- O parto Natural e humanizado de verdade - A maneira segura e emocionante de ajudar mulheres trazer crianças ao mundo
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
Assistir cesáreas
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
Contra o ato médico

sábado, 5 de dezembro de 2009
Acadêmicos...

Conversas com estudantes sempre me estimulam a estudar mais e a me questionar.
E como atualmente também trabalho como preceptora dos acadêmicos da UFRJ, para mim, esta é uma oportunidade de ver grandes profissionais nascendo.
Então esses dias fiquei muito feliz e, ao mesmo tempo preocupada, com a posição de uma acadêmica de medicina.
Ela me dizia que pensava seriamente em ser Obstetra, porém também me contava do tipo de parto que aprendeu a considerar “normal”.
E mesmo assim, ela gostaria de ter um bebê por via vaginal.
É lindo uma mulher desejar que seu filho venha ao mundo de maneira natural. Acho que esse desejo, quando genuíno, revela a voz da biologia, da natureza num diálogo direto. É como se o espírito desse bebê já estivesse em contato com esta mãe, pedindo um nascimento em paz. Muitos diriam que é uma viagem espiritualista, mas outros compreendem do que estou falando.
Fui comovida por aquele desejo, mas também me preocupei com o que ela compreende como parto, já que sua amostra de partos é medicalizadamente viciada.
E fiquei me perguntando como alguém pode querer passar pela experiência de parto, quando o que conhece é o doloroso, o solitário, o coisificado, o ruim.
Imagina quando ela souber o quanto o parto pode ser extasiante?!
Se conhecendo partos tradicionais, ela já se interessou, se tiver a chance de conhecer a obstetrícia baseada em evidência, vai se apaixonar perdidamente. Creio eu.
Mas será que a imersão no sistema obstétrico atual permite que um profissional de boa vontade siga outro caminho senão o imposto e limitado?
Todos os poucos obstetras humanistas que conheço traçaram um caminho bem difícil, porém consciente e sem volta. É um caminho tão diferente que poucos puderam percorrer de verdade até o fim. E mesmo depois que se encontram como profissionais, as criticas não cessam, marcando um paradoxo - científico e moral - imperdoável entre as críticas aos humanistas – que fazem certo - e exaltação dos cesaristas desenfreados – que não fazem o certo.
Não é atrás apenas do termo “Eu FIZ o parto de alguém” que se esconde toda a distorção feita contra as mulheres diante de seus partos. Cada vez que dizemos que seu parto é imprevisível e perigoso demais para ela ser completamente autônoma neste processo, matamos um pouco a esperança de um mundo melhor. Toda vez que dizemos a uma grávida que ela deve parir num hospital, tiramos dela a chance de colocar seu filho no mundo, e com isso prejudicamos o futuro da humanidade.
Loucura?
Um parto não é só um parto. Um nascimento não é só um nascimento. Cada espírito que nasce precisa ser bem recebido e se não formarmos profissionais que acreditem visceralmente nodireito primal feminino de parir sua cria, que cenário mundial vamos mudar?
Se esta acadêmica e seus colegas não conseguirem enxergar logo além dos bisturis, estaremos os condenando ao simplismo e passividade e as nossas mulheres e bebês a partos medicalizados.
Porque depois de um tempo, “os peixes não conseguem mais ver a água” e este "parto" vai continuar sendo doloroso, temido e repugnante.
sábado, 14 de novembro de 2009
De volta!

Nunca fiquei tanto tempo sem escrever sobre partos.
Há uma série de razoes para eu ter dado um tempo, mas o fato é que eu estava sem vontade.
Amo obstetrícia, amo ver gente parindo gente, mas confesso que, apesar de continuar ajudando mulheres a parir, tenho sido levada, sem hesitação de minha parte, para outros focos, o que não me impede de permanecer empoderando as mamíferas.
E aí agora quando entro, vejo que estou com 20 seguidores, sem qualquer esforço com divulgação... Isso me faz pensar que o que tenho a dizer é importante sim, ao contrário do que comecei a acreditar.
E é em gratidão a vocês que escrevo hoje.
Eu sempre vou a estes encontros. É sagrado pra mim. Vejo muitos amigos querido e de longa data que só tenho a oportunidade de encontrar uma vez por ano ou, muitas vezes, uma vez por vida. É um momento que não poso perder.
Eu nunca fui embora, mesmo assim estou de volta!
sábado, 22 de agosto de 2009
Na faculdade
Naquele momento, eu que desejava ser uma pesquisadora acadêmica, vi meus olhos brilharem. “É mesmo, vou usar meu trabalho para exaltar minha profissão!”
12 anos depois vejo tão claramente a besteira que escutei naquele dia.
Não foi fácil pensar como penso hoje. Seria muito mais fácil simplesmente ficar discutindo com outras profissões o que é meu, o que é seu e o que é nosso., mas isto não é correto. O corpo é da mulher, o parto é da família, o nascimento é do bebê. Nada ali é meu senão os sentimentos e o aprendizado.
Vendo ainda hoje, profissionais muito mais velhos de casa do que eu, discutindo o que é de quem, procedimentos, quem ganha mais, quem sabe mais, percebo o quão longe estamos da obstetrícia cientifica, humana e ideal.
Não importa quem faz o bem: o importante é que alguém faça. Este modelo no qual vivemos não supre esta necessidade. É a obstetrícia baseada no “Eu faço assim”, onde a mulher não tem voz, o bebe não é respeitado e o pai, ignorado.
Apesar da humanização comer pelas beiradas, cresceu por ser independente. Um modelo tradicional não vinga se não for autossustentável. O parto natural é. Os recursos que utiliza são paciência, sutileza, coragem, firmeza... Características humanas. De nada servem bisturis, soros e fios sem um coração de verdade batendo por trás.
Esse negócio de “procedimento”, “risco”, tinha tudo para ser verdade se fosse sempre sincero. O problema é que não é a verdade. A insistente fala sobre insegurança no parto domiciliar ou natural hospitalar traduz nada mais que uma insegurança pessoal e acadêmica. É melhor fazer o que aprendi do que o que não conheço. Mas se fechar para o novo é lamentável.
Torço para que os profissionais amadureçam logo e unam-se para combater a desumanização e a mortalidade materno infantil. Que possam construir juntos um novo sistema, maduro, altruísta e sóbrio.
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Parto natural, Parto vaginal, Parto Domiciliar e Cesárea
Está tudo errado.
Todos os bebês nascem. Nem sempre é como se deseja, nem sempre é como deveria ser. O fato é que todos os bebês nascem com ou sem a ajuda da tecnologia. Esta veio para ajudar aqueles raros casos que naturalmente, haveria algum dano.
Enfim, com médico, sem médico ou apesar do médico, todos os bebês nascem. Mas a ajuda é quase sempre bem vinda.
Vamos começar a colocar os pingos nos is.
Parto normal é como se chama tradicionalmente o parto vaginal, hospitalar, geralmente com muitas intervenções. Quando escutamos dizerem “parto anormal”, é deste parto que estão falando. Não há como ser a favor dele. As pessoas que o praticam, o fazem porque não conhecem outra forma e um bebê nascendo é sempre algo emocionante. Isso meio que apaga as dores das mãe. Alías, não é raro que elas se bastem pelo fato do filho ter sobrevivido, tamanho medo socialmente imposto.
Ora, entregar um bebê vivo á mãe é o mínimo que se deve fazer... Estar vivo não é luxo.
Parto domiciliar não se difere do parto tradicional hospitalar somente pelo local onde acontece. A segurança também não é discrepante, mas comprovadamente a mesma. Ou seja, não são as tecnologias invasivas e desnecessárias que tornam os partos seguros, mas que estragam muitas vezes partos que aconteceriam sem problemas, naturalmente.
Só estando dentro de maternidades, mas com o olhar de fora, para perceber o quão absurda é dizer que domiciliar é mais perigoso e fazer parecer que é tudo a mesma coisa, só muda a segurança que é “maior” no hospital.
Em casa, é imensurável a liberdade. Não acontece nada que a mulher não queira. Ali ela pode fazer coisas inaceitáveis num ambiente formal como um hospital, adotará as posições que sua natureza ordenar, sem quem diga que é ridículo, emitirá os sons que seu corpo pedir... Não terá infusões, cortes, apertos, críticas, ordens, normas... Isso aumenta muito as chances das coisas acontecerem. Vocês não imaginam o quanto!...
O parto domiciliar e o parto tradicional hospitalar são completamente adversos. Não é possível ter no hospital o que se tem em casa.
A cesárea é – ou deveria ser - uma cirurgia criada para ser um procedimento médico de emergência. Abrir um abdome jamais será uma coisa simples como a propaganda faz parecer ser. Fazer cesárea é comum, mas não é normal. Há danos físicos, uma cicatriz eterna, mas a cicatriz não é só na barriga: é a marca de que o processo foi impedido, falhou. Isto é muito sério para ser deixado de lado, só porquê mãe e filho estão vivos. Estas informações precisam ser divulgadas ás mulheres para que não permitam se submeter a isto.
Todas estas formas de colocar filhos no mundo certamente têm algum motivo para acontecer. Que cada um aprenda com o que já aconteceu, mas que faça diferente da próxima vez. Que não mine as gestantes que querem o parto que não lhe foi possível, ou que, como profissional, não pode dar. E que cada mulher encontre seu melhor caminho para ser a melhor mãe.
sexta-feira, 10 de julho de 2009
“Parto” Cesáreo
Para compreender isto, primeiro temos que esmiuçar ambas as palavras, isoladamente.
Há 50 anos, se fosse perguntado a uma mulher o que a parteira faria se o parto não saísse como o planejado, certamente ela não diria que faria uma cesariana. Ela simplesmente confiaria que tudo sairia bem e teria fé que Deus guiariria as mãos de sua parteira.
Simples assim.
Claro que não podemos exigir que uma sociedade cega dessas, descrente de tudo que não se possa ver, leve isto em consideração. Mas é necessário refletir sobre o porquê a história das parteiras ser de tanto sucesso e porquê a mortalidade materno-infantil não caiu com o advento da dita “tecnologia”. Que, por sinal, veio para "salvar" as poucas que a natureza não conseguia e, ao invés disso, foi utilizada indiscriminadamente, o que acarretou sérios problemas que todos já conhecemos. Então que segurança é essa que não dá resultados? A segurança não deveria advir dos próprios resultados?
Isto porque a conversa até entao é somente bem estar físico, porque se houver uma avaliação integral, incluindo a humanização,a comparação é descrepante.
Então para curar a ferida de uma cesárea e de tudo que ela implica, junto com a cicatriz dão também o rótulo “Parto cesáreo” para que todos sem sintam mais confortáveis dentro da frustração. A mulher porque desejou, o médico porque não correspondeu.
Parto é processo. Parto é como se chamava há milênios e cirurgia é outra coisa. As pessoas não são mais nem menos por terem nascido ou se submetido a uma cesariana, mas não é um nome errado para o procedimento que vai curar a ferida.
Digo e repito: as cesáreas são importantes não sô para salvarem vidas fisicamente. Reconhecemos a importância de cesariana até quando não existe um risco de vida claro. Quem vive no campo de batalha sabe disso.
A questão é que as feridas não são curadas com palavras amenizadoras, mas com reflexões e atitudes. Colocar panos quentes jamais resolverão as questões pessoais que uma ferida dolorida implica.
Não existe “parto cesáreo” tanto quanto não existe o cultuado jargão “menos mãe”. Existem, sim, pessoas que passaram por cirurgias - por desejo, necessidade, equívoco ou enganação - para terem seus filhos. Mas isso foi o que a vida ofereceu naquele momento, por alguma razão. Razão individual e intransferível. Ficar triste com quem aponta um problema não é suloção.
Não fiquem magoadas. São só palavras que precisam ser bem colocadas...
Não recuse informação, oportunidade nem a mudança.
O conto de fadas acabou, mas a culpa não é de ninguém.
domingo, 5 de julho de 2009
De Cócoras
Há poucas horas ajudei uma jovem mulher a ter seu primeiro filho... Na cama da maternidade, acocorada, ela abriu passagem para ele finalmente nascer...
Poderia ter sido mais natural, mas como a internação foi um pouco prematura, pelo menos teve poucas intervenções: ocitocina e ruptura de bolsa já com o bebê descendo bem, mas, foi como foi e, mesmo assim, foi lindo...
Já estava com uns 8 de dilatação, quando “Renata” tomou seu último banho para aliviar as contrações, mas não parava de conversar. Me pediu para falar com ela e até a contar piada, porque assim a “dor não vinha forte”. Sua mãe, apenas 16 anos mais velha e com 3 partos traumáticos, ajudava como poucas vezes vi um acompanhante ajudar. Tão calma quanto a filha, ansiosa e paradoxalmente paciente pela chegada de seu primeiro neto.
Apaguei as luzes e enquanto ajudava, resolvi contemplar a cena. Renata se deitava apoiada em sua mãe, hora no chão, hora na cama e nos apertava forte.
Aqueles dois rostos coladinhos formavam uma bela silhueta. Renata levantava a cabeça e a deitava pra trás em cada contração. Queria gritar, mas eu pedia apenas que respirasse fundo e longo, lembrando que a contração já estava passando e a dor parecia assim diminuir. Era muito claro que se entrasse na onda das contrações, a dor amenizaria.
Entre silêncios e palavras de conforto, ela se deitou para avaliarmos. O bebê tinha descido mais. As luzes continuavam apagadas.
Pedi a Renata, há muito entorpecida de ocitocina, que viesse para os pés da cama e ficasse de cócoras, apoiada nos ferros. Ela temia o aumento da dor, mas lhe assegurei que o bebê viria, assim, mais fácil.
Ela respirava profundamente, quando começou a fazer força para baixo. Sua mãe, a doula perfeita permanecia calma. Renata dizia que havia algo saindo e toquei a cabeça do Bebê já se anunciando.
Renata ficou praticamente em quatro apoios e eu fui para trás para assistir o bebê. Com apenas uma luva em minhas mãos, vi sair a cabecinha. Puxei levemente e a senti presa. Dedilhei todo o pescoço e encontrei uma circular frouxa e a desfiz. Enquanto a mãe tirava fotos e chamava a equipe.
Mais uma contração e... Uma mãozinha junto a cabeça. Menino danado... Saiu lenta e facilmente. Chorou antes que suas pernas estivessem do lado de cá. Puxei mais um pouquinho e veio completamente... Todos então chegaram e que bela cena encontraram...
Eu bem-recebia o bebê com palavras que costumo entoar a todos que vêm pelas minhas mãos.
A mãe, agora avó, chorava contemplando “Que lindo!...” e eu dizia à Renata para deitar para levarmos o bebê até seu colo pela primeira vez. Só então o cordão foi cortado, uns 5 minutos após o nascimento...
A obstetra ria porque sabia que eu sempre quis conseguir fazer um parto assim e nunca dava. A pediatra é que não sei se gostou muito, mas prestou rapidamente os primeiros cuidados deixou o namoro mãe-filho começar a acontecer.
A placenta veio quase espontaneamente, depois de uma leve massagem, o que nem precisaria.
Pouquíssima laceração superior, inferior zero. Numa sutura rápida, durante a primeira mamada, selou-se aquela união.
As coisas demoraram muito mais do que pude descrever aqui. Partejar é antes de tudo ter paciência. Mas acredito que se deixarmos o milagre da vida acontecer, sempre atentos, ele acontece.
As fotos ficaram lindas e a Renata jurou que vai me dar!
Fiquei muito feliz por ter podido ajudar aquela, agora, mulher e aquele bebê a nascerem.
Dei-lhe um abraço, os parabéns e ela agradeceu. Sua mãe me disse “Você é uma escolhida de Deus”...
Ok, todos nós somos. Mas é preciso decisão e fé para fazermos um destino diferente.
quinta-feira, 18 de junho de 2009
Briga pelo Parto
E em vários sentidos.
Quem desejou ou procurou seu fechamento não esperava que as coisas fossem se desenrolar desta forma: audiência publica, passeata, reuniões e mais reuniões, processos, manifestações, abaixo assinado, união.
Como Enfermeira, pela primeira vez em minha vida, vi feliz COREn, Sindicato dos Enfermeiros e ABENFO juntas pela mesma causa.
Só um enfermeiro sabe o que isso significa...
Vi colegas enfermeiros e, surpresa, vi também médicos diferentes apoiando a escolha feminina de parir, acima de qualquer outro interesse.
Assisti a sensibilização e a manifestação de políticos, que jamais pensei se importarem tanto com as mulheres, comprando briga, se expondo...
Reencontrei professores e colegas de militância de longa data.. É uma delicia descobrir que existem outros companheiros que, como eu, não desistem.
Não desistirão nunca.
E as mulheres... Ah as mulheres! Firmes na exigência de seus direitos, enfrentaram seus próprios medos, depois os preconceitos e agora lutam pelo respeito às suas escolhas.
Ninguém esperava que o saldo fosse tão positivo!
O parto natural, em todas as TVs, promovido ao horário nobre.
E o maior ganho da história toda: militantes e mulheres, nos descobrimos muito mais fortes do que nós e eles imaginávamos.
Só consigo pensar no péssimo negócio para os opositores o fechamento da Casa de Parto. Se lerem jornais, assistirem TV ou se puseram a mão na consciência, a esta altura, já se arrependeram amargamente.
A única garantia é que eles não nos ignoram como querem fazer parecer.
O que acontecerá então é a busca de casais por suas opções de parto; as enfermeiras obstetras serão mais procuradas, porque então eles saberão o que esperar delas; os médicos realmente humanizados serão valorizados; e começara um movimento ainda mais intenso pela a abertura de novas Casas de Parto.
Um grande passo foi dado. O poder da visibilidade será traduzido em informação,e conscientização e a quebra da “patente” sobre o parto.
Este modelo anacrônico já começou a rolar ladeira abaixo. As donas dos corpos tomaram posse...
E nasce um novo paradigma.
quarta-feira, 10 de junho de 2009
Casa de Parto
É uma lastima que uma questão profissional tenha terminado por prejudicar mais as mulheres pobres da zona oeste do que as enfermeiras, também mulheres, que lá trabalham.
A briga deixou de ser no campo das idéias, dos ideais e partiu, sem aviso e sem cerimônias, para o campo da apelação.
O que é muito contraditório, dentre tantas ironias, é que a Casa de Parto tenha sido aberta há 5 anos (5 anos!!!) funcionando da mesma forma até semana passada, quando finalmente conseguiram diagnosticar uma “irregularidade” (muito mal explicada) lá. Uma “irregularidade” estrutural que nenhum técnico até então viu. E mais: tão grave que nunca prejudicou ninguém que tenha parido ou nascido lá até hoje. Um verdadeiro milagre.
Ora, como qualquer instituição de Saúde, a mesma teve alvará para funcionar. Seus procedimentos nunca foram omitidos. Todos que precisam saber sempre souberam que lá não havia médicos nem centro cirúrgico. E por que surgiu isso agora? Lavanderia? Por favor!...
Também não é segredo para ninguém que qualquer hospital invejaria os números da Casa de Parto. Com muito pouca tecnologia, a maquina cara que move esta sociedade, os enfermeiros da Casa de Parto “ilegal” conseguem resultados muito melhores do que tanta tecnologia pôde trazer.
Mesmo assim esta não é somente a luta da tecnologia complexa, dispendiosa, recém-nata contra a tecnologia do cuidado, simples, milenar. É uma disputa de mercado, de dinheiro, de poder. É a batalha do masculino contra o feminino, desconsiderando tudo que não lhe convém ou que não pode compreender.
E quem perde mais nisso tudo não são as enfermeiras...
Não adianta esbravejar pela segurança das gestantes carentes de Realengo, porque são elas que precisam e pedem pela Casa de Parto. Lá encontraram tudo o que qualquer hospital deveria oferecer: conforto, confiança, paz e dignidade.
É por isso que elas perderão, aliás, já estão perdendo.
As enfermeiras arrumam outros empregos, começam até do zero em outro lugar. Mas essas famílias que sonharam e construíram idealmente seus partos... Estas vão ficar de lado enquanto lutamos. É uma perda imensurável.
Óbvio que esta perda não é permanente. Chegou-se num ponto, onde o modelo de assistência obstétrica vigente já não é mais tolerável para muitas dessas mulheres.
Acharam que a guerra era contra um bando de enfermeiras indefesas... E descobriram que atacaram a honra e o coração do movimento de humanização do nascimento deste país.
Não sabemos o que vai acontecer, mas nós todas juntas, enfermeiras, donas de casa, engenheiras e artistas, daremos um jeito.
Sempre damos.