- O parto Natural e humanizado de verdade - A maneira segura e emocionante de ajudar mulheres trazer crianças ao mundo

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Enfermeiros Obstetras...

Dia desses li que o “Enfermeiro Obstetra (EO) está ‘capacitado para ajudar o médico obstetra a realizar partos...”
Devo dizer que há vários erros nesta frase tão pequena...

O EO não “ajuda” o médico a “fazer” o parto. Primeiro porque num parto natural, nem o médico nem a EO deveriam muita coisa, senão observar o progresso e auziliar no alívio da dor, quando houver. Depois porque um parto, não raro, acontece com ou sem profissionais por perto. Vira e mexe alguém nasce em casa ou no meio do caminho, sem problemas.

O EO não "ajuda" médico. O EO é um profissional autônomo, não precisa de nenhum outro, a menos que haja indicação clínica de algumas intervenções. O que quero dizer é que nós podemos e devemos dar assistência pré natal e ao trabalho de parto a quem nos procura, sem depender de qualquer outra categoria, bem como os médicos não precisam de nossa ajuda para exercer sua profissão. Por outro lado poderíamos (e deveríamos) sempre nos ajudar.
Afinal, o que está em jogo é a saude e a satisfação das mulheres, ou não?
Apesar de não ser obrigação de nenhum dos dois, acredito que a parceria poderia ajudar, mas não é uma condição sine qua non...

Na verdade, esta frase foi utilizada para desabonar o trabalho de toda uma categoria, muito competente que apresenta ótimos resultados. É um absurdo que profissionais desmereçam o trabalho de outros, só porque não pertencem a mesma profissão, apesar de ambos estarem habilitados a exercer a obstetrícia básica, que poderia atender a pelo menos 85% de todas as gestantes e teoricamente igualmente comprometidos com a mulher e seu bebê.

E que o mercado não esteja acima dos interesses, escolhas e bem estar de nosso público.

Inegavelmente somos muito gratos aqueles colegas que não possuem esta vaidade, que ajudam, que pensam mais no bem comum do que no de uma categoria. Ás vezes é preciso mais do que sensibilidade. Sair da matrix é difícil, mas estes conseguiram, Enquanto mulher e enquanto profissional, tenho um carinho especial pro eles, porque graças ao excelente trabalho em equipe, muitas mulheres estão tendo o direito de escolher vivenciar plenamente este momento lindo, vivido tão poucas vezes na vida: o nascimento de um filho.

Obrigada ás mulheres e a vocês...

sábado, 28 de março de 2009

Parto: Um ato "médico"

Eu, como você,b achei que já escutado de tudo na vida.
É obvio que era de se esperar que alguns profissionais usassem mentalmente este argumento para justificar algumas praticas que já nasceram obsoletas como a episiotomia e o kristeller, mas ainda tão praticadas atualmente.
Mas eu juro que acreditava que isso fosse ser guardado internamente como um devaneio inofensivo. No entanto, creiam: isto não ficou somente na cabeça de alguém.

Nascer e parir são um ato médico. A vida, enfim, é um ato médico. Previsível, limitado, técnico.

Tudo bem que uma sociedade tecnocrática endeuse remédios e aqueles que os indicam. Mas ainda que exames laboratoriais sejam vistos como fundamentais e o toque ultrapassado, diagnosticar o nascimento humano como um ato profissional já é demais.

O argumento principal é a segurança dos “pacientes”, mãe e bebê. Mas infelizmente a defesa dele é tão parcial e pouco cientifica que chego a desconfiar de corporativismo. Os “colegas” e o território estão acima até das pessoas.

Seria ridículo se não fosse trágico.

O nascimento não depende de profissional para acontecer. Até as leigas cuidaram melhor do parto do que se faz hoje. O bom assistente de parto é primeiramente um excelente observador e requer imensurável sabedoria para saber quando intervir e quando não intervir. Na dúvida, deixe a natureza fazer seu trabalho de sucesso milenar e as chances de dar certo aumentam drasticamente.

Muito poucas mulheres precisam biologicamente de tecnologia para ter filhos. Cirurgias não podem ser encaradas com tanta simplicidade. Cortes vaginais, apertos na barriga e fórceps doem, machucam e ferem além das camadas de pele.
Mas simplesmente quem faz não consegue ver...

Parto não é um ato nem é médico.
O parto continuará existindo quando não existirem sequer mais profissionais.
Com esta mentalidade não é como evoluir na obstetrícia. Enquanto a mulher não for vista como a senhora de seu parto e o nascimento um momento único e decisivo para o ser que chega, jamais teremos segurança no parto. Jamais teremos paz.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Eu posso parir em casa?

Fico pensando nas dúvidas que devem rodear a mulher que deseja um parto o mais natural possível, mas não sabe se está pronta para tal.
Imagino que quanto mais imersa no sistema, mais difícil seja sair dele.
E a Matrix não perdoa seus desertores...

Primeiro, se há dúvidas, elas merecem reflexão: Eu quero? Por que quero? O quanto quero? O que espero de um parto? Por que? Quais são as histórias de parto que escutei a vida toda? Eu acredito que posso?
As respostas precisam ser muito sinceras.

Ter um parto domiciliar é uma escolha séria e quando a hora chega não pode haver ainda hesitação. As coisas têm que estar muito claras na Hora P.

Por este motivo, várias pessoas pensam em parto em casa, mas poucas vão até o fim.
Algumas dizem que é caro... É sim, mas é o preço de um parto hospitalar particular e várias pessoas têm partos hospitalares particulares. Se apertam daqui e dali e dão um jeito.
Quanto à segurança, qualquer pessoa que estude o assunto e conheça um hospital comum, verá que normalmente são ambientes muito contaminados e nem têm toda a tecnologia que a propaganda diz. E sinceramente raramente ela é necessária.

De qualquer forma, parto em casa não é brincadeira. Ainda mais porque há perseguidores nos moldes dos inquisição, aguardando nossas "blasfêmias médicas"!
Existe uma co-responsabilização muito grandes em partos domiciliares. Não existem vencedores nem perdedores, mas parceiros.

Para fazer esta escolha, é preciso estar seguro, ser auto-confiante, acreditar na natureza visceralmente.

Não é moda, não é besteira. É uma das decisões mais importantes da vida.
Mas não há nada pelo que tenha tido tanto orgulho quanto ter o poder de trazer os meus filhos pra mim...

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Assistir partos domiciliares

Ontem duas mulheres cogitaram séria e claramente a possibilidade de parto domiciliar com minha presença.
Duas, no mesmo dia.

Pedi a ambas (separadamente) que pensassem nesta possibilidade como eu também pensaria.

Estou completamente convencida que o Parto natural domiciliar é a uma opção perfeita para gestantes de baixo risco que desejem um parto realmente fisiológico, livre e seguro.

Manifesta-se tanto a possiblidade da mulher (bastante real, diga-se de passagem) da mulher poder "escolher" a cesariana, um procedimento indiscutivelmente médico, mas veta-se abertamente a possibilidade da mulher escolher parir em casa, sem as tecnologias, que na prática mais atrapalham do que ajudam.

Ou seja, quando a escolha alimenta nosso sistema viciado e capitalista, podemos escolhê-la. O contrário disso é blasfêmia. Isso faz de mim uma imperdoárvel herege...

O fato é quando nós, profissionais convencidos da segurança do parto domiciliar, recebemos pela primeira vez este convite tão puro e corajoso de uma mulher, somos obrigados a mergulhar em nossa consciência para esclarecer algumas importantes dúvidas.
A primeira delas é "Será que estou preparado?"
Não é a questão técnica, mas a social.
Estou preparada para os comentários? Estou preparada para as críticas árduas e perseguições?
Se precisar remover para um hospital, minha cliente será discriminada?

Uma outra questão é: "Ela quer mesmo um parto domiciliar? E por quê?"
A maior parte das mulheres acredita que o parto normal hospitalar provoca as mesmas sensações de um parto em casa... O que faz esta mulher, em especial, ser diferente da maioria? De onde surgiu este desejo? É Inato? Como foi seu próprio nascimento?
Ela conhece o assunto e está segura de sua decisão?

No parto domiciliar, somos co-responsáveis. Não existe mérito nem culpa individual. Deve existir parceria, respeito e confiança incondicionais, antes de qualquer coisa.
Responsabilidade e verdade são as palavras de ordem.

Eu quero muito fazer. Não sei se o certo é descobrir minhas respostas primeiro ou fazer e responder depois, até com mais segurança por ter vivido a experiência.

O que sei é que Deus manda anjo para cuidar dos anjos e o melhor vai sempre acontecer.
O melhor pode não ser o que prepotentemente acreditamos e exigimos da vida.
Mas tão poucos estão preparados pra vida...

Sou uma alma rebelde aos olhos da sociedade. Sou avessa à maior parte dos dogmas impostos. Pouco importa á sociedade que meus ideais sejam pro bem, é mais confortável menosprezar o que não se compreende do que sequer pensar a respeito, para não correr o risco de cogitar mudar.

Há muitas e muitas pessoas esperando um Parto domiciliar dar errado para desgraçar toda a causa. E qualquer coisa que possa ser chamada de errado vai valer. Até mentira e preconceito já foram usados com este fim.

Me sinto na obrigação moral de ajudar outras mulheres a parir. É mais forte do que eu. Somos meia dúzia de confiantes alternativos num mar de medo e enganação perfeitamente aceito, e até apropriado, para esta sociedade.

Precisamos muito transformar as pessoas... Mas fica difícil com tantos remédios, aparelhos, confortos... É uma humanidade tão exagerada e sem fé...

Mas estes ideais são mais fortes do que eu e do que meus fantasmas internos...

Acabei de encontrar:
"Existem muitas razões para fazermos nossas escolhas com base no que os outros pensam e fazem. Primeiro, porque talvez nossa auto-estima não esteja tão alta. Segundo, porque temos dúvidas. Terceiro, porque nos preocupamos com o que os outros pensarão sobre nós. Para fazer as escolhas certas precisamos: (1) fortalecer o intelecto, tomando decisões precisas entre certo e errado, (2) desenvolver o auto-respeito, ao ter força de vontade para perseguir nossas escolhas. Cada situação da vida será melhor conduzida se fizermos a escolha certa no momento certo. É isso que nos faz mestres do nosso próprio destino!"BK Venkata, Choosing your destiny, The World Renewal, February, 2005

Acho que encontrei a resposta.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Fotos de orkut

Eu não aprendo...

Vira e mexe, aparece alguma amiga minha grávida no orkut. Daí não resisto: pergunto se quer informação sobre parto natural e tals. A maior parte diz que sim, mas não é a verdade. Elas simplesmente querem o bebê, o que é compreensível, mas acreditam em qualquer um que demonstre uma garantia (que de fato não existe) de que vai dar tudo certo.

Às vezes me iludo seriamente com o interesse. Não consigo interiorizar a razão pela qual as mulheres se permitem deixar os sonhos tão facilmente, em troca de uma segurança completamente artificial, antinatural e até mesmo mais perigosa do que um parto domiciliar, que é o grande pavor dos que não conhecem.

Algumas saem um pouco da média e trocam alguns emails, nomes de profissionais, meia dúzia de sites, descobrem o que é "doula"... Mas com 37 semanas o médico diz que nao vai arriscar mais porque o bebê esta com cordão enrolado (veja bem: pode morrer enforcado e a culpa vai ser sua!), tudo que ela sabe vai por água abaixo e realmente acredita na raridade da circular de cordão e que sua cesárea foi de alto risco para o bebê.
Se bem que pode até ter sido, porque o bebê sem trabalho de parto, certamente foi retirado antes da hora e terá que ficar a noite na encubadora se recuperando do desconforto respiratório que a própria cesárea causou.

Então acontece o clássico: depois de 37/38 semanas de gestação, ela desaparece da internet e surge 3 semanas depois, se não houverem complicaçoes cirúrgicas, grata à tecnologia e aos céus por não ter dado ouvidos às loucuras meio woodstock, expondo seu bebê ao incerto e irresponsável natural.

E descubro isso na tradicional foto do perfil do orkut: cabeça da criança em direção oposta á da mãe, deitada, sorriso dopado, de touca, em meio a uma cortina verde, que se diz estéril.

Daí fica tudo bem, não importa o preço a se pagar, pois mãe e filho estão vivos, sem sequer imaginar tudo que envolveu aquele inocente nascimento.
A felicidade de ter o filho nos braços anula (?) ou consola a frustração de não ter conseguido ou de ter sido impedida de colocar seu filho no mundo, exercendo plenamente sua feminilidade e uma parte importante e irrecuperável de sua maternidade.

O pior é que, da próxima vez, lá estrei eu nesta minha busca incansável por não sei o que...
Nem sei se faz sentido me preocupar tanto assim com partos dos outros...
Tentando ajudar quem não quer ajuda, acreditando que o parto pode ser tão determinante e transformador na vida de outra - que tem outras buscas e outros valores - quanto foi na minha... Bobagens de uma romântica inveterada.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Parto normal, em segurança e em paz.

Sou a favor do parto normal, em especial em casa, pq desta forma, o bebe tem o seu tempo para amadurecer e dizer hormonalmente à mae que deseja e está pronto para nascer.

Muitos dirão que isto é balela, mas imagine o susto que o bebe tem ao ser retirado de sua casinha, do agradavel utero materno, agressivamente. É so questao de parar para pensar.

Alem de tantos riscos da cesarea, existe tb a mensagem ao feto de que as pessoas deste mundo farao o que acharem melhor e nem sempre pensarao nele ou "pedirao" sua opiniao sobre questoes importantes que o envolvem visceralmente (literalmente).

Particularmente, pelo que posso observar, só em casa este nascimento pode ser completamente sossegado e em paz. os profissionais, por costume ou insegurança, sempre acabam intervindo de alguma forma no hospital, tirando a chance do parto ser realmente natural. Parto no hospital ou em casa jamais será somente uma questao de lugar... É fisolofia, é princípio, é outra coisa completamente diferente. Mas ambos tem sua historia e seu lugar.

Estamos aqui para dizer que parir, talvez na mesma cama em que a criança foi concebida, nao é sujo nem perigoso.

A verdade esta emergindo de maneira muito forte. O excesso de tecnologia desnecessaria nao diminuiu a morte nem nosso medo dela. jamais nos deu a garantia que procuramos incansavelmente, enquanto espécie. Ao contrario, vestidas de roupa estéril, tira muitas vidas.

Os valores foram invertidos. O que há 40 anos era rotina, hoje é encarado como aberração.

Tentamos do jeito predominantemente tecnologico e NAO DEU CERTO. Agora voltamos às raizes com sucesso. Muitos criticarão, porque nao conhecem e nao sabem fazer de outra forma.

Existe um medo humanamente compreensivel do desconhecido. Mas nao tem jeito. O modelo que aí esta ja começou a rolar ladeira abaixo e nao vaimais parar, porque uma nova autocosnciencia está chegando.

Atraves dos desejos destas mulheres, seus filhos nascerao em um ambiente de paz e liberdade e, espero, terão mais condiçoes de vencerem os obstáculas e as difíceis transições que estamos a beira de passar.

Um nascimento tranquilo e seguro é o que nossas crianças precisam para fazer um mundo melhor.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Novas Mulheres

Especialmente nestes últimos dias tenho tido surpresas muito gratas quanto a iniciativa de algumas mulheres diante de seu parto.
Seria muito mais fácil se acomodar. Todos falam bem do Parto Normal e não é difícil “querer” um PN, mas no inconsciente coletivo reina a idéia de que a cesárea não faz mal a ninguém e qualquer desculpa serve para justificar.
Em vários aspectos da vida as pessoas não são coerentes, mas convenientes. É muito difícil despertar de tantos preconceitos vida afora. E para isso é necessário um pensamento crítico determinado e incansável, sem sofrer com a lentidão dos que conhecem a verdade ou com a ignorância dos que negam o óbvio, até sem perceber.
Quando me vejo deixando algum antigo conceito, uma opinião se transformando, alguém amadurecendo, me sinto sempre comovida.
Poucas coisas me comovem e entre elas estão a capacidade de autotransformação, o trabalho idealista e a simplicidade. E elas me tocam profundamente.
Quando vejo essas mulheres, algumas ainda tão meninas, reagindo, não se deixando levar pela maré, isto traz esperança de que um dia as pessoas um dia refletirão sobre suas decisões, a gravidade e a grandeza de cada passo que têm para dar.
Algumas mulheres em suas escolhas de partos vão além. Encaram uma sociedade tecnocrática, dependente e limitada. E mais: enfrentam a si mesmas e seus próprios medos. Só o enfrentamento traz fundamentação e amadurecimento. Fugir não é uma maneira eficaz de lidar com os desafios ou com os desejos.
Muitas levarão mais tempo para perceber que o parto não é uma transferência de tutela; umas nem terão a chance de mudar a tempo e outras precisarão passar por outras situações antes de fazerem suas escolas definitivas. O fato é que, a longo prazo, a lição pode ser diferente, mas o aprendizado é igual para todos.
Quero dizer que estou muito orgulhosa com este movimento de libertação feminina. Ainda é uma luta de poucas, mas “umas poucas” muito fortes... A Matrix perde espaço e a consciência se alastra. É o inicio de um novo tempo.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Porque partos domiciliares não dão errado

Hoje tive a resposta para o que busco há tempos. Eu tinha muitas teorias, mas agora vieram as certezas.
Tive meu primogênito em julho de 2002 e desde então convivo neste meio. Isso também se deve ao fato de eu ser enfermeira e ter mais acesso a muitas pessoas relevantes no movimento.
Desde que comecei a observar estes profissionais, estas mulheres e as noticias, jamais tive a informação de que algum problema teria ocorrido em casa sem tempo e tecnologia suficientes para chegar ao hospital. Mesmo que estatisticamente fosse esperado, nunca ninguém morreu.
Certa vez uma amiga optou por um parto domiciliar. Ela tinha 3 cesáreas anteriores, apesar de uma gravidez completamente perfeita. Antes do inicio de seu trabalho de parto, foi ao hospital para ser avaliada pelo seu medico. Neste momento, já dentro da maternidade, sentiu dores no ombro, características de ruptura uterina, e foi operada às pressas e o bebê não sobreviveu.
Bom, este assunto é um tabu e divide as opiniões entre nós. Foi um episodio triste demais para todos e infelizmente muitos se aproveitaram macabramente para destilar seu veneno, culpando à mulher e os profissionais que toparam tentar com ela.
O engraçado é que ninguém culpou a nenhum de seus 3 cesaristas anteriores por suas cesáreas criminosamente mal indicadas e por suas suturas mal feitas que romperam seu útero ao primeiro esforço.
Enfim, este não foi um parto domiciliar. Existia a escolha, existia a co-responsabilidade, a consciência e o desejo. Tudo isto foi respeitado desde o principio, o que nos deu, além de tristeza, uma grande lição. Os profissionais foram criticados por deixar que uma “leiga” decidisse como seria seu próprio parto, um crime imperdoável para o nada misericordioso absolutista saber médico. Apesar do princípio ético ter sido respeitado, o trabalho de parto e a cesárea aconteceram no hospital, não em casa.
Hoje assistindo a um vídeo sobre meditação, compreendi porque os partos domiciliares tem sempre um final feliz.
A primeira razão, eu já sabia. Os profissionais que assistem conhecem o outro lado, a assistência hospitalar. Sabem o que a tecnologia pode oferecer, caso seja necessária. E, acredite, eles usam. De vez em quando acontece um parto normal hospitalar que começou em casa, ou até mesmo uma cesárea. Nunca saberemos caso estas cesáreas não tivessem sido feitas, se estas mulheres paririam em casa. O fato é que estas enfermeiras e médicos obstetras têm uma taxa de cesáreas baixíssima (5%, ao contrario dos 95% de maternidades particulares), de fazer inveja a qualquer hospital amigo da criança do mundo.
A competência destes corajosos colegas é o que dá a chance às mulheres darem à luz, como um dia suas mães lhe deram... Ou melhor do que elas, como foi meu caso, tendo nascido de um parto hospitalar abominavelmente intervencionista.
Digo corajosos não pelos riscos do parto domiciliar, já que são mínimos, iguais aos de um parto hospitalar de baixo risco; mas pela crítica a um sistema que não perdoa seus “adversários”. Corajosos por terem saído de suas matrix e conhecido um mundo novo, cheio de possibilidades e amadurecimento pessoal, fazerem disso sua profissão, sua missão e conseqüentemente seu legado.
Voltando ao vídeo, o narrador, com uma voz suave, dizia os passos a seguir para alcançarmos o estado de meditação perfeito. Foi quando ao final, ele disse “Neste estado Não há pensamentos, não há funções corporais, não há respiração”... -Não há respiração? – pensei – Mas e se alguém entra neste estado e morre?!
Então me dei conta que ninguém nunca morreu meditando. Inclusive estando há vários dias sem se alimentar ou sem orientação adequada... Assim como ninguém nunca morreu num parto domiciliar de baixo risco bem assistido.
E por que isto acontece?
É como religião. Não é a gente que escolhe, nós somos escolhidos... Depois que decidimos por um parto em casa, assim como quando decidimos expandir a consciência através da meditação, não há volta. Conhecer o outro lado tem este problema, saímos da acomodação, partimos para a auto-critica e para o trabalho. É um mundo meio solitário, mas a cada mulher que vemos ultrapassar seus próprios limites, temos nossa pequena recompensa pessoal.
Então os partos domiciliares nunca dão errado porque felizmente só chegam até ele quem realmente quer e está preparado.
A vontade, a coragem e a autoconfiança são características comuns às mulheres que optam por esta forma de trazer filhos ao mundo. E, por isso, não é para todas, afinal não é qualquer pessoa que decide sair da condição de paciente hospitalar para a de mulher dando à luz seu filho através de sua própria força e capacidade.
. Isso me deixa muito tranqüila e me amadurece para logo poder assistir e ajudar outras mulheres a parirem seus filhos em segurança, em seu lar.
É uma forma de devolver ao universo a gratidão por ter podido trazer meus filhos na paz, segurança e romantismo que só a minha casa, dentre todos os lugares do mundo, poderia ter.
Por isso fiz obstetrícia. Por isso estudo incansavelmente e por isso sou viciada nesta luta que é devolver às mulheres o direito de escolher, de mandar e de parir.

Querer parto normal

Existem sempre aquelas mulheres que “querem” um parto normal. Confesso que ainda me engano com algumas, até que o parto vem e a maneira como acontece, mostra se este era um desejo ou um devaneio.
Muito poucas mulheres que querem mesmo um PN não conseguem parir. Até mesmo algumas que não querem, acabam parindo se esperarem a hora.
E é mais fácil uma mulher que não deseja, conseguir parir, em boas mãos do que uma que queira, conseguir seu parto em mãos não hábeis, não preparadas e não disponíveis para isso.
Mas uma grande parte se conforma com a “indicação” da cesárea ao primeiro e frágil empecilho com uma facilidade questionável. E as desculpas para operar muitas vezes trazem dúvida quanto a sapiência do homo...
Será possível que a mulher que planeja verdadeiramente um PN seja enganada e aceite sem cerimônia uma cesárea? Ou será que seu desejo real é ser tutelada, protegida e curada de sua gravidez e ”destino incerto” de seu parto? Será que elas não assistem TV demais?
É um consenso – quase unanimidade - que optar por um parto domiciliar é uma afronta aos dogmas médicos (não dogmas científicos) atuais. Porém, infelizmente, mesmo encarar um parto normal até o fim já esta sendo considerado irresponsabilidade. Enquanto a cesárea é vista como um procedimento salvador quando - raramente necessário – e inócuo quando opcional. Uma manipulada inversão de valores que virou uma verdade social.
As evidências cientificas são ignoradas tanto quanto milênios de partos domiciliares. Sem contar nossos parentes mamíferos que vivem seus partos naturalmente até hoje pra quem quiser ver. A tecnologia não melhorou muito os indicadores de saúde mateno-neonatais, mesmo assumindo plenamente o papel outrora clerical, intimidando e dominando massas, da mesma forma.
Então quando alguém diz que deseja um parto normal, há que se escutar o que realmente quer com isto.
Há muitos sinais que mostrarão a qualidade deste querer, mas talvez o principal seja que esta mulher ou casal já tenha rompido com o sistema em algum seguimento relevante da vida. Isto demonstra coragem, não-vulnerabilidade e auto-confiança para resolver-se por si só, sem a ajuda de um hospital, por exemplo.
Você deve estar se perguntando que tipo de rompimento com o sistema esta pessoa deve ter cometido - Como um crime são eternamente questionados e criticados por agir assim -. Não são necessariamente os que citarei (não existem regras, somente caminhos), mas através destes exemplos, será possível compreender melhor: Vegetarianos - romperam com uma cultura altamente carnívora - ; moradores de ecovilas - romperam com a comodidade das grandes cidades - ; eremitas - romperam com a necessidade de viver em sociedade - ; famílias urbanas com grande numero de filhos -romperam com o padrão que dita quantos filhos devemos ter - ; um ateu - romperam com medo de não acreditar em nada - ou um budista convertido no Irã; existem vários tipos de rompimento!
Nem sempre estas pessoas estão á frente evolutiva de outras, assim como quem escolhe PN não esta necessariamente à frente de quem escolhe cesárea marcada. Tudo depende das razões que levaram às pessoas se tornarem o que são.
O fato é que quanto mais radical por algum ideal de vida, mais chance de conseguirem seus partos normais essas mulheres terão.
Indivíduos comuns sentem medos comuns, desejos comuns, possuem vidas comuns. A maioria é assim e, por isto nossa “sociedade em série”, consumista, dá tão certo em suas vontades e “necessidades”. Pessoas normais querem coisas normais. Pessoas diferentes precisam de coisas diferentes.
O parto normal, e vou além, o parto domiciliar pode ser o primeiro rompimento com o sistema, mas dificilmente este será o ultimo objetivo de quem viveu esta experiência. Posso falar por mim mesma. Para quem não pensa a respeito é loucura, simplesmente porque não é comum. Mas quem viveu sabe que o parto vivido plenamente abre muitos horizontes, dá força e coragem para lutar por esta causa e por outras.
De qualquer forma, esta experiência modifica a vida e a visão de quem a vive para sempre.Esta é a recompensa.

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