Existem sempre aquelas mulheres que “querem” um parto normal. Confesso que ainda me engano com algumas, até que o parto vem e a maneira como acontece, mostra se este era um desejo ou um devaneio.
Muito poucas mulheres que querem mesmo um PN não conseguem parir. Até mesmo algumas que não querem, acabam parindo se esperarem a hora.
E é mais fácil uma mulher que não deseja, conseguir parir, em boas mãos do que uma que queira, conseguir seu parto em mãos não hábeis, não preparadas e não disponíveis para isso.
Mas uma grande parte se conforma com a “indicação” da cesárea ao primeiro e frágil empecilho com uma facilidade questionável. E as desculpas para operar muitas vezes trazem dúvida quanto a sapiência do homo...
Será possível que a mulher que planeja verdadeiramente um PN seja enganada e aceite sem cerimônia uma cesárea? Ou será que seu desejo real é ser tutelada, protegida e curada de sua gravidez e ”destino incerto” de seu parto? Será que elas não assistem TV demais?
É um consenso – quase unanimidade - que optar por um parto domiciliar é uma afronta aos dogmas médicos (não dogmas científicos) atuais. Porém, infelizmente, mesmo encarar um parto normal até o fim já esta sendo considerado irresponsabilidade. Enquanto a cesárea é vista como um procedimento salvador quando - raramente necessário – e inócuo quando opcional. Uma manipulada inversão de valores que virou uma verdade social.
As evidências cientificas são ignoradas tanto quanto milênios de partos domiciliares. Sem contar nossos parentes mamíferos que vivem seus partos naturalmente até hoje pra quem quiser ver. A tecnologia não melhorou muito os indicadores de saúde mateno-neonatais, mesmo assumindo plenamente o papel outrora clerical, intimidando e dominando massas, da mesma forma.
Então quando alguém diz que deseja um parto normal, há que se escutar o que realmente quer com isto.
Há muitos sinais que mostrarão a qualidade deste querer, mas talvez o principal seja que esta mulher ou casal já tenha rompido com o sistema em algum seguimento relevante da vida. Isto demonstra coragem, não-vulnerabilidade e auto-confiança para resolver-se por si só, sem a ajuda de um hospital, por exemplo.
Você deve estar se perguntando que tipo de rompimento com o sistema esta pessoa deve ter cometido - Como um crime são eternamente questionados e criticados por agir assim -. Não são necessariamente os que citarei (não existem regras, somente caminhos), mas através destes exemplos, será possível compreender melhor: Vegetarianos - romperam com uma cultura altamente carnívora - ; moradores de ecovilas - romperam com a comodidade das grandes cidades - ; eremitas - romperam com a necessidade de viver em sociedade - ; famílias urbanas com grande numero de filhos -romperam com o padrão que dita quantos filhos devemos ter - ; um ateu - romperam com medo de não acreditar em nada - ou um budista convertido no Irã; existem vários tipos de rompimento!
Nem sempre estas pessoas estão á frente evolutiva de outras, assim como quem escolhe PN não esta necessariamente à frente de quem escolhe cesárea marcada. Tudo depende das razões que levaram às pessoas se tornarem o que são.
O fato é que quanto mais radical por algum ideal de vida, mais chance de conseguirem seus partos normais essas mulheres terão.
Indivíduos comuns sentem medos comuns, desejos comuns, possuem vidas comuns. A maioria é assim e, por isto nossa “sociedade em série”, consumista, dá tão certo em suas vontades e “necessidades”. Pessoas normais querem coisas normais. Pessoas diferentes precisam de coisas diferentes.
O parto normal, e vou além, o parto domiciliar pode ser o primeiro rompimento com o sistema, mas dificilmente este será o ultimo objetivo de quem viveu esta experiência. Posso falar por mim mesma. Para quem não pensa a respeito é loucura, simplesmente porque não é comum. Mas quem viveu sabe que o parto vivido plenamente abre muitos horizontes, dá força e coragem para lutar por esta causa e por outras.
De qualquer forma, esta experiência modifica a vida e a visão de quem a vive para sempre.Esta é a recompensa.
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