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quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Pra que parir?

Muitas pessoas que vêem toda esta movimentação feminina e profissional pró-parto normal nos perguntam como pode ser melhor ter um parto demorado, dolorido e improgramável, do que uma cesárea rápida, anestesiada e com dia e locais previamente marcados, “sem” surpresas.
Como se é tudo apenas a forma de trazer a criança do útero pra cá fora? Como pode ser mais emocionante se ser mãe é ser mãe, independente da forma como o bebê nasce?!

Não vou nem tocar no aspecto do risco meramente físico, porque me recuso a acreditar que a maioria das pessoas informadas escolheria cesárea, que é a opção de maior risco. Não deve ser tão comum uma mulher verdadeiramente instruída quanto às possíveis conseqüências e livre de preconceitos escolher uma via de parto que proporciona a si mesma e ao filho mais riscos de doenças e morte.

É obvio que há um equívoco social tendencioso pró-cesárea, o vulgo preconceito. Se a escolha da cesárea estivesse diretamente ligada à informação, as norueguesas, dinamarquesas, japonesas e suíças não escolheriam o parto normal> Nesses países temos as mulheres com melhor qualidade de vida do mundo, as mais ricas, as mais inteligentes e saudáveis, respectivamente. E em todos eles, a taxa de cesárea é menor que 15% contra nossa media nacional de 30. Mas no Brasil, um país lindo e diversificado, mas também subdesenvolvido, cheio de preconceitos – e peculiaridades – tinha que ser diferente.

Aqui supervalorizamos a tecnologia descriteriosa. Como se, em qualquer situação, o uso indiscriminado da tecnologia significasse qualidade. "Melhor pecar por excesso".

Menosprezamos nossas parteiras, cujas mãos trouxeram ao mundo toda nossa ascendência. Diminuímos a sabedoria popular por papel e carimbo. Trocamos os milenares chás por comprimidos sem maiores questionamentos, desde que o desconforto passe. Mesmo que a paz seja momentânea. E cara. E escolhemos a cesárea... Para não sentir nada. Escolhemos o remédios... Para não sentir nada. Escolhemos a ignorância... Para não sentir nada.

Eu quero sentir tudo. Eu vim a este mundo para sentir. Para fazer a diferença. Não para viver anestesiada nos instantes mais significativos da minha vida, não para ser mais uma. Vim para amar, admirar, encantar e me encantar, comover e me comover, para chorar e as vezes ate para me entristecer, me acabar e depois dar a volta por cima. Viemos para muitas coisas, menos para não sentir, não nos entregar. Viemos a este mundo para sermos humanos, gente e mulher.

Não faz sentido cantar “o acaso vai me proteger...” e temer cada surpresa, cada susto que se leva com medo de qualquer coisa que se mova. Ignorando as complicações corporais de uma cirurgia como a cesárea, ainda temos as desvantagens psíquicas, como o aumento da probabilidade de desenvolvimento de psicose e depressão puerperal e redução drástica do sucesso da amamentação.

A mulher operada dificilmente dará o primeiro banho em seu filho e terá dificuldades ou talvez nem possa realizar outros primeiros cuidados com o bebê afrouxando o vinculo ainda mais. A mulher que se submete a cesárea (com ou sem necessidade), pode estabelecer uma relação tão boa ou melhor com o filho do que a que pare de fato. Mas ela não poderá recorrer aos mesmos fatores instintivos/hormonais comprovadamente só liberados após o parto vaginal.

A mulher cesareada acapa precisando lançar mão de outros recursos peculiares à especie humana como o desejo consciente da maternidade e a vontade de realizar outras atividades maternas, como a amamentação, por exemplo. Porque a ligação biológica já lhe terá sido furtada.

Pra que parir? Eu poderia responder que é mais seguro simplesmente. Entretanto, é para trazer nossos filhos ao mundo de uma forma menos violenta que deu certo por milhões de anos. Seria também romântico e religioso afirmar que foi a maneira pela qual Buda, Maomé e Jesus nasceram. Mas hoje em dia, quem se importa?

De qualquer forma parir é um dom divino. E como todos os dons divinos, não podemos deixar que tirem isso de nós. Principalmente quando não é por razões tão nobres.

Tantos leigos e profissionais nos chamam de radicais por darmos preferência ao parto normal. Nós e a ciência, os radicais. Mas estamos apenas sendo corretos. Não pedimos nada além do que é certo, seguro e ético. O contrario disso é que é errado. O parto não tem que doer, não tem que fazer sofrer, não tem que violentar. A luta é fazer o parto e o nascimento não se banalizarem. Fazê-los valerem a pena. Porque valem.

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