua mãe…
Sinceramente, não vejo porquê escolher a opção que traz mais transtornos e riscos. Não compreendo como os profissionais podem aceitar esta “opção” tão facilmente, já que conhecem ainda mais de perto os perigos.
Ninguém vai ao cirurgião e diz “Quero tirar o apendice, porque já venho sentido umas dorezinhas na barriga e todo mundo na minha família tem apendicite, e como não quero sentir dor, vamos marcar a operação?”
E se alguem fizer isto, o cirurgião não aceitará. Ele fará recomendações para evitar apendicite e só operará se tiver indicação devido aos riscos de qualquer cirurgia> Por que na obstetricia deveria ser diferente?
Então vendo de uma maneira superficial, é facil ser a favor da escolha feminina, mas como escolher por um procedimento mais arriscado e que é exclusivamente médico?

-Onde as mulheres e os casais pode buscar mais informações e auxílio sobre o assunto?

Faço parte de duas ONGs que apóiam e acreditam no parto natural, constituída de mulheres de todo o país, dispostas a ajudar,de alguma forma, outras mulheres a terem direito de parirem. Da parte dos profissionais, existem eventos anualmente para o público afim e tem vários profissionais que têm esta pratica em várias partes do Brasil.
Além disso, há muitas informações na internet, inclusive científicas, como a biblioteca Cocrhaine e outros.

-Você pretender ter mais filhos?

Ser mãe foi uma experiencia tão importante em minha vida que quero ter pelo menos mais dois, além das centenas que quero ajudar a nascer como os meus: seguros e em paz.

-Para terminar, que mensagem você daria ás mulheres que desejam profundamente ter um parto natural?

Eu diria, aliás, digo: confiem em si mesmas. Não esperem milagres, façam seus partos acontecerem. Profissionais oferecem serviços e não adianta entrar numa churrascaria sendo vegetariano. Busque, se informe, não perca esta oportunidade de crecimento que é o parto. Isto não é besteira, não é um desejo pequeno. Se seu coração está pedindo, procure quem possa realmente ajudar e faça sua vida valer a pena. Não só no parto, mas onde quer que vá.

E boa hora pra você!

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A Verdade

Aproveitando este meu momento nu e cru obstétrico, peço que você que chegou até aqui entenda que não chegou aqui por acaso e este assunto merece muito de sua atenção e reflexão.

Os riscos reais – mas principalmente – as falácias do parto normal, todos sabem de cor, mas os da cesárea, muito maiores, matem-se em segredo, pois atende aos que a praticam, sem interrupções de férias e desorganização da agenda. Esta maneira simplista de colocar a cesárea e o parto como mera questão de escolha, faz parte de um sistema capitalista que desrespeita a natureza e os que não tem voz, no caso, as crianças.

Além disso, é feita uma verdadeira sacanagem com o parto na cabeça das mulheres: de um lado, um parto longo, suado, cheio de intervenções dolorosas, sofrido, solitário, com fome, sede e grosserias. De outro, uma cesárea limpa, monitorada, rodeada de profissionais que falam manso, indolor (sob uma pancada cruel de medicamentos pesados e potencialmente alergênicos) e mais: se for particular, pode até filmar!

Ou seja, cesárea é coisa do século XXl. Coincidentemente o mesmo século das grandes guerras, da medicalização e do auge do capitalismo despretensioso e inofensivo.

E o mais triste de tudo é conversar com uma mulher, é vê-la justificando sua cirurgia com um argumento caído por terra (como cordão enrolado) e desassociando completamente a cesárea da internação na UTI Neo e do insucesso da amamentação.

Constatando, desta forma, a manipulação bem sucedida na descrença em seu corpo. Como se seu útero, pudesse ser, em alguma esfera, um lugar perigoso para seu filho.

Conseqüentemente seu leite, um alimento dispensável e ineficaz, seu carinho igualmente imperfeito. “Me dê cá seu filho que eu resolvo e você fica me devendo essa... Eternamente” diz segura a deusa Tecné.

Carregadas de propagandas negativas e preconceitos, as mulheres realmente crêem que estão preferindo uma cirurgia sem qualquer influência. E esta escolha nunca foi legitima. A cesárea e também outras intervenções desnecessárias não deveriam ser vistas como escolhas, mas como procedimentos médicos. Deveriam ser exceções.

Os países com menores índices de agravos e óbitos materno-infantis são onde mais acontecem partos naturais. Em muitos deles, a regra é o parto domiciliar com parteira. Então da onde vem esse medo brasileiro do parto? Por que sabemos tão pouco sobre nosso corpo? Por que a nossa obstetrícia intervencionista virou piada lá fora?

O bom disso tudo é que está ocorrendo uma mudança. Tivemos que chegar ao caos para fazer a revolução. E a prova dela é que você está aqui lendo esse texto enorme agora. Raciocinando e refletindo sobre algo que logo será obvio. Isso significa que quem vai fazer a mudança é você, mulher!

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Parto no Ninho - Dydy na Pais & Filhos


Depois de ter os dois filhos em casa, Dielly ficou apaixonada pelo momento do parto. Tanto que se especializou em obstetrícia, para ajudar outras mulheres a sentirem o que ela sentiu

Não foi difícil escolher o parto domiciliar. Sendo enfermeira, conheço bem o ambiente hospitalar e eu queria mais do que um parto normal convencional.

Em 2002, engravidei de meu primeiro filho. Não se falava ainda em parto domiciliar. Procurei uma enfermeira obstetra e comecei a estudar e a me apaixonar por esta possibilidade. Queria minha mãe e meu marido por perto.

Não queria cobranças, ordens ou rotinas, mas sim respeito, segurança e, principalmente, paz. Precisava da certeza de que tudo seria como desejei, a menos que fosse absolutamente necessário. E foi o que tive.

Meu primeiro filho nasceu de um trabalho de parto de quase 24h. Doeu, pensei em anestesia, cesárea, mas tinha comigo as pessoas mais importantes de minha vida por perto. O parto foi na água, e assim que meu filho saiu do meu útero, ele veio para meus braços. Nenhum cuidado rotineiro como aspiração, vacina ou mesmo banho eram mais importantes do que aquele meu momento, o primeiro instante que vi meu filho tão esperado.

Sempre tive vontade de reviver aquele sentimento e ser mãe de novo, até que...Em 2007, engravidei novamente. Foi uma gravidez saudável e não quis saber o sexo até o parto, apesar de sentir claramente que seria uma menina.

Era um domingo de dezembro, e depois de uma soneca da tarde com meu marido, acordei com cólicas. Tomei um banho morno e quis caminhar, mas as contrações não passavam. Avisei a enfermeira que faria meu parto, a Helô, só porque prometi, mas não acreditava que estivesse em trabalho de parto. Como eu não sentia dor alguma, diferente do primeiro, não quis acreditar...

A parteira pediu pra eu ficar em casa e logo senti um estalo e alguma coisa escorrer. Quando vi, estava toda molhada: a bolsa havia rompido. Foi quando comecei a sentir um pouco de dor. Colocamos as músicas do Marcus Viana que planejei para o parto e fui relaxar. A Helô chegou em casa umas 23h, minutos antes do nascimento.

Este parto foi muito intenso. Senti dor, mas foi muito rápido. Em meia hora nasceu minha menina, toda envolta em cordão umbilical e cheia de saúde. Meu marido foi a primeira pessoa a tocar nela, ele a trouxe para meus braços. Nós a beijamos e a abençoamos. Foi muito especial.

Sou apaixonada pelo momento do parto. Eu sempre digo que o parto me transformou. No primeiro, dormi menina e acordei mulher. No segundo, dormi mulher e acordei deusa. Até a dor é importante.

Mas o que difere um parto normal hospitalar de um parto domiciliar é a liberdade. Já assisti vários partos hospitalares, mas nenhum deles foi natural, a começar por serem fora de casa, fora do ninho, ao contrário de qualquer outro mamífero.

Dificilmente há alguma privacidade, habitualmente há indução com ocitocina no soro, o que torna as dores insuportáveis, sem contar os procedimentos agressivos. E o pior é que raramente esses procedimentos são necessários, em detrimento da freqüência com que são realizados.

Meus partos mexeram tanto comigo que me especializei em obstetrícia e hoje ajudo outras mulheres a sentirem tudo que senti. Talvez por gratidão ao universo, talvez por dom. O fato é que o nascimento não é um evento médico: é natural e sagrado.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Na TV!

Acesse o link e veja nossa entrevista sobre o Curso de Preparação para o Parto gratuito ministrados por mim e minha parceira teresa!

sábado, 11 de setembro de 2010

Desfazendo A Cultura para Mostrar a Verdade

Quantas e quantas vezes a vida dos humanistas se ocupam de explicar (leia-se provar) que o parto normal é bom, as indicações reais de cesárea e que ambas as “modalidades” não são uma simplista questão de escolha... Ah e que, ao contrario do que lhes fizeram acreditar a vida inteira, a cesárea da sua mãe tem tudo para ter sido, em poucas palavras, completamente desnecessária.

Eu gostaria de ter respostas simples e rápidas, pois nunca dão muito tempo para presentear com o espelho que provaria a imersão num sistema tecnocrata de tão mergulhados na cultura de incapacidade fisiológica e medo. Mas não tenho poder para te mostrar que não só a ciência está ao meu lado, mas também a lógica. Não esta “lógica” que aprendemos com a TV, mas o curso natural da vida.

Qualquer que seja o discurso, científico ou romântico, somos cortados com um “Mas então pra você não existe indicação de cesárea?” (e minha cara de paisagem).

Mais difícil é ainda falar sobre um assunto que, senão casais grávidos e alguns profissionais, ninguém além quer saber a respeito. Criticar a “forçação” do parto normal é uma regra, mas a forçação sem aspas da cesárea é inquestionável.

Falar sobre o que é óbvio é uma redundância. Mas ser redundante em nossa sociedade quando o assunto é abolição à cultura imposta é serviço para Chucks Norris da persistência... Mas vamos lá... Mais uma vez (ainda que não seja a última...):

- Não ter passagem. Uma desculpa clássica para justificar que mulheres, até mesmo sem entrarem em trabalho de parto, sejam levadas à cesariana, mais rápida e fácil para quem tem habilidade. Raramente (raramente mesmo) uma mulher não consegue se abrir para deixar passar seu filho. Isso pode (e deveria) ser identificado no pré-natal, mas infelizmente “não dá tempo” de entrar em questões tão profundas e dispendiosas emocionalmente. Algumas vezes a coisa é escrachada: 4h de “Trabalho de parto” e cesárea porque o bebê não nasceu. Noutras, uma serie de procedimentos precipitados e, tantas vezes, ultrapassados que culminam com um pesado “Você não conseguiu, eu vou conseguir por você”, digo, “Vou operar você”. Enfim, não é tão fácil assim não ter passagem de verdade.

- Cordão enrolado no pescoço. É compreensível que as pessoas achem que o cordão seja uma corda rígida capaz de fazer uma forca fatal para o bebê. Mas cerca de metade dos recém nascidos apresentam esta característica e ela raramente acarreta problemas para o nascimento. A grande maioria se desfazem com uma manobra simples (parecidíssima com a que você usa para tirar um cordão com a vantagem da lubrificação). Muitos fetos apresentam, inclusive, várias voltas ao pescoço, sem qualquer prejuízo à sua saúde. Os receios se remiriam assim a uma quantidade extremamente reduzida de cordões realmente apertados, onde há o que se fazer para que o bebê nasça um pouco mais rápido. Nunca vi, mas acredito que seja mais rara ainda a incidência de conceptos que não tenham sobrevivido. Isso não justifica expor milhares – talvez milhões – de mulheres e seus filhos a uma cirurgia eletiva com todos os riscos que lhe são peculiares.

- Passando da hora. Existem dois tipos para o rótulo “passando da hora de nascer”. O primeiro tem a ver com a longevidade da gestação, o segundo com o tempo de trabalho de parto. Por causa disso, vemos nossas amigas permitindo suas cesáreas serem marcadas com – estourando – 40 semanas ou concordando com a indicação da cirurgia após poucas horas de um duvidoso diagnóstico de trabalho de parto. Apesar dos bebês terem seu tempo, foi estabelecido um limite razoável de 42 semanas de gestação e, nestes poucos casos, o indicado é a indução (Feita corretamente, por favor). Para tranqüilidade de todos, pode-se fazer cardiotocografia a partir de 40 semanas. No caso de trabalho de parto prolongado, a avaliação fetal é O fator que deve ser levado em consideração prioritariamente e avaliar muito cuidadosamente a parada de progressão para diferenciar de progressão lenta, esta segunda mais comum. O excessivo “medo de passar da hora” não se justifica quando avaliado criticamente. Não é comum que os limites da hora do bebê sejam ultrapassados, mas na contramão, infinitas cesáreas são “justificadas” assim.

- Bebê sentado. Ou pélvico. De fato, não é um parto que os profissionais gostem de assistir. É uma distócia per se e apesar de raro a temida cabeça derradeira é um fantasma que nos assombra. Desde a faculdade, todos ouviram alguém falar que um conhecido do conhecido do conhecido pegou uma “cabeça derradeira” e fez de tudo para salvar a criança. Bom, eu também conheço um cara que passou por isso e também fiquei assustada. Em minhas “pesquisas’, conclui que o que provoca essa complicação habitualmente são exatamente o medo e a pressa compreensível por sinal. Não é tão comum bebê pélvico a termo para que se tenha larga experiência com isso. E o segredo é exatamente contrario: colocar a mulher numa posição favorável – de quatro por exemplo - e: deixar o bebê vir. Em casos extremos, instrumentos e até manobras serão necessários. O problema é que com 30 semanas já há quem esteja pensando em cesárea por apresentação pélvica ou até antes disso. É provável que o bebê vire sem intervenções, mas há quem lance mão de acupuntura, moxa, posições e exercícios, podendo até realizar a Versão cefálica externa, onde o obstetra vira o feto manualmente, com 37 semanas que – não compreendo o porquê – raríssimos obstetras sabem fazer. Há mais falácia sobre o assunto do que problemas com ele em si.

De qualquer forma, a cesariana não deveria ser vista como uma via banal de nascimento. Escolher passar por uma cirurgia não é uma escolha qualquer. Não é como optar por um estilo de roupa, nem como preferir uma pessoa à outra. E suas indicações sérias e reais não são comuns. Jamais justificariam os 90% das cesarianas realizadas nos hospitais particulares.

Descobrir a verdade sobre a obstetrícia brasileira é decepcionante e difícil.
É preciso muito mais do que confiança no profissional e um bom plano de saúde.
Cesárea não é brincadeira. Não opte sem pelo menos conhecer de fato.
Boa sorte em sua busca.

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