- O parto Natural e humanizado de verdade - A maneira segura e emocionante de ajudar mulheres trazer crianças ao mundo

terça-feira, 30 de novembro de 2010

A Parteira


Sempre no meio da humanização, conheci todo tipo de parteiro urbano, mas muito poucos encontros com parteiras tradicionais e todo o glamour e misticismo que as acompanha.

Desta vez, fui sabendo que ela estaria lá. A parteira que não gosta de ser chamada de índia, tinha 81 anos e uma saúde tratada à chá de mato e muito movimento.

Ela era jovem, bonita e tinha uma coisa muito feminina e maternal que vi em duas ou três mulheres em toda minha vida. O tipo de mulher que me faz querer deitar no colo pra me sentir segura como nem posso descrever.

Fantante, me contava de como sua mãe morreu, fugindo dos homens que a queria prender numa casa, tendo sido encontrada mais tarde abraçada a flores, totalmente conectada à terra e à Terra.

Sobre os partos, me deu todos os detalhes. Nossa dificuldade de compreensão da linguagem da outra foi superada. Enquanto alisava a toalha de mesa, me contava suas historias, suas fomentações, suas rezas, sua fé inabalável, seus segredos e sua incompreensão inocente sobre o modo como vivemos.

Levei vídeo de um parto hospitalar e de uma cesariana para saber in natura a impressão que esses dois eventos causam a alguém tão ligado a natureza, como parte dela. E supreendeu minhas expectativas.

Seu rosto marcado mostrava a dor em ver aquelas cenas genuinamente agressivas, mas já tão naturais para nós. E neste momento fez todo sentido que as mulheres morressem de medo de parto, as cenas eram de fato assustadoras. Gritos, movimentos bruscos, posições anti-naturais, ordens, cortes, injeções... Assim tem que doer.

Ela murmurava chocada “Coitadinha da mulher... Olha o neném, não pode fazer isso... Que dor que ela ta sentindo... Não é desse jeito que pega o menino”...
E depois assistiu meus partos na água e na cama tranqüilamente....

Ela dizia que meu trabalho em divulgar isto era muito importante, pois as mulheres não imaginavam um parto assim ou como seria uma cesariana. Ela tomou um susto quando eu disse que muitas sabiam como era e mesmo assim escolhiam a cirurgia. Quem, alem delas, pode realmente entender?...

Quando perguntei o que ela fazia quando um parto demorava eu tive a mais simples das respostas...:

- Capaz que parto demora!
- A senhora nunca passou uma noite inteira ao lado de uma mulher em trabalho de parto?
- Capaz uma noite inteira! Depois do parto é que demora que a gente vai cuidar do bebê, fazer uma canja, ajeitar a casa...”
Que tapa de luva na minha cara orgulhosa pelos longos partos assistidos!...
- E como a senhora faz com a dor?
- Teve uma vez que uma sentiu dor e disse que ia morrer. Aí eu contei uma piada, ela riu e o neném saiu!”

Em, sei lá, 40 anos aparando bebes, ela não conheceu a morte de nenhuma criança ou mãe, não conheceu a dor do parto, não conheceu um parto demorado, muito menos ocitocina, episiotomia, misoprostol, gestação prolongada, aminiorrexe prematura, ruptura uterina, maformação, mecônio espesso, UTI neonatal nem cesariana. Que currículo!

E há alguns anos para azar de todos, foi quase oficialmente proibida de partejar, porque a tecnologia hospitalar chegou à cidade e com poucos partos por mês, não justificaria uma maternidade se ela continuasse. Sem comentários.

Anotei as receitas de como fazer uma mulher parir sem demora e sem dor. Voltei de lá apaixonada e com a promessa de retornar e com um trato (quase ameaça) fechado: se eu engravidar de novo, vou para lá e se ela não “fizer” meu parto, eu ganho sozinha. Seduzida ela respondeu com olhos brilhantes que sim...

Eles já me visitaram